Guerra psicológica contra a Amazônia Brasileira

Há pelo menos 30 anos, temos sofrido uma sofisticada operação de guerra psicológica, travada por agentes internacionais que utilizam a deslegitimação e desmoralização do Estado Brasileiro, através de instrumentos de manipulação, intimidação e controle. 

Em dezembro de 1991, foi realizada em Paris a conferência Raízes do Futuro. Com a participação de 800 delegações internacionais, seu objetivo era definir uma agenda estratégica de ação global das ONGs ambientalistas para a década de 90. Em seu discurso, François Mitterrand, então presidente francês, falou sobre o dever de ingerência da comunidade internacional na proteção do meio ambiente, sugerindo até mesmo a criação de um órgão supranacional para cuidar dessas questões. Para ele, a obrigação de não-ingerência entre os Estados termina quando nasce o risco da não-existência — daí a necessidade de repetir sempre que possível a mentira de que a Floresta Amazônica é o “pulmão do mundo” e essencial para a existência dos povos. Não só Mitterrand, mas outros líderes como Ronald Reagan, George Bush, Henry Kissinger, Al Gore, Margaret Thatcher, John Major, Mikhail Gorbachev e Felipe González também se pronunciaram a respeito da relativização da soberania na região amazônica entre o final dos anos 80 e início dos anos 90. 

Alguns meses após a mencionada conferência em Paris, foi organizada no Rio de Janeiro a ECO-92, uma conferência realizada pela ONU com a presença de chefes de estado que tinha por objetivo o debate dos problemas ambientais mundiais. Paralelamente, as ONGs fizeram um encontro que ficou conhecido como Fórum Global, esse evento paralelo teve como resultado a aprovação da Carta da Terra. A partir da ECO-92, inicia-se um processo de financiamentos milionários para ONGs e movimentos ambientalistas em todo o mundo. Hoje, cerca de 16 mil ONGs atuam legalmente em território amazônico. 

Desde 1991, extensas e riquíssimas terras são demarcadas como terras indígenas, minando a presença das autoridades nacionais em áreas estratégicas. O Estado foi substituído por Organizações Não Governamentais, foi trocada a política da integração pela política da segregação. Análises geoestratégicas são unânimes em apontar que uma região rica em recursos, mal integrada, com ausência de Estado, com vazio populacional e pouco desenvolvida é perfeita para gerar um vazio de poder e consequentemente a perda da soberania local. É o sonho de Mitterrand: ingerência da comunidade internacional na proteção do meio ambiente.

E quando o assunto é a perda da soberania regional amazônica, um personagem que se destaca é o ex-presidente Lula, responsável por dois episódios nebulosos durante o seu governo. Em 2007, o Brasil assinou a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, uma declaração da ONU que previa para esses povos o autogoverno, a autodeterminação, a criação de instituições políticas e jurídicas próprias, veto de atividades militares brasileiras e intervenção da ONU caso necessário. Teríamos 443 terras indígenas com potencial status de “nação” e influenciadas diretamente por mecanismos estrangeiros. Qualquer tratado de direitos humanos assinado pelo Brasil se torna norma constitucional caso seja aprovado pelo Congresso. Isso, felizmente, não aconteceu. Mas não para aí, porque, dentro do PNDH-3 (Plano Nacional de Direitos Humanos 3), apresentado pelo governo petista em 2009, além de questões escandalosas como a legalização do aborto e a proibição de símbolos religiosos em locais públicos, havia também uma parte que propunha “tornar constitucionais os instrumentos internacionais de direitos humanos ainda não ratificados pelo Congresso Nacional”, o que significaria tornar legais as execráveis propostas da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas. 

Lula defendeu dar para as tribos indígenas autogoverno, autodeterminação, a criação de instituições políticas e jurídicas próprias, veto de atividades militares brasileiras e intervenção da ONU caso necessário

Não menos absurda, a homologação da Reserva Raposa Terra do Sol entra para o rol dos maiores crimes contra a soberania nacional praticados pelo governo petista. Localizada na fronteira com a Venezuela, a área de 1,747 milhão de hectares é considerada estratégica pelo Exército, tanto por sua localização como pelas riquezas que nela existem. Segundo relatório feito na época pelo coronel Gelio Augusto Barbosa Fregapani, a região contém o maior veio de ouro do mundo, jazidas de diamantes, além de uma quantidade incalculável de minérios estratégicos de uso militar, tecnológico, espacial e nuclear. O relatório também aponta o interesse estrangeiro na demarcação e no despovoamento da região, citando 115 ONGs internacionais que operavam na região e combatiam a instalação de um Pelotão Especial de Fronteira, além de contribuição financeira para a demarcação. 

