Em entrevista à Jovem Pan News, o ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, afirmou nesta quinta-feira (10) que a melhor estratégia para o Brasil diante da proposta de Donald Trump de impor uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros é a negociação direta. Barbosa descartou a eficácia de uma retaliação ou de um recurso à Organização Mundial do Comércio (OMC), que, segundo ele, “desapareceu” no atual cenário global. O embaixador declarou não ter sido surpreendido pela medida, que, em sua visão, já estava “precificada” devido à atuação da oposição brasileira nos Estados Unidos e à “ausência de reação do governo brasileiro para defender os interesses” do país em Washington. Ele criticou a falta de canais de comunicação com o governo americano nos últimos oito meses.
“Para mim não foi surpresa o que aconteceu. Isso já estava precificado em vista da ação da oposição aqui no Brasil ao governo Lula nos Estados Unidos. Tanto na Flórida, quanto no Congresso americano, em Washington, junto ao executivo também. E a ausência da reação do governo brasileiro para defender os interesses brasileiros lá em Washington. Não houve canais de comunicação abertos depois da eleição do ano passado. Há oito meses que a oposição está solta lá nos Estados Unidos, criticando o governo, inventando coisas, e o governo não fez nada, porque não tem canais de comunicação com o governo americano. Tanto em relação ao presidente na Casa Branca, quanto em relação ao Departamento de Estado”, afirmou o diplomata.
Barbosa argumentou que a política comercial de Trump inaugurou uma nova ordem internacional baseada na “lei do mais forte”. Ele explicou que, diferentemente da China, o Brasil não possui capacidade para retaliar efetivamente, pois os EUA poderiam simplesmente dobrar as tarifas. “Todo mundo está tendo que conversar com os Estados Unidos”, afirmou, citando o exemplo de Japão, Coreia do Sul, Canadá e México.
Para o ex-embaixador, a saída é focar na negociação comercial, explorando possibilidades de redução de tarifas e eliminando restrições não-tarifárias. “Não é uma questão de subordinação, não é uma questão ideológica. Se trata de fazer o que todos os outros estão fazendo”, concluiu, defendendo uma abordagem pragmática para proteger os interesses das empresas brasileiras. “A OMC desapareceu, não adianta nada. O Brasil não pode inovar e nem vai inovar, e não tem condição de inovar. Nós temos que fazer o que os outros 195 países estão fazendo. Estão negociando. Isso não foi contra o Brasil, isso foi contra o mundo inteiro. A gente tem que entender isso. Tem o aspecto político que já foi tratado pelo governo, ao convocar o encarregado de negócios lá, reclamar, soberania, interferência, tudo bem, já foi feito. Agora a gente tem que focar na negociação comercial, das tarifas”, declarou Rubens Barbosa.