A China vai impor, a partir desta quinta-feira, 01, um sistema de cotas tarifárias por país para a importação de carne bovina. A medida, que valerá até o fim de 2028, atinge diretamente o Brasil, principal fornecedor do produto ao mercado chinês. Na outra ponta, os chineses são responsáveis por mais da metade das exportações brasileiras do setor.
No ano passado, a China respondeu por 51,3% da carne bovina exportada pelo Brasil. No acumulado de 2025, essa participação subiu para 53,9%, considerando carnes fresca, refrigerada e congelada.
Brasil terá cota de 1,1 milhão de toneladas por ano
Entre janeiro e novembro deste ano, o Brasil exportou 3,15 milhões de toneladas de carne bovina, das quais 1,52 milhão de toneladas tiveram como destino o mercado chinês.
Pelas regras anunciadas pelo Ministério do Comércio da China (MOFCOM), cada país exportador terá um limite anual de embarques com manutenção das tarifas atuais. Os volumes que excederem a cota estarão sujeitos a uma tarifa adicional de 55%, aplicada sobre as alíquotas já em vigor.
Conforme apuração do Agro Estadão, as cotas definidas para os principais países exportadores são:
Brasil: 1,1 milhão de toneladas
Argentina: 510 mil toneladas
Uruguai: 320 mil toneladas
Austrália: 200 mil toneladas
Nova Zelândia: 200 mil toneladas
Estados Unidos: 160 mil toneladas
Segundo o governo chinês, a cobrança da tarifa extra passará a valer a partir do terceiro dia após o país exportador atingir sua cota anual. Além disso, volumes não utilizados não poderão ser transferidos para o ano seguinte.
Dependência do mercado chinês amplia impacto sobre o Brasil
O Brasil chega à implementação das cotas tarifárias com elevada concentração das exportações na China. Com a cota anual fixada em 1,1 milhão de toneladas, o volume permitido fica abaixo do patamar atualmente exportado, o que deve exigir ajustes por parte do setor.
Para o analista de Safras&Mercado, Fernando Iglesias, ainda é cedo para determinar todos os efeitos da decisão chinesa, mas o impacto tende a ser relevante. Iglesias aponta que o novo limite representa cerca de 600 mil toneladas a menos em relação ao volume exportado em 2025. “A China é um player que representa aproximadamente metade das exportações brasileiras de carne bovina. Isso deve provocar um rearranjo de todo o setor”, disse ao Agro Estadão.
Entre os possíveis efeitos, Iglesias cita o desestímulo ao confinamento, aumento da oferta no mercado interno e uma reacomodação dos preços no início de 2026.
Busca por novos mercados e efeitos sobre os preços
O analista avalia que o Brasil seguirá competitivo em outros destinos, como União Europeia e Estados Unidos, mas destaca que o cenário tende a ser mais desafiador no curto prazo. “Não será um ambiente fácil. A expectativa é de um começo de ano turbulento para o mercado global”, diz.
Com exportações menores para a China, a tendência é de maior oferta no mercado interno, o que pode resultar em preços mais baixos ao consumidor no primeiro momento, enquanto o setor busca ampliar a presença em outros mercados.