Uma das organizações destacadas pelo coronel Fregapani e pela ABIN foi o WWF (Fundo Mundial para a Natureza), encabeçado pelo príncipe Charles, do Reino Unido, e que estaria trabalhando na criação de corredores ecológicos para dificultar e inibir políticas públicas na região. Coincidência ou não, o mesmo príncipe Charles visitou o Brasil e se encontrou com o então presidente Lula meses após criação do relatório, alguns dias antes da votação final pelo Supremo Tribunal Federal sobre a demarcação da Raposa Terra do Sol. O mesmo modus operandi também foi adotado pelo príncipe em 1991, quando ele efetuou uma visita ao Brasil a bordo de um iate ancorado no Rio Amazonas. Na ocasião, ele promoveu seminários sobre ecologia com as participações de David Triper (ministro de Meio Ambiente da Inglaterra), William Reilly (coordenador do Meio Ambiente da Comunidade Europeia), Robert Horton (presidente da British Petroleum) e do então presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello. Meses mais tarde, Collor demarca a enorme terra indígena Yanomami após ser “descoberta” pela ONG Survival International, braço da WWF. 

2022

Muitos anos se passaram desde os episódios narrados anteriormente, mas a operação internacional contra o Brasil permanece, agora com mais força e com um velho conhecido: o ex-presidente Lula. 

No final de junho de 2022, poucos meses antes das eleições presidenciais brasileiras, é publicada uma interessante matéria na Reuters com o ministro do Clima e Meio Ambiente da Noruega, Espen Barth Eide, que declarou para a publicação que a Noruega está pronta para retomar os pagamentos ao Brasil pela prevenção do desmatamento na Amazônia desde que haja mudança de governo nas eleições de outubro. “Se isso for como as pesquisas mostram, e houver uma mudança (de governo) no Brasil, temos grandes esperanças de que possamos retomar rapidamente uma parceria boa e ativa”, disse o ministro do país nórdico. “O que eles disseram, do lado da oposição, foi muito positivo”.

Quem acompanha o cenário não fica surpreso com as declarações absurdas do ministro norueguês. Desde 2019, temos acompanhado de forma rotineira alguns episódios como este. Alguns exemplos citarei abaixo:

