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7 fatos que marcaram o agro em 2024

O ano de 2024 marcou o agronegócio brasileiro de desafios e mudanças que devem ter reflexos nos próximos anos. Desde o clima, que afetou a produtividade de diversas commodities agrícolas e pecuárias, até os efeitos da inadimplência e as oscilações econômicas. Questões de protecionismo também fizeram parte dos assuntos envolvendo o setor. 

Confira sete fatos que marcaram o agro ao longo deste ano, de acordo com a consultoria Markestrat.

1 – Clima

Os extremos climáticos afetaram drasticamente as produções agrícolas em 2024. No Brasil, o excesso de chuvas causou enchentes históricas no Rio Grande do Sul, afetando lavouras de soja, arroz, além de outras produções, como hortifruti e pecuária. O impacto econômico estimado no agro gaúcho é de R$ 12,72 bilhões, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 

Por outro lado, a seca nas demais regiões produtoras levou à redução das estimativas para a safra de grãos 2023/24. De acordo com dados da Organização Meteorológica Mundial, a média global de temperaturas em 2024 superou os níveis registrados em 2023, impulsionada pelo efeito do El Niño.

Como consequência de uma menor produção em decorrência das perdas climáticas e diante de uma demanda aquecida, preços recordes foram registrados em diversas commodities. 

Conforme apontado pela Markestrat, no mercado de café, a irregularidade das chuvas no Brasil e a seca prolongada no Vietnã impulsionaram os preços a níveis históricos, tanto para o arábica quanto para o robusta. Cotações recordes também foram registradas no cacau. A produção na Costa do Marfim e em Gana, primeiro e segundo maiores produtores mundiais, respectivamente, foi severamente afetada pela falta de chuvas e pelo calor excessivo, agravando os efeitos da doença da podridão negra e reduzindo a oferta global. 

O trigo também enfrentou perdas significativas devido a geadas na Rússia, o que comprometeu a produção no leste europeu, embora os preços tenham se mantido abaixo dos picos observados no início do conflito na Ucrânia. “Apesar do clima, a cotação do cereal se encontra em patamares menores do que os observados no início da invasão russa à Ucrânia”, diz a consultoria. 

Na pecuária, a arroba do boi gordo foi influenciada pela redução na oferta de bezerros como consequência do grande volume do abate de fêmeas nos últimos dois anos. Somou-se ao quadro, as condições adversas para pastagem. Com isso, as cotações ensaiaram a retomada de valorização, superando os valores de anos anteriores e sinalizando uma mudança no ciclo de baixa da pecuária.  

A soja, principal cultura brasileira, teve queda de produtividade devido às altas temperaturas e à escassez de chuvas, resultando em menor oferta e flutuações expressivas nos preços ao longo do ano. O milho, impactado por problemas climáticos que reduziram a área plantada, também apresentou oscilações nos preços. “Por outro lado, 2024 confirmou um novo posicionamento do milho no setor brasileiro, como matéria-prima relevante na produção de biocombustíveis”, pontua a Markestrat em relatório. 

O algodão consolidou o Brasil como líder mundial em exportação, superando os Estados Unidos, mas a perspectiva de aumento na oferta para a próxima safra pressionou os preços. A cana-de-açúcar, por sua vez, enfrentou os efeitos do fogo na região Centro-Sul, o que influenciou seus subprodutos: enquanto o açúcar cristal registrou alta nos preços, o etanol teve uma maior estabilidade devido à política de preços da Petrobras.

Por fim, a laranja sentiu os impactos do greening, com quebra de safra no cinturão paulista, o que elevou as cotações da fruta e do suco concentrado. A busca por novas áreas de produção destacou o Mato Grosso do Sul como importante alternativa no setor. 

2 – Inadimplência no agro

Os campos brasileiros também registraram um aumento na inadimplência em 2024. A queda nas cotações de algumas commodities, como soja e milho, somada aos efeitos adversos do clima, resultou em um legado de renegociações de dívidas por parte de muitos empresários rurais e empresas do setor. Esse efeito cascata impactou diversos canais de distribuição — incluindo revendas e cooperativas —, responsáveis por intermediar os insumos entre a indústria e os produtores, levando, em alguns casos, a pedidos de Recuperação Judicial. Como consequência, houve uma reclassificação do risco de crédito no agronegócio brasileiro, além de uma redução na disponibilidade de soluções de crédito para o setor. Segundo a Markestrat, infelizmente, os impactos dessa situação devem ser sentidos com maior intensidade em 2025.

3 – Logística

A logística foi outra variável que contribuiu para a redução das margens no agronegócio brasileiro em 2024. No início do ano, a empresa dinamarquesa Maersk, maior operadora de navios porta-contêineres do mundo, foi diretamente impactada pelos conflitos no Mar Vermelho. Esses conflitos obrigaram os navios a desviarem suas rotas, aumentando os custos de transporte global. O frete de um contêiner de 40 pés na rota Ásia-Brasil, que em janeiro tinha um valor médio de US$ 2.490,00, disparou para US$ 6.773,00 em abril, quando as tensões intensificaram na região que permite acesso ao Canal de Suez, um dos mais estratégicos e movimentados do mundo. 

