Durante quase trezentos anos, teve uso na Grã-bretanha, o chamado scold’s bridle, com o qual eram punidos normalmente boatos e falsidades. Na grande maioria das vezes, as vítimas eram as mulheres que, à época, estavam sujeitas a uma série de brutalidades socialmente aceitas.
A camponesa Bessie Tailiefeir aparece nos registros como a primeira a ser punida. O fato ocorreu em 1567, em Edimburgo, Escócia, por difamação. Ela acusou Baillie Thomas Hunter de mentir sobre as medidas de terrenos, o que era considerado um delito grave na época, especialmente contra uma figura de autoridade. O último registro é da cidade de Bolton le Moors na Inglaterra, em 1856.
O scold’s bridle (imagem acima), era um dispositivo de ferro, ou de couro, que cercava a cabeça e a boca, impedindo a fala, causando humilhação pública e sofrimento físico. Esse castigo era comum na Idade Média, particularmente para pessoas de classes mais baixas, como forma de punir mentiras, acusações sem provas ou falas desrespeitosas, refletindo as normas sociais e religiosas da época, que viam a dor corporal como meio de expiação de pecados e manutenção da ordem.
A rigor, estava sendo ali implantada a censura, o castigo por falar, o impedimento à expressão do pensamento. As autoridades silenciavam e marcavam aquelas pessoas como desautorizadas a participarem plenamente da vida social, posto que sob castigo e depois dele, a credibilidade do indivíduo havia sido eliminada. Embora o instrumento fosse removido em horas ou dias, ficava o estigma.
O instrumento medieval é semelhante ao que o Sistema está nos impondo hodiernamente com suas ordens de banimento das redes sociais. Nos últimos anos, de uma torre erigida no planalto para a defesa da liberdade, um determinado grupo corrompeu a constituição federal e deu-se a autoridade para nos meter em um scold’s bridle, nos impedindo de comunicar o nosso desacordo, o nosso pensamento, as nossas ideias.
Embora o argumento de fundo seja, como na Grã-Bretanha, “zelar pela verdade, pelas instituições e pelo sistema normativo vigente”, esse instrumento, o atual, é o símbolo da tirania a que se submete pela força uma sociedade apática, disposta à servidão. Se, na idade média, a pobre Bessie não tinha a quem recorrer, por agora, no Brasil, dá-se o mesmo, haja vista as centenas de pessoas cujo acesso à internet é proibido ou permitido somente sob certas condições, sem que o cidadão tenha outro grau de jurisdição. Para garantir o uso do scold’s bridle, o sistema está se protegendo através de leis tirânicas que o parlamento (ainda se pode chamar aquilo de parlamento?) aceita, aprova ou consente por variadas motivações, menos a vontade da nação.
É de se perguntar a quem interessa impor ao povo brasileiro a ameaça de um scold’s bridle digital. Se o leitor pensou que a Sistema quer que o povaréu seja alimentado apenas pelas informações prontas que fluem de seus órgãos de e na imprensa, acertou. Se o leitor deduziu que desse modo a “verdade” passa a ser propriedade de quem tem o controle da informação, nivelando ao seu critério o debate público, acertou de novo. Se o leitor concluiu que esse Sistema, assim como o reino de James VI da Escócia, só pode ter raízes e propósitos no autoritarismo, no socialismo prometido no Foro de São Paulo, fora de um regime democrático, já pode “pedir música no fantástico”.
A investida do consórcio ditatorial que nos governa, sobre a liberdade de expressão, a título de regulamentação, é a normalização da CENSURA, da ameaça, do amedrontamento, como a dizer que bem ali na gaveta suprema há um scold’s bridle pronto para ser usado. Isso vale para qualquer um, iniciando pelos opositores do regime em implantação e, se expandindo para as pessoas comuns em suas comunicações mais coloquiais. Sobre o brasileiro cai um véu sombrio de silêncio em nome da “defesa da democracia”, porém, obviamente, em favor apenas da tirania.
Apesar da clareza solar com que as pessoas bem-intencionadas percebem esse fato, há quem na política e na imprensa se ponha a favor da vileza. Essa gente estúpida, alguns saídos dos sarcófagos da história, se apresenta no debate público com pose de puritanos, como se esperassem uma publicação no Diário Oficial da União declarando o Brasil uma ditadura. Não virá, seu mentecapto! Nós já estamos sob um regime de matiz ditatorial, nossas liberdades todas estão por um fio e algumas já foram removidas.
É preciso que os homens e mulheres de bem, que não estão nem querem estar subordinados ao chicote supremo, insistam, não aceitem, não se deixem levar pela avalanche de notícias e comentários vindo da grande imprensa. Hoje, é nas mídias sociais que se encontra a verdade, basta procurar. Dos grandes jornais e TV’s só pode sair a propaganda, explícita ou subliminar, do Sistema opressor e autoritário que nos governa porque fazem parte do conluio. No final das contas, depende de cada um de nós aceitar ou não em nossa cara o scold’s bridle do século XXI. Da minha parte, não tenho vocação para Bessie Tailiafeir.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.
								
								
															



								