  • Em 2019, Stephen Walt, professor de relações internacionais da Kennedy School of Government de Harvard, escreveu para a revista Foreign Policy um ensaio intitulado “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?”. Nele, Walt elabora um cenário considerado por ele mesmo como absurdo, em que um hipotético presidente dos Estados Unidos “ordenaria um bloqueio naval dos portos brasileiros e ataques aéreos contra a infraestrutura brasileira” por causa dos “efeitos catastróficos globais da destruição contínua da floresta tropical”. O professor insiste em dizer que considera essas ideias absurdas, mas deixa escapar aquele que é o pensamento dos países ricos: “Ao contrário de Belize ou Burundi, o que o Brasil faz pode ter um grande impacto. Mas o Brasil não é uma verdadeira grande potência, e ameaçá-lo com sanções econômicas ou mesmo com o uso da força se ele se recusar a proteger a floresta tropical pode ser viável. Para ser claro: não estou recomendando este curso de ação agora ou no futuro. Estou apenas apontando que o Brasil pode ser um pouco mais vulnerável à pressão do que alguns outros estados”;
  • Uma semana depois da publicação na Foreign Policy, o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que a Amazônia é “bem comum” e pediu uma “mobilização de potências” contra o desmatamento. Também destacou que “Associações, ONGs e também certos atores jurídicos internacionais levantaram a questão de saber se é possível definir um status internacional da Amazônia. Não é o caso de nossa iniciativa, hoje, mas é um verdadeiro caso que se coloca se um Estado soberano tomasse de maneira clara e concreta medidas que se opõem ao interesse de todo o planeta. Há todo um trabalho jurídico e político a ser feito”;
  • Ainda em 2019, antes da saída do Reino Unido da União Europeia, “grupos indígenas” pediram que a UE imponha sanções comerciais ao Brasil para interromper o desmatamento. A petição recebeu 123.309 assinaturas e foi para discussão no parlamento britânico, mas felizmente foi rejeitada; durante as discussões, segundo um parlamentar inglês, o Greenpeace pediu que “todas as negociações comerciais com o Brasil sejam suspensas até que o governo Bolsonaro mude de rumo e garanta as proteções necessárias”;
  • James Stavridis, oficial naval americano aposentado, atualmente é vice-presidente de Assuntos Globais e diretor administrativo do The Carlyle Group, uma empresa global de investimentos e 12º presidente do conselho da Fundação Rockefeller. Foi líder da OTAN nas operações globais de 2009 a 2013, Comandante do Comando Sul dos EUA e responsável por todas as operações militares na América Latina de 2006 a 2009. Em 2019, ele escreveu um artigo intitulado “Floresta em chamas ameaça a segurança dos Estados Unidos”, onde, segundo ele, o desmatamento ocorrido no Brasil causando desequilíbrios ambientais globais seria o responsável pelo aumento do nível do mar e consequentemente a destruição de instalações navais estratégicas para os Estados Unidos (sim, o segundo maior emissor de megatoneladas de dióxido de carbono do Mundo culpa o Brasil, que não entra no top 10). O artigo termina com um alerta ameaçador: “Os americanos precisam entender como essas nuvens crescentes de fumaça sobre a Amazônia são uma ameaça direta à nossa segurança nacional”;
  • Podemos também destacar as falas do presidente Joe Biden na campanha de 2020 sobre sanções por causa do desmatamento, o banco francês BNP Paribas cancelando financiamento para empresas ligadas ao agronegócio brasileiro, as falas dúbias de Angela Merkel, a Irlanda abrindo pauta sobre a relativização da soberania brasileira na Amazônia na ONU, etc. Mas já ficou nítida a má intenção global com o Brasil e falar mais ficaria exaustivo. 

Agora voltemos ao assunto Lula. Quais as intenções dele para a questão amazônica e por que ele é tão apoiado internacionalmente? 

Em novembro de 2021, Lula fez um tour por quatro países europeus, discursou no Parlamento Europeu, se encontrou com Emmanuel Macron (aquele que pediu status internacional da Amazônia), falou sobre meio ambiente e pediu uma nova governança global. O ex-presidente brasileiro declarou de forma cínica que “na questão da Amazônia, a gente tem que deixar claro que a Amazônia é um território brasileiro, portanto o Brasil é soberano. Agora, a riqueza da biodiversidade tem que ser compartilhada com o mundo” (sim, o autor do PNDH-3 e signatário da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas quer falar sobre soberania brasileira na região). 

Em 2022, ano das eleições, o tom sobe e aquilo que era uma simpatia e preferência por Lula vira campanha. Uma excelente matéria investigativa [1] do jornalista David Ágape para a Gazeta do Povo mostra as conexões obscuras entre artistas de Hollywood e campanhas que incentivaram o voto de adolescentes. Campanhas coordenadas pela empresa de marketing Quid, que dentro do seu quadro de sócios tem “Pedro Telles, co-fundador da Bancada Ativista, movimento ligado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) dedicado a eleger ativistas de esquerda para o legislativo em São Paulo”, além de “pessoas que trabalham na assessoria de campanha eleitoral de Fernando Haddad (PT) e da própria Bancada Ativista do PSOL”. Outro nome envolvido é o de Clarissa Beretz, que é funcionária do “Instituto Internacional de Educação do Brasil (IIEB), ONG ambientalista que gerencia o Fundo Amazônia. O fundo foi criado em 2008 para captação de recursos bilionários, que vêm dos governos noruegueses e principalmente alemães, para a preservação da Amazônia. O fundo de quase R$ 3 bilhões, se encontra hoje pelo governo Bolsonaro após este reformular a gestão dos recursos e estabelecer novos critérios para sua aplicação”

Outras empresas que organizaram campanhas semelhantes foram a NOSSAS e a Girl Up. A primeira, segundo a reportagem, “é financiada por grupos bilionários” como a “Open Society, OAK Foundation, Skoll Foundation, Tinker Foundation, Malala Fund, Instituto Avon e entre outros”. Já a Girl Up “foi criada pela United Nations Foundation (UN), uma organização internacional baseada nos Estados Unidos, parceira estratégica da ONU”, além de financiamentos do governo americano e do fundações globalistas. 

