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Café: clima afeta lavouras e estimativa de produção é cortada por consultoria

A estimativa da produção brasileira de café sofreu um corte de 1,7% pela Consultoria Stonex e deve alcançar 65,9 milhões de sacas. O relatório anterior indicava 67 milhões de sacas. Apesar da redução, a consultoria continua apontando para uma produção 2,5% maior em relação  à safra passada.

Os números estão acima do volume projetado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), de 58,8 milhões de sacas, mas inferior ao estimado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de 69,9 milhões de sacas. Entre a maior e a menor estimativa para esta safra, a diferença chega a 16 milhões de sacas, discrepância menor que a observada em 2023 de 22 milhões de sacas.

Para o resultado deste levantamento, divulgado na última sexta-feira, 2, a consultoria informa que foram percorridos mais de oito mil quilômetros na principais regiões produtoras de café no sul da Bahia, norte e sul do Espírito Santo, Matas de Minas, sul de Minas, Cerrado Mineiro e Mogiana (SP). 

De acordo com a Stonex, a redução ocorre devido a efeitos climáticos, principalmente sobre a produção do café robusta, estimada em 21,2 milhões de sacas. O volume é menor que a estimativa passada (-6,8%) e à temporada anterior (-1,6% ). 

Entretanto, a queda não foi pior devido ao incremento na produção do café arábica, que passou de 44,3 milhões para 44,7 milhões de sacas. Se a projeção for confirmada, representará um crescimento de 4,6% sobre a safra anterior.

Sul de Minas Gerais

O levantamento indica uma grande divergência dentro da maior região produtora do arábica, sul de Minas Gerais, composta por muitos municípios.

“Algumas áreas na região tiveram um resultado positivo, inclusive com produção acima do esperado, enquanto outras áreas foram mais impactadas pelo clima”, informa a consultoria. No entanto, há uma ressalva: a melhora da produção no café em algumas áreas elevou a estimativa para a região em 400 mil sacas, resultando em uma produção estimada em 16,6 milhões de sacas – 7,3% superior ao obtido em 2023.

Apesar do incremento, a Stonex diz que a qualidade da safra foi afetada pelo clima,  comprometendo a qualidade dos grãos (tamanho de peneira). De acordo com o levantamento, mais de 74% da região já teve sua produção colhida até o fim do mês de julho.

Cerrado e Mogiana

Das áreas produtoras de café arábica, as regiões do Cerrado Mineiro (MG) e da Mogiana (SP) foram as mais impactadas pelas ondas de calor e pelo clima adverso no final de 2023. 

Na comparação com a estimativa passada, no entanto, não houve ajustes para essas regiões neste levantamento, “pois o cenário foi captado pela equipe durante os levantamentos realizados em janeiro deste ano”. 

De acordo com a Stonex, até o final do mês de julho, mais de 70% da safra nessas regiões já haviam sido colhidas, ficando claro o problema com a produtividade na região, principalmente no Cerrado, que deve ter uma  queda de mais de 27% ante a safra passada, com produção estimada de 5,4 milhões de sacas.

O cenário foi similar em parte da Mogiana, mas a melhor produção em outras regiões de São Paulo contribuiu para o avanço de 3,9% na produção do estado para 6,3 milhões de sacas. 

Norte do Espírito Santo

Na região norte do Espírito Santo, principal produtor do café conilon, as lavouras foram impactadas pelas condições desfavoráveis ao desenvolvimento dos grãos nos meses de setembro, outubro e novembro de 2023.

O resultado foram grãos miúdos e um rendimento médio abaixo do normal. Por isso, a consultoria reduziu a estimativa para a safra 2024/25, praticamente encerrada na região, para 14,9 milhões de sacas. O recuo é de 8%, ou 1,25 milhões de sacas em relação à projeção anterior e uma queda de 1,5% com relação à temporada 2023/24. 

Produção de café na safra 2025/2026: La Niña pode beneficiar lavouras, mas não afasta receio do setor
A Stonex também estima que a próxima safra de café (2025/2026) deve sofrer os efeitos das condições climáticas que ocorreram neste ano. “Durante o El Niño de 2023/2024, foram registradas temperaturas acima da média e ondas de calor, criando condições adversas para o desenvolvimento dos cafezais. A presença de uma massa de ar quente, um evento climático extremo devido ao aquecimento global, que afetou o centro e sudeste do Brasil, intensificou esses efeitos, resultando em recordes de temperatura e estresse nas plantas”, analisa a Stonex. 

A situação pode amenizar a partir de outubro, com a possível condição do efeito La Niña, de baixa intensidade e curta duração, o que pode favorecer a cafeicultura brasileira. Este cenário climático é corroborado pelo meteorologista da Rural Clima, Marco Antônio dos Santos. 

Em um evento promovido pela Cooperativa Regional de Cafeicultores (Cooxupé), em Guaxupé, Minas Gerais, na última semana, o especialista disse que a previsão é de chuvas entre o final do mês de setembro e a primeira quinzena de outubro, desencadeando uma possível florada com bom pegamento e uniformidade. 

“A expectativa é que o pico da La Ninã ocorra em janeiro de 2025 e possibilite um ano menos difícil para a cafeicultura”, segundo o especialista em clima.

Entretanto, José Donizeti Alves, engenheiro agrônomo e docente em Fisiologia Vegetal na Universidade Federal de Lavras (UFLA), ressaltou que, embora as previsões de chuva se concretizem, as lavouras estão sob constante pressão e não apresentam mais o padrão de bienalidade.

A declaração também ocorreu durante o encontro em Minas. Segundo o professor, o estresse térmico foi o fator que mais impactou a produção de café nesta safra, tanto em lavouras irrigadas quanto em sequeiros, por isso a necessidade de se precaver.

“A tendência é de chuvas mais regulares se mantendo ao longo de toda safra e de veranicos intermitentes não tão prolongados, conforme apontou o Marco Antônio, mas o problema é se eles ocorrerem com calor intenso. O meu temor é ter estresse térmico novamente, por isso é preciso prevenção. Hoje o calendário é fenológico e o clima é soberano”, concluiu Alves.

As informações de campo coletadas pela consultoria StoneX em junho e julho deste ano destacam que a produção cafeeira, como um todo, apresenta um crescimento e desenvolvimento vegetativo adequados para a safra 2025/2026. Entretanto, o inverno brasileiro, extremamente seco e com temperaturas máximas acima do normal, já tem ocasionado um saldo negativo durante um período – diz a consultoria – reduzindo significativamente a capacidade de água disponível no solo, refletindo atualmente nos cafezais com sinais iniciais de murcha e desfolhamento, especialmente nas regiões mais quentes.

Por fim, o relatório afirma que “a perspectiva é de que as chuvas retornem de forma regular nos próximos meses, devido a transição de El Niño para Neutro, atuando de forma positiva para a abertura das floradas e os estágios iniciais de desenvolvimento da safra 2025/26. No entanto, devido às incertezas ligadas às mudanças climáticas, caso o regime chuvoso seja desuniforme, isso poderia impactar negativamente a florada no Brasil. Caso as próximas etapas ocorram de forma adequada, isso poderia alimentar um sentimento de otimismo no mercado e atuar de forma negativa para as cotações.” 

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