Concluí meu curso de Direito em agosto de 1983, na Universidade Católica de Pernambuco –UNICAP. Visitando uma prima no Sertão de Pernambuco, ela me indagou o que eu iria fazer agora, depois de ter obtido a aprovação na Ordem dos Advogados do meu Estado. Eu não sabia o que fazer. Completamente perdido. Não tive ninguém na família que pudesse me servir de modelo. Alguém que me encaminhasse profissionalmente.
A prima – da geração do meus pais – me fez uma pergunta que era uma sugestão. Por quê você não vai para Rondônia. Eu quis saber o motivo pelo qual me dava essa ideia, sobre a qual nunca tinha pensado antes. Em Porto Velho, há muitos anos – me disse ela – lá vive um nosso parente. Declinou o nome do parente comum, meu e dela. A partir daquele momento me propus realizar esse plano, que era único. Passei a ter um plano “A”, sem um plano “B”.
Minha irmã me deu a passagem. Um bilhete da VARIG. Era uma passagem só de ida e sem retorno. Tomei o avião em Recife e pernoitei em Brasília (o pernoite era obrigatório), onde fui acolhido por um colega de faculdade. No dia seguinte me deixou no aeroporto. Cheguei em Porto Velho em 09 de janeiro de 1984. Faz 41 anos que vivo na Amazônia. A Amazônia me encantou! Fiz o propósito – como gratidão – de lutar e defender os interesses da Região.
Esse parente que vivia em Rondônia desde final dos anos 60, ocupava um cargo de destaque na prefeitura de Porto Velho. Recebeu-me muito bem. Deu-me uma grande oportunidade. Sou muito grato a ele.
Cheguei em Porto Velho no início da formação do Estado. Rondônia foi criado a partir do Território Federal de Rondônia, que foi desmembrado dos Estados do Amazonas e Mato Grosso, através da Lei Complementar nº 41, de 22 de dezembro de 1981. A instalação do Estado deu-se em 04 de janeiro de 1982. De forma que cheguei em Rondônia quando tudo estava por se fazer. Posso dizer que participei dessa epopéia, da qual me orgulho.
No objetivo de conhecer a realidade da Amazônia, um dos primeiros livros que li para formar minhas convicções sobre o Norte do Brasil, foi o livro “A Selva”, do português Ferreira de Castro. Trata-se de um romance que narra a experiência do personagem Alberto, estudante português que emigra para a Amazônia brasileira, fugindo de uma perseguição política. Algo parecido com o que vivemos hoje: perseguição política à Direita.
Na Amazônia o estudante português se depara com dura realidade. Vai trabalhar como seringueiro, no seringal “Paraíso” – de paraíso só tinha o nome – no coração da floresta, onde enfrenta duras condições de vida, a violência e a exploração do ciclo da borracha. É uma experiência muito difícil. Ainda hoje guardo o exemplar do livro que li já faz mais de 30 anos.
Sobre a Amazônia e sua História, li também o livro – e não poderia deixar de fazê-lo – que fala da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, intitulado “A Ferrovia do Diabo”, de Manoel Rodrigues Ferreira. O nome (Ferrovia do Diabo), foi dado devido às condições de trabalho extremamente perigosas e insalubres, e que levaram à morte milhares de pessoas. A ferrovia ligava Porto Velho à Guajará-Mirim, no escopo de atender uma reivindicação da Bolívia, decorrente do Tratado de Petrópolis. Pelo Tratado de Petrópolis, o Brasil se comprometeu em construir a Estrada de ferro, hoje desativada, com exceção de um pequeno trecho para exploração de turismo, que vai de Porto Velho à Cachoeira de Santo Antônio.
Dentre outros livros interpretativos da Amazônia, li o “O Outro Braço da