Setor de máquinas agrícolas projeta uma diminuição de 10% no faturamento este ano apoiado na quebra da safra de soja, mas mitigado por outras culturas, como cana-de-açúcar.
Faturamento de indústrias de máquinas agrícola deve voltar a cair em 2024. De acordo com dados da Abimaq, Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, houve uma diminuição de 21,9% em 2023 no faturamento com a venda de máquinas e implementos agrícolas. Por outro lado, a expectativa de nova queda em 2024, de 10%, não era esperada. O fator ocorre por conta da crise nas áreas de produção de soja e milho no Brasil, que ocasiona redução nos investimentos no maquinário.
A queda em 2023 é associação ao forte desempenho nos últimos três anos, quando o faturamento subiu 70%. Em 2023, impactaram negativamente nos investimentos do setor, as elevadas taxas de juros praticadas no mercado e a redução das atividades produtivas em diversos setores da economia que inibiram investimentos em máquinas e equipamentos. A linha de crédito do Moderfrota ficou taxação de 14,5%.
A perspectiva é de que 2024 teria números semelhantes a 2023, segundo o presidente da CSMIA, mas com o El Niño e os desafios gerados na safra de soja brasileira, ele prevê que o setor de máquinas agrícolas deve amargar uma queda de 10% este ano, pelo menos, 10%, em função da safra de soja. “Isso faz com que o produtor coloque o pé no freio nas aquisições”, disse Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Abimaq.
“Oficialmente, estamos falando em uma queda de 10% em relação ao ano passado. Isso fica na condicional de várias coisas, como, por exemplo, como vai se comportar a segunda safra de milho, que se for boa, deve ajudar a mitigar os impactos, e se o plano safra vier bom, deve ajudar. Então os 10% devem vir em um cenário otimista, lembrando que no ano passado caiu 21,9%. Os preços das commodities, entendemos que não deve cair muito mais, mas isso depende da safra norte-americana, do clima de uma forma geral. Este problema que estamos passando é algo conjuntural, quebra de safra, preços menores”, afirmou Bastos.
Ele pontua que maquinários e implementos voltados para as culturas de representam 60% do mercado Brasileiro e, em seguida, vem a cana-de-açúcar.
A fábrica da John Deere em Horizontina, no noroeste do Rio Grande do Sul, deve ter as atividades paralisadas por 60 dias. Jorge Luís Ramos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos local, informou ao GZH que a empresa está em processo de negociação para implementar um lay off, que envolveria a suspensão temporária dos contratos de trabalho dos funcionários durante esse intervalo. Ele afirmou que as negociações estão avançadas e que o acordo poderia evitar a demissão de cerca de 300 trabalhadores, considerando que a unidade atualmente emprega 1,7 mil pessoas.
A empresa anunciou recentemente que prevê o lucro da empresa cair pelo menos 20% este ano. Para a divisão agrícola (produção e agricultura de precisão), a John Deere estima uma queda de 20% na receita em 2024, com a margem operacional ficando entre 21,5% e 22,5%, abaixo de 26% no ano passado. O segmento representa cerca de 40% das vendas consolidadas da empresa, que também tem forte presença no setor de construção.
“O principal mercado (para máquinas e implementos agrícolas) são as culturas de soja e milho. O pessoal deixou de comprar os maquinários específicos para estas culturas, diferente da cana-de-açúcar, por exemplo, que está entre as três maiores culturas que demandam implementos e que foi bem no ano passado”, afirmou Pedro.
Para o Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, os preços das máquinas estão muito ligados com preço da soja, para além de juros. “A soja já vinha em uma queda forte, segue caindo e estimamos que 2024 que deve ter uma queda no setor, igual a do ano passado percentualmente. O primeiro semestre está sendo marcado por uma baixíssima intenção de compra. São queda de preço e de safra, são duas coisas que desestimulam o produtor”, afirma.
Cogo detalha que, olhando para setores que não sejam o de grãos, nos últimos anos tem havido demanda de colhedora e de tratores específicos para a cultura da cana-se-açúcar. “A parte da cana-de açúcar e de citros voltou a ter margem há praticamente três temporadas, assim como o café. Somados, estes fatores ajudam a mitigar a queda no setor de máquinas agrícolas como um todo, especialmente o de cana, mas isoladamente, não representam muito”, explica Cogo.
O faturamento líquido total do setor de máquinas e equipamentos brasileiro caiu 13,3% em janeiro de 2024, na comparação com dezembro de 2023, aponta a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Na comparação com janeiro do ano passado, o faturamento líquido total da indústria caiu 21,7%.
O consumo aparente de máquinas e equipamentos fabricados no Brasil caiu 7,1% em janeiro, na comparação com dezembro. Na comparação com janeiro do ano passado, o consumo aparente de máquinas e equipamentos recuou 17,7%.