Valterlucio Campelo: ‘Sobre a censura e o jornalismo servil’

A bendita polarização na política brasileira, efeito do acesso à informação viabilizado pelas redes sociais e, principalmente, da quebra das algemas aos meios tradicionais de imprensa, encabrestados no poder pela grana que escorre do erário, produziu um fato curioso, ou seja, tirou da penumbra e deu voz também a velhos canalhas que antes se escondiam no limbo.

Um exemplo bem evidente é a forma como, de repente, gente autoritária, que sempre praticou sem freios o ataque aos recursos públicos, que enriqueceu e à própria família com contratos envolvendo as duas faces – corruptos e corruptores, se transformaram em ácidos avalistas da teoria do golpe que seria praticado por idosos e mulheres na esplanada, num domingo à tarde, sem armas e sem apoio de qualquer espécie.

Esses fantasmas, alguns deles cevados na ditadura, se atrevem a contestar o óbvio já demonstrado por juristas da estirpe de Nelson Jobim, Ives Gandra Martins e Marco Aurélio de Melo entre outros que não estão na folha de pagamento nem no alvo do conluio que governa o Brasil. Por que o fazem? Explico.

Ainda com voz para falarem, embora com credibilidade na lona, eles possuem os meios de comunicação (alguns deles conseguidos na ditadura em troca de aluguéis de suas canetas), e precisam mantê-los. Resultado: dizem qualquer coisa que seja doce aos ouvidos de quem está com a verba.

Em segundo, se rendem ao politicamente correto para sinalizarem virtude e se sentirem pertencendo ao grupo majoritário na vitrine. Renitentes abusadores, autoritários por natureza e formação, corruptos por escolha, se agarram na agenda progressista pedindo vaga na fila do perdão dos poderosos da vez.

Em terceiro, tentam ajudar a barrar a onda conservadora, seus princípios e valores. Para isso são capazes de se omitirem mesmo sendo atacados no coração de sua função. O consórcio lulopetista que manda no Brasil, aí incluindo o STF, está em vias de instalar um espião em toda e qualquer opinião expressa por qualquer brasileiro sobre qualquer assunto, ou seja, a CENSURA bate à porta inclusive dessa gente que, genuflexa, assiste a tudo de bico calado. Jornalistas e donos de jornais até impulsionam a ação deletéria sobre a liberdade de expressão. Querem a exclusividade da voz, querem regular o filtro da informação que circula, querem voltar a ser a única “voz da verdade” (nada mais reacionário).

Passem, como eu, alguns dias no Nordeste brasileiro e verão em cada capital os exemplos de tudo dito acima, vão ao Norte e verão a mesma coisa. Os donos das empresas de comunicação, digo, da velha mídia, são os mesmos ou seus herdeiros, porém discursam em sentido contrário, querem liquidar com a liberdade de expressão.

É o caso mesmo de se perguntar. Onde andam os jornalistas que não se erguem para defender a liberdade de expressão? Ela está sendo criminalizada. A CENSURA não é mais uma aposta, ela vige, basta ver o que fizeram recentemente com o humorista Leo Lins. Uma penca de jornalistas se mandou, alguns foram presos. Nem parlamentares estão sendo poupados da sanha persecutória dos tiranos. Vozes discordantes estão sendo silenciadas mesmo, ou intimidadas, ameaçadas. Na Câmara dos Deputados e no Senado escassearam as falas em defesa das liberdades. O medo não tem fronteiras.

Aqui umas perguntinhas. Essa gente não tem vergonha na cara? Onde enfiaram a valentia que arrotam? Ela só serve para atacar velhinhas na Colméia? Cadê aquela historinha de “não tenho rabo preso”? Não, não sou jornalista. E daí? Por isso mesmo, posso ver sem lentes embaçadas o papel que desempenha a turma da Globo, da CNN e tantas outras que sustentam, em benefício próprio, o ataque ao indivíduo sob o falso argumento de defenderem a verdade. Ora, quem dirá o que é verdade? O supremíssimo? Quantas verdades de ontem são mentiras de hoje e vice-versa? Em que nível a mentira será suportada? Serão presos os que propagam que os extraterrestres nos visitam? Deus será criminalizado? Milagres serão proibidos por agredirem ateus? Revogarão a santidade católica por agredirem protestantes?

A liberdade de expressão não pode ser relativizada. O não-argumento supremo “liberdade de expressão não é liberdade de agressão” é torpe, indecente, falso. É sim. O que não pode é, a agressão, desde que provada, ficar impune. O Estado que garanta ao agredido a justa reparação. Defendo o direito de qualquer um endossar, mentirosamente, que houve tentativa de golpe pelos manifestantes de 8 de janeiro, assim como o meu direito de dizer que não. Lembra Nelson Rodrigues “Toda unanimidade é burra”? Pois é. Nenhuma sociedade livre pensa em consenso, em unanimidade.

Esse desejo de CENSURA só pode fazer parte de algo maior que é a implantação de uma ditadura socialista no Brasil. Zé Dirceu avisou que tomariam o poder independentemente de eleições. Aí está. Somos hoje uma nação ameaçada, prestes a ter vigiada a cada palavra, teremos um ministério da verdade orwelliano, com políticos e jornalistas na direção.

Este momento é crucial para os brasileiros, é hora de acordar os sonolentos, de cutucar os vacilantes, de mostrar aos “isentões”, que o inimigo da democracia se esconde nela mesma para destruí-la como um câncer. Fomos atacados, ele se instalou, não permitamos que se generalize e mate a liberdade que há em cada vivente.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.

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