Sidney Zamora: “O agro não pode pagar o preço da disputa política entre Brasil e EUA”

Com atuação em estados como São Paulo e Acre, Sidney Sanches Zamora Flho afirma que negociação com os EUA precisa ser tratada de forma técnica e comercial.

“O risco é grande e imediato. Quando um mercado relevante como os Estados Unidos encarece os produtos brasileiros, sobra carne que precisa ser redirecionada. E nem sempre os outros mercados pagam o mesmo preço. Quem vai comprar sabe que o Brasil tem carne disponível e vai negociar preço para baixo.

Após o anúncio das tarifas, por exemplo, o mercado reagiu com queda na liquidez e retração no preço da arroba, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). O cenário segue em análise, mas com muito mais prudência nos negócios.

O desafio é manter o equilíbrio. O frigorífico quer proteger sua margem, alegando o risco no mercado externo. O produtor rural precisa defender um preço mínimo para cobrir seus custos, que estão elevados. Mas em cenários como esse o frigorífico tem mais poder de barganha, e o produtor precisa negociar firme para não sair no prejuízo.

Vejo como positivo o diálogo entre o governo e o setor produtivo. Isso é essencial. O presidente Lula está certo em buscar essa interlocução, porque o governo tem um papel estratégico nessas horas.

Abrir mercado, negociar barreiras comerciais e proteger quem produz e gera emprego no país.

O que a gente precisa agora é de agilidade pra abrir novos mercados, reduzir dependência de poucos compradores e dar segurança jurídica para o produtor rural continuar investindo. A demanda principal do agro hoje é garantir que a gente tenha para quem vender e segurança para produzir.

Já existe atuação do Ministério da Agricultura e do Itamaraty. Tenho visto o ministro e as equipes técnicas buscando dialogar com o setor e abrir portas lá fora.

Estão agindo da forma correta, mas o cenário exige agilidade.

Cada dia de incerteza pesa na conta do produtor, que não pode parar a produção enquanto espera decisão política. O Brasil tem um agro eficiente, mas precisa do suporte institucional para garantir que nossos produtos tenham acesso aos mercados certos.

Eu vejo esse encontro do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com o ex-presidente Jair Bolsonaro, como parte da política brasileira, mas acho que a negociação com os EUA tem que ser tratada de forma técnica e comercial, e não política.

O foco tem que ser proteger o produtor, a indústria e o comércio brasileiro, independentemente de partido ou eleição.

Quem tem que liderar essa negociação é o governo federal atual, é o presidente Lula, junto com os ministérios responsáveis. São eles que têm legitimidade e responsabilidade pra representar o Brasil e defender nossos interesses econômicos.

O agro não pode ficar no meio da disputa política. O que a gente precisa é de equilíbrio e estratégia pra manter o mercado funcionando. Quem está no campo quer estabilidade pra continuar produzindo e gerando riqueza para o país.

O agronegócio brasileiro desempenha papel fundamental na nossa economia e na vida das pessoas. Representando mais de 23% do PIB nacional e gerando emprego e renda para mais de 26% da população brasileira, direta e indiretamente, o setor é responsável por colocar comida na mesa, gerar divisas para o país e sustentar milhões de famílias em todas as regiões do Brasil.”

Sidney Sanches Zamora Filho, em depoimento ao repórter Bruno Rosa, do O Globo

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