Acabou? Não. Existem ainda mais elementos que apontam uma total subserviência da campanha petista aos interesses internacionais. 

Guilherme Boulos, um dos líderes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), postou no Twitter a seguinte mensagem comemorando a aliança firmada com o PT para as eleições: “Entre os pontos está (…) uma Agenda Ambiental ousada, com transição energética e desmatamento zero; e criação de mecanismos de democracia direta e participativa. Vamos juntos: derrotar Bolsonaro e reconstruir o Brasil!”[2] 

Após Lula discursar sobre “evitar o plantio de coisas desnecessárias”, aparecem na grande imprensa duas manchetes interessantes: uma sobre Lula incorporar conceito americano do “Green New Deal” de Bernie Sanders a programa de governo, e outra, com o Comissário do Meio Ambiente da União Europeia explicando um mês antes que o Brasil é crucial para o “Green Deal”, tudo em nome de um falso “desenvolvimento sustentável” que em outras palavras significa o assassinato do agronegócio brasileiro. 

Para finalizar, gostaria de atentar para um detalhe pouquíssimo percebido: na recente polêmica envolvendo o presidente Jair Bolsonaro, a Amazônia e o ator Mark Ruffalo, poucas pessoas perceberam que o ator americano havia repostado uma publicação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), organização também apoiada por Leonardo DiCaprio em 2020. Mas o que faz a Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros? A APIB é um movimento indigenista e ambientalista que tem entre os seus objetivos a “aplicação da Declaração da ONU sobre os direitos dos Povos Indígenas, que garantem o direito à consulta livre, prévia e informada sobre quaisquer assuntos que nos afetem”, [3] ou seja, perda da soberania brasileira sobre quase 20% do território nacional. Sabem quem faz parte da Coordenação Executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)? Sônia Guajajara, a vice de Guilherme Boulos na campanha eleitoral de 2018 e ativista que recentemente se encontrou com o Enviado Presidencial Especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, e pediu para ele “proteger a Floresta Amazônica e os direitos indígenas”[4]

Sônia Guajajara, que pede intervenção dos Estados Unidos, com o estrangeiro Leonardo DiCaprio

Lula e Sônia Guajajara se encontram em abril no Acampamento Terra Livre. O ex-presidente prometeu a criação de um ministério indígena e lideranças pediram que ele se comprometesse em dar andamento aos mais de 400 processos de demarcação de terras indígenas que estão parados na Fundação Nacional do Índio (Funai).

Tudo isso me faz lembrar de uma conferência organizada no final dos anos 90 pelo general americano Patrick Hughes, chefe da Agência de Informação de Defesa das Forças Armadas dos Estados Unidos. Na ocasião, ele disse que não toleraria agressões ecológicas que pudessem prejudicar o meio ambiente em seu país, que a utilização da Amazônia para a implementação de agro-indústrias, projetos agrícolas, hidrelétricas e qualquer outro projeto de desenvolvimento regional receberia uma resposta e os Estados Unidos estariam prontos “para interromper esse processo imediatamente”. 

Que possamos ficar sempre atentos aos inimigos e aos perigos que ameaçam o nosso país, que são muitos, internos e externos. Todos nós passamos. O Brasil fica. Todos nós desaparecemos. O Brasil fica. O Brasil é eterno.

Referências

[1]  https://www-gazetadopovo-com-br.cdn.ampproject.org/c/s/www.gazetadopovo.com.br/ideias/hulk-luke-skywalker-dicaprio-quem-esta-por-tras-da-campanha-para-jovens-tirarem-titulo-de-eleitor/amp/?usqp=mq331AQKKAFQArABIIACAw%3D%3D 

[2] https://twitter.com/GuilhermeBoulos/status/1519012930280435713?t=3gdjXCbccXuYo8xdZjsVZw&s=19

[3] https://apiboficial.org/sobre/ 

[4] https://twitter.com/GuajajaraSonia/status/1534294045010296832?t=jGoesc-GdcwPsrJs1CYsCA&s=19

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