Coronel Francisco Miguel de Siqueira: um latifundiário do Pajeú

Já faz algum tempo que tento localizar o inventário do Coronel Chico Miguel. Salvo engano, Esdras Souto Siqueira me informou que se encontrava no Museu da Justiça, em Recife. Por intermédio de alguns amigos fiz gestões para localizá-lo no aludido museu, mas ainda não obtive sucesso. Essas tentativas ocorreram por ocasião da Covid-19; o que era mais complicado.

Não desistirei. Uma próxima permanência mais longa em Recife, pessoalmente quero fazer a pesquisa. Mais cedo ou mais tarde atinjo meus objetivos de localizar o inventário do meu ancestral mais importante, posto que exerceu uma grande liderança (Conservadora) no Sertão do Pajeú. Muitas informações, com certeza, vou obter nos autos do inventário.

Uma das informações que pretendo obter no inventário é referentemente ao patrimônio de Chico Miguel. É voz corrente que, para os padrões da época, no Sertão de Pernambuco, tinha um grande patrimônio em terras. Não me recordo quem me informou, mas se dizia que suas propriedades chegavam às proximidades de Teixeira, na Paraíba. Não tenho como comprovar. É uma especulação.

Uma das vezes em que pesquisava no cartório cível de Afogados da Ingazeira, sobre meu bisavô, o italiano Antônio Perazzo, visando obter a cidadania italiana – que a obtive em 1998 – encontrei o inventário do próprio Antônio Perazzo e o de sua sogra, Leopoldina Lina de Siqueira. Não me recordo, mas acho que encontrei os autos desses inventários em momentos diferentes. De qualquer forma, ainda tenho os tenho nos meus arquivos.

Recentemente revisitei os autos do inventário de Leopoldina Lina de Siqueira e ocorreu-me a ideia de fazer uma avaliação do patrimônio de Chico Miguel recorrendo ao inventário dessa sua filha (Leopoldina Lina de Siqueira), minha trisavó. Disponho dessa prova segura. Uma forma indireta de fazer uma avaliação do patrimônio do meu ancestral. Um cálculo aproximado.

Francisco Miguel de Siqueira e sua esposa Íria Nogueira de Carvalho tiveram 10 (dez) filhos. Consequentemente, como herança do seu pai, na partilha dos bens, lhe tocou 1\10 (um décimo) do patrimônio do seu pai. Por esse caminho quero fazer uma estimativa do patrimônio do Coronel. Um cálculo aproximado, repito.

No dia 16 de junho de 1911, meu bisavô (Antônio Perazzo), genro de Leopoldina Lina de Siqueira – Antônio Perazzo foi casado com a filha única de Leopoldina Lina de Siqueira, minha bisavó, que se chamava Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza – comparece à cidade de Afogados da Ingazeira e outorga uma procuração pública para Luís Antônio Chaves Campos, para efeito de requerer o inventário da sogra (Leopoldina Lina de Siqueira).

A família Chaves Campos já tinha relações de parentesco com a família Perazzo. Luís Chaves Campos, procurador de Antônio Perazzo, para fazer o inventário da falecida Leopoldina, era sogro do seu filho Francisco Perazzo de Almeida Pedroza (Pedrozinha), meu tio avô. Um outro filho de Luís Antônio Chaves Campos (Pedro Chaves Campos) era casado com outra filha de Antônio Perazzo (Amélia Perazzo de Almeida Pedroza), também minha tia avó.

Pude obter algumas informações importantes nos autos do inventário de Leopoldina Lina de Siqueira, filha do Coronel Chico Miguel, e mãe da minha bisavó Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza (filha única). Não foi possível uma leitura completa, porque os autos do inventário foram manuscritos. Vou precisar de alguém que interagiu – (e conheceu a grafia) – com Miguel Queiroz Amaral (o redator) para maiores informações sobre o documento, que é uma importante fonte da nossa história de família.

Pois bem. Do documento pude constatar que Leopoldina Lina de Siqueira, que foi esposa do Tenente Francisco Casimiro de Almeida Pedroza, pais de minha avó Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza, mulher do italiano Antônio Perazzo, herdou e transmitiu partes de terra da Fazenda Riachão, partes de terras da Fazenda Buenos Aires, e ainda partes de terras de duas outras propriedades. Não consegui ler os nomes dessas duas outras propriedades.

Minha bisavó (Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza), mulher do italiano Antônio Perazzo, como filha única de Leopoldina Lina de Siqueira, herdou todos os bens da sua mãe, filha de Francisco Miguel de Siqueira. Repito. Herdou, por conseguinte, um 1\10 do patrimônio do Coronel.

Pode ser até que desse patrimônio, algo tenha sido acrescentado pelo casamento de Leopoldina Lina de Siqueira com seu parente Tenente Francisco Casimiro de Almeida Pedroza. Francisco Casimiro de Almeida Pedroza era sobrinho de Chico Miguel. Logo, os bens eram da família Siqueira (e Almeida Pedroza).

Nada no patrimônio de Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza pode ter sido acrescentado pelo italiano Antônio Perazzo. Era um imigrante italiano pobre e analfabeto que casou com uma moça do patriciado rural do Sertão de Pernambuco. A projeção social e econômica de Antônio Perazzo se deu pelo casamento. É indubitável. Não consta que acrescentou algo ao patrimônio que a mulher recebeu por herança de Francisco Miguel de Siqueira.

O casal Antônio Perazzo e Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza (nos autos do inventário consta no documento do pagamento do imposto como Amélia Leopoldina Perazzo Pedroza), teve 09 (nove) filhos. Um desses filhos (a menina Ofélia), morreu ainda na infância. José Perazzo de Almeida Pedroza morreu com mais de 25 (vinte e cinco) anos, mas não deixou herdeiros.

De forma que, os 07 (sete) herdeiros de Antônio Perazzo e Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza (ou Amélia Leopoldina Perazzo Pedroza), herdaram cada um, em média, de 400 (quatrocentos) a 500 (quinhentos) hectares de terra. Aproximadamente. Se conclui que a herança deixada pela filha do Coronel Chico Miguel girava em torno de 3.000 (três) mil hectares.

Portanto, como Francisco Miguel de Siqueira e sua esposa Íria Nogueira de Carvalho tiveram 10 (dez) filhos, chega-se à conclusão que o patrimônio do casal, apenas em propriedades rurais, deveria ser em torno de 30.000 (trinta mil) hectares. Um grande patrimônio, mesmo se levando em consideração que terra no Sertão do Pajéu não tinha grande valor no século XIX.

Francisco Miguel de Siqueira tinha também um grande patrimônio em escravos. Em documento da lavra do Historiador Esdras Souto Siqueira, obtive a informação de que chegou a possuir 30 (trinta) escravos. Fazia questão que seus escravos fossem casados na Santa Igreja Católica. Talvez inspirado na sua devoção ao Glorioso São José e inspiração na Sagrada Família. Valorizava o Santíssimo Sacramento do Matrimônio.

Francisco Miguel de Siqueira nasceu e viveu ao longo de todo o período escravocrata (1800 a 1878).

Deixou o link de acesso ao documento referido porque pode ser fonte para pesquisadores que desejem conhecer melhor a formação histórica dos municípios do Vale do Pajeú, como também conhecer a história das famílias da região sertaneja!

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