4 – Inflação, dólar e juros

No início de 2024, a maioria dos analistas e instituições de crédito tinham a expectativa de uma redução na taxa básica de juros brasileira, a Selic. No entanto, essa perspectiva foi gradualmente revisada ao longo dos meses seguintes, à medida que o cenário econômico piorava. A perda de credibilidade econômica do Brasil desencadeou um efeito cascata em vários níveis, afetando o valor da moeda nacional e alimentando a inflação, o que resultou na necessidade de revisar a Selic para cima.

Conforme a Markestrat detalhou em relatório, “a morosidade do governo federal em apresentar um plano efetivo e concreto de impor controle nos gastos públicos, impactou severamente a cotação do dólar em relação ao real”. O câmbio, que começou 2024 a R$ 4,85 no primeiro pregão do ano, disparou para R$ 6,26 em 18 de dezembro — maior valor de fechamento da história. O cenário forçou o Banco Central a vender cerca de US$ 8 bilhões das reservas cambiais em apenas cinco dias para tentar conter a volatilidade.

O Boletim Focus, que no dia 05 de janeiro de 2024, projetava uma inflação de 3,90%, dólar a R$ 5,00 e Selic de 9,00% no encerramento do ano, também revisou essas previsões: inflação de 4,84%, dólar a R$ 5,90 e Selic de 14,75%. 

5 – China

Os desafios estruturais enfrentados pela China, principal parceiro comercial do Brasil, foram reforçados ao longo do ano, com destaque para a queda na taxa de natalidade, o endividamento do setor público, a deflação interna, que resultou em uma redução no consumo, e o agravamento do risco de uma bolha imobiliária. Esse último ponto ganhou destaque com a falência da Evergrande, decretada pelo Tribunal de Hong Kong em 29 de janeiro de 2024. Esses fatores geraram reflexos significativos para o Brasil, principalmente em razão da volatilidade nos preços das commodities agrícolas e metálicas, produtos com forte dependência do mercado asiático.

Apesar das incertezas, em novembro, ambos países fortaleceram sua parceria. Em novembro, durante visita do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, foram firmados 37 acordos bilaterais. Entre os destaques estão as autorizações para exportação de farinha e óleo de peixe, além de outras proteínas e gorduras de pescado para a produção de ração animal. Também foram liberadas as exportações de sorgo, gergelim e uvas frescas, abrindo novas perspectivas de receita comercial para o agronegócio brasileiro.

6 – Protecionismo 

Quase que em um presságio, a Markestrat destacou em 03 de janeiro que, “o protecionismo econômico subirá mais um degrau, sendo interpretado como uma ‘ação de segurança’ por governos locais”. Essa previsão foi rapidamente confirmada pelos protestos de produtores franceses contra a aprovação do texto preliminar do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. A mobilização ganhou apoio de empresas privadas francesas, como Danone e Carrefour, que também possuem operações no Brasil.

As críticas, inicialmente focadas na soja brasileira, posteriormente se estenderam à carne bovina do país. Em resposta, entidades privadas brasileiras se organizaram, coordenando um boicote que resultou em pedidos formais de desculpas por parte das empresas envolvidas nas acusações. 

Vale ressaltar que o acordo que gerou os protestos em 2024 teve apenas seu texto aprovado. Ele ainda precisará ser ratificado pelo Parlamento Europeu e pelos países do Mercosul para entrar em vigor. “Dessa forma, o protecionismo de 2024, provavelmente, seguirá em intensidade para 2025”, ressalta o relatório.  

7 – Trump na presidência dos EUA  

Os Estados Unidos (EUA), a maior economia do mundo, elegeram o republicano Donald Trump como o novo presidente, com início do mandato previsto para janeiro de 2025. A Markestrat ressalta que, destaca-se uma revisão de postura que Trump pode adotar em relação ao seu primeiro mandato (2017-2021), marcado por intensos embates comerciais com a China. Segundo o próprio Trump, o novo ciclo terá como foco os países que buscam “desdolarizar a economia”. A fala foi em referência ao BRICS, bloco econômico de países emergentes e às recentes iniciativas dos países membros, entre eles o Brasil, para substituir o dólar em suas relações comerciais. Nesse contexto, o país pode ser diretamente impactado caso Trump amplie a estratégia de confronto, transferindo o embate de um único país (China) para um bloco econômico (BRICS).

Por outro lado, também merece atenção a provável adoção de uma política inflacionária pelos EUA no próximo ano. Durante 2024, os EUA enfrentaram inflação elevada para seus padrões internos, refletindo uma economia aquecida. Essa situação levou o Federal Reserve, equivalente ao Banco Central, a adotar cautela ao ajustar a taxa básica de juros. Com isso, a taxa de juros americana, que começou 2024 em 5,50%, foi reduzida para 4,50% em dezembro. “O resultado é a permanência de valorização do dólar para 2025”, dizem os especialistas da Markestrat.

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