Perfurações na floresta amazônica buscaram transformar o Acre em nova fronteira energética nas décadas de 1950 a 1980. Descobertas promissoras, obstáculos logísticos e decisões econômicas moldaram esse capítulo quase apagado da história petrolífera brasileira.
Entre as décadas de 1950 e 1980, 11 poços foram perfurados no extremo oeste da Amazônia, revelando sinais de hidrocarbonetos que acenderam breves esperanças de uma nova fronteira energética.
Hoje, o petróleo acreano dorme sob o solo, sem exploração ativa, royalties ou perspectivas de produção, como um capítulo esquecido da história petrolífera nacional.
Bacia do Acre: tentativa de exploração no coração da Amazônia
No período entre 1950 e 1980, foram perfurados 11 poços exploratórios na Bacia do Acre, localizada no extremo oeste da Amazônia.
Estudos da Petrobras e registros da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam indicações de hidrocarbonetos, especialmente gás natural em três poços.
No entanto, nem um único deles apresentou pressão ou volume suficiente para justificar a produção comercial.
Infraestrutura limitada e custos inviáveis interromperam os planos
Esses sinais, por mais promissores que fossem na época, não resistiram às dificuldades econômicas.
A infraestrutura local era insuficiente, o transporte era caro e a logística, complexa, na região da floresta densa — fatores que elevaram os custos operacionais a níveis proibitivos.
Com o surgimento de grandes descobertas no litoral, como nas bacias de Campos e Santos, o Acre rapidamente perdeu relevância estratégica.
Tentativas de reativação com licitações não evoluíram
Durante a 12ª rodada da ANP, em 2013, blocos como o AC‑T‑8 foram incluídos, e a Petrobras chegou a assumir parte dos contratos.
No entanto, todos foram posteriormente anulados e, desde 2020, nenhuma concessão permanece ativa no Acre.
Estudos acadêmicos preservam a história geológica
Embora o potencial geológico ainda seja objeto de estudos em instituições como a Sociedade Brasileira de Geologia e universidades, os dados permanecem restritos a arquivos técnicos sem projeção prática.
Pesquisas continuam analisando a região, mas sem aplicações comerciais à vista.
Falta de incentivo e logística desafiam retomada
Segundo relatórios da ANP, os recursos destinados à Bacia do Acre e regiões vizinhas, como Madre de Dios, totalizaram cerca de R$ 77 milhões nos últimos dez anos.
Esses valores foram utilizados principalmente em levantamento sísmico e estudos geofísicos.
Com estruturas geradoras ainda mal definidas, a retomada da exploração dependeria de investimentos volumosos em kampenamento logístico e avaliações do impacto ambiental.
Petróleo offshore dominou após abandono das bacias terrestres
O episódio da Bacia do Acre espelha uma tendência nacional.
Desde os anos 1960, poços terrestres em bacias como Marajó, Paraná e Parnaíba mostraram-se inviáveis economicamente.
Esse cenário consolidou a migração para o offshore, especialmente após o sucesso do pré-sal.
Hoje, quase toda a produção brasileira — cerca de 95% — vem do mar.
Um capítulo quase apagado da história petrolífera nacional
A história do Acre configura um capítulo pouco lembrado da exploração petrolífera.
Sem plataformas, dutos, royalties ou contratos, o que resta são registros técnicos acumulados pela ANP.
Pesquisas acadêmicas continuam levantando hipóteses de possível relevância geológica, mas os obstáculos permanecem.
Barreiras técnicas, ambientais e econômicas ainda persistem
- Custo de logística e transporte – Estradas precárias, rios com navegação sazonal e falta de infraestrutura portuária.
- Ausência de incentivos fiscais ou parcerias – O ambiente regulatório e econômico não favorece investimentos em áreas remotas.
- Impactos ambientais rigorosos – Qualquer retomada exigiria licenciamento complexo junto ao Ibama.
- Desafios geológicos – A natureza exata das rochas geradoras ainda é imprecisa, embora comparável às bacias produtoras do Peru e Bolívia.
Tecnologias futuras podem mudar o destino da bacia
A continuidade dos estudos geológicos pode trazer novas interpretações sobre a potencialidade da bacia.
Tecnologias avançadas em prospecção, como operações sísmicas 3D e reinterpretativas, podem revelar estruturas antes não detectadas.
Contudo, até 2026, não há previsão de inclusão do Acre em novas rodadas de licitação segundo a ANP.
Se as tecnologias de exploração melhorarem e os custos logísticos caírem, será que o petróleo da Amazônia ocidental — especificamente do Acre — poderá algum dia movimentar a indústria nacional, ou continuará restrito ao papel de “nota de rodapé” na história da geologia brasileira?