Se houvesse uma única frase para definir a Retrospectiva da Pecuária 2025, seria: o ano da adaptação extrema. Consolidado como um divisor de águas histórico, 2025 foi o palco de uma convergência rara entre ciclos biológicos, redefinições sanitárias globais e uma volatilidade política sem precedentes.
Para o produtor brasileiro, o ano marcou o fim da “fase de baixa” e o início de uma valorização agressiva, impulsionada não apenas pelo mercado interno, mas por um vácuo de oferta deixado pelos Estados Unidos. Abaixo, analisamos os pilares que sustentaram este ano histórico.
O colapso da oferta nos EUA e a Retrospectiva da Pecuária 2025
Para entender o preço do boi em Goiás ou Mato Grosso, foi preciso olhar para o Texas. Um dos pontos centrais desta Retrospectiva da Pecuária 2025 foi a crise de oferta norte-americana. Castigado por secas sucessivas, o rebanho dos EUA encolheu para 86,6 milhões de cabeças, o nível mais baixo desde 1951, segundo dados do USDA. Essa escassez gerou um efeito dominó:
- Fome de “Lean Beef”: Sem vacas para abater internamente, a indústria de hambúrgueres dos EUA precisou importar carne magra desesperadamente.
- O “Tarifaço” que não pegou: Mesmo com a cota de isenção estourada em janeiro e tarifas base de 26,4%, o Brasil triplicou suas exportações para os EUA no primeiro trimestre. A carne brasileira continuou competitiva frente aos custos proibitivos do gado americano.
O “Outubro de Ouro”: 357 mil toneladas
Enquanto o mercado esperava uma estabilidade, os dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), compilados pela Abiec, trouxeram o choque de realidade: o Brasil exportou 357 mil toneladas de carne bovina apenas em outubro de 2025. Esse volume representa o maior embarque mensal da história desde o início da série em 1997, superando em 18,7% o mesmo período do ano anterior. O motivo? Uma “tempestade perfeita” positiva:
- China Voraz: Mesmo com a economia desacelerando, a China aproveitou o dólar favorável para estocar proteína antes do Ano Novo Lunar.
- EUA e México: A seca contínua no rebanho norte-americano forçou os EUA a importarem volumes recordes de carne magra brasileira para processamento (hambúrguer), consolidando o Brasil como parceiro estratégico na segurança alimentar da América do Norte.
A Vitória Diplomática: O adiamento da EUDR
Talvez a notícia mais celebrada nos corredores das indústrias frigoríficas nesta Retrospectiva da Pecuária 2025 tenha sido o recuo de Bruxelas. Prevista para entrar em vigor total em dezembro deste ano, a EUDR (Lei Antidesmatamento da União Europeia) foi postergada. A pressão conjunta do governo brasileiro, liderada pelo Itamaraty e entidades do agro durante as prévias da COP 30, surtiu efeito. O bloco europeu reconheceu a inviabilidade técnica de implementar a rastreabilidade total para pequenos produtores no prazo original. Isso garantiu ao pecuarista brasileiro mais um ano de fôlego para adequar suas certidões de nascimento de bezerros e sistemas de monitoramento indireto.
COP 30 em Belém
Realizada em novembro no coração da Amazônia, a COP 30 colocou a pecuária nacional sob holofotes inéditos. Ao contrário das edições anteriores, onde o setor era apenas “réu”, em 2025 o Brasil apresentou o Boi de Baixo Carbono não como projeto, mas como commodity de escala. O destaque foi a assinatura de novos protocolos sanitários, incluindo a abertura para carne termoprocessada com a China e novos acordos para miúdos com o Sudeste Asiático, firmados nos bastidores do evento climático. O setor provou que intensificação (mais arrobas por hectare) é a melhor ferramenta de preservação.
Brasil Livre de Aftosa sem vacinação
O fato mais importante do ano ocorreu longe dos pastos, em Paris. Em 29 de maio de 2025, durante a 92ª Sessão Geral da OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal), o Brasil recebeu o reconhecimento oficial de país livre de febre aftosa sem vacinação. Este certificado foi o “Santo Graal” perseguido por décadas. Na prática, ele retirou a última barreira técnica que impedia o Brasil de negociar com os mercados mais exigentes (e que pagam melhor) do mundo, como Japão e Coreia do Sul. As missões comerciais realizadas em novembro com autoridades japonesas já são reflexo direto dessa conquista de maio.

A Virada do Ciclo e o Bezerro de R$ 3.000
A “limpeza” de fêmeas acabou. Em 2025, o produtor sentiu na pele a lei da oferta e demanda. Com a retenção de matrizes voltando com força para aproveitar a alta do boi gordo — que rompeu a barreira dos R$ 330,00/@ em São Paulo no início de dezembro —, faltou bezerro no mercado. O resultado foi a disparada da reposição. O bezerro, que amargou preços baixos nos últimos anos, voltou a ser negociado acima de R$ 3.000,00 em praças como Mato Grosso do Sul, confirmando a inversão total do ciclo pecuário. Quem tem gado no pasto hoje, tem ouro.
Tecnologia: A resposta para o clima e custos
O clima severo em 2025, com secas prolongadas no Centro-Oeste, forçou a tecnificação. A Retrospectiva da Pecuária 2025 mostra que quem não intensificou, perdeu margem.
- Confinamento: Tornou-se obrigatório para garantir o padrão “Boi China” (até 30 meses).
- Genética: O investimento no setor cresceu 12%, com foco total em eficiência alimentar e precocidade.
- Inovação: AgTechs brasileiras, como a Sempre AgTech, ganharam destaque global com soluções de biotecnologia e RNAi para blindar a produtividade.
O que o futuro reserva?
Ao encerrar 2025, o Brasil se posiciona não mais como uma promessa, mas como a superpotência indispensável da proteína vermelha. Com a receita cambial de carnes superando US$ 25 bilhões, as perspectivas para 2026 são de preços sustentados, custos de reposição altos e a provável abertura definitiva dos mercados japonês e sul-coreano. O ciclo de alta está apenas começando.



