Flaviano Melo: o velho lobo e o legado de uma vida dedicada ao Acre

O Acre perdeu nesta quarta-feira, 20, uma das suas figuras mais emblemáticas da política. Flaviano Flávio Baptista de Melo, o Velho Lobo do MDB, faleceu aos 75 anos após enfrentar uma pneumonia que o levou a uma internação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A morte cerebral foi confirmada pela sua família, e os aparelhos que o mantinham vivo foram desligados. A sua partida encerra um ciclo de mais de 40 anos de dedicação à política acreana, marcada por disputas, conquistas e, acima de tudo, uma incansável vontade de servir ao povo.

Quem foi, de fato, Flaviano Melo? A história de Flaviano se confunde com a história política recente do Acre. Engenheiro civil por formação, ele começou sua trajetória política na juventude, ainda nos anos de chumbo, com o MDB, em 1969. Seu primeiro grande passo foi dado como prefeito de Rio Branco, entre 1983 e 1986, mas sua verdadeira ascensão aconteceu quando venceu as eleições para o governo do Acre, cargo que ocupou de 1991 a 1994. Ainda que o Acre tenha sido palco de seus altos e baixos, suas batalhas eleitorais, vitórias e derrotas, Flaviano permaneceu sempre na vanguarda da política estadual.

O que torna Flaviano tão significativo não foi apenas sua longevidade na política, mas a maneira como ele construiu um poder capaz de transcender a simples busca por cargos. Seu nome se tornou sinônimo de força e de um “controle do jogo” que poucos políticos no estado conseguiram alcançar. Um político que ofuscava, sim, o surgimento de novas lideranças. Era quase impossível não associar sua presença à habilidade política, à articulação estratégica, ao poder que corria nas veias de um verdadeiro Velho Lobo, um apelido que o acompanhava como uma espécie de ironia afetuosa pela sua astúcia e pelo modo como navegava pelas águas turbulentas da política.

Flaviano também teve seu momento de solidão política. Suas disputas internas com líderes do MDB, seu partido, tornaram-se conhecidas ao longo das décadas. Mas essa era a natureza de um homem que se via sendo a peça-chave que muitas vezes decidia os rumos do estado.

Ao longo de sua carreira, Flaviano se fez presente em quase todos os marcos políticos do estado, desde a prefeitura de Rio Branco, onde governou por dois mandatos, até sua passagem pelo Senado e pela Câmara dos Deputados. Mesmo em sua trajetória federal, ele sempre teve os pés fincados nas raízes do Acre, nunca deixando de atuar com vigor, tornando-se referência para muitos e sempre se colocando como protagonista, mesmo quando a batalha política parecia perdida.

Mas o Velho Lobo não era só a figura calculista e estratégica. Ele também deixava transparecer em seus discursos uma grande paixão pelo Acre e pelo seu povo. Durante os seus anos de governo e mandato, Flaviano não poupou esforços para garantir o progresso do estado, mesmo que com os seus métodos e muitas vezes com controvérsias. Sua história política, marcada pela ambição de transformar o Acre, será lembrada e debatida por muitos anos. Ele não apenas fez parte do cenário político, ele o construiu.

Para que sejamos autores da nossa própria história, faz-se necessário um posicionamento forte do Estado. Não um Estado interventor nas searas econômicas mais específicas, mas um Estado provedor das condições para o estabelecimento e reprodução do capital, através da criação de opções de investimentos ; um Estado que implemente políticas de desenvolvimento compatíveis, capazes de reorganizar, por exemplo, a ocupação territorial, sobretudo pela desconcentração da terra; de corrigir o impacto ambiental pela recuperação das áreas degradadas; de apoiar a produção através do crédito, armazenamento, escoamento, etc.; e, finalmente, um Estado capaz de articular suas instituições, vertebradas pelo objetivo final desses instrumentos – a melhoria do nível de vida do nosso povo.

Pronunciamento de Flaviano Melo em 06/10/1995. Discurso no Senado Federal.

Flaviano deixa um legado de muito trabalho e dedicação, que se estende para além dos cargos que ocupou. Sua morte chega como um choque para aqueles que o conheceram de perto, e sua memória seguirá viva no coração do Acre. Mesmo depois de sua partida, Flaviano será, sem dúvida, um marco, um nome que ecoará pelas ruas, pelos corações e nas lembranças de todos aqueles que conviveram com a força de sua política.

Flaviano, o Velho Lobo, vai embora, mas seu legado – como ele mesmo dizia – será eterno, pois o que se constrói com amor à terra e dedicação ao povo nunca se apaga.

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