As investigações da Polícia Federal (PF) revelam que o empresário e lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, atuava como controlador oculto da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e da Aquicultura (CBPA), entidade suspeita de promover descontos irregulares em benefícios de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Segundo informações do jornal Estadão, a confederação teria sido usada como instrumento para desviar recursos previdenciários, em um esquema que movimentou R$ 99 milhões a partir de descontos não autorizados em folhas de pagamento. As conclusões constam da quinta fase da Operação Sem Desconto.ta
A Oeste procurou a defesa do empresário para comentar a investigação. Até a publicação da reportagem, não obteve retorno. O espaço segue aberto para futuras manifestações.
Controle de fachada
Os investigadores apontam que, embora não figurasse formalmente na direção da CBPA, o “Careca do INSS” exercia domínio efetivo sobre as decisões da entidade, ao lado de Gabriel Negreiros e Tiago Schettini, apontados como sócios de fato do esquema.
“As evidências reunidas na investigação demonstram, de forma clara e consistente, que Gabriel Negreiros, Antônio Camilo e Tiago Schettini atuam como donos de fato da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA)”, afirmou a Polícia Federal em relatório oficial.
De acordo com a apuração, parte significativa dos valores arrecadados com os descontos ilegais foi repassada a empresas ligadas ao lobista, estratégia usada para pulverizar recursos e dificultar o rastreamento do dinheiro desviado dos aposentados.
A PF também destacou um crescimento acelerado e incompatível da CBPA a partir de 2023 — período que coincide com a ampliação dos descontos automáticos em benefícios previdenciários.
As defesas de Negreiros e Schettini não foram localizadas. Ambos tiveram mandados de prisão expedidos na fase mais recente da operação.
Operação Sem Desconto
A nova etapa da Operação Sem Desconto foi autorizada pelo ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), e resultou no cumprimento de 16 mandados de prisão preventiva e 52 de busca e apreensão em sete Estados:
- Distrito Federal;
- São Paulo;
- Paraíba;
- Rio Grande do Norte;
- Pernambuco;
- Minas Gerais; e
- Maranhão.
A investigação apura crimes como organização criminosa, estelionato previdenciário, inserção de dados falsos em sistemas públicos e dilapidação patrimonial, todos relacionados à atuação de associações que descontavam mensalidades sem autorização dos beneficiários do INSS.
O “Careca do INSS”
Figura recorrente nas apurações sobre as fraudes em aposentadorias, o “Careca do INSS” já havia sido citado ao longo do ano como operador central do esquema, atuando por meio de entidades de fachada e empresas interpostas.
Convocado a prestar esclarecimentos, o lobista esteve na CPMI do INSS, onde evitou responder a parte das perguntas, amparado por estratégias jurídicas e pela fragmentação das operações financeiras.
Com o avanço das investigações e o cruzamento de dados bancários, a Polícia Federal passou a tratá-lo como eixo estruturante da organização criminosa, responsável por conectar associações, operadores financeiros e beneficiários diretos dos desvios.
A nova fase da Operação Sem Desconto marca a virada do caso: o empresário deixou a condição de suspeito periférico e passou a ser formalmente apontado como líder oculto do esquema, culminando na decretação de sua prisão e de outros investigados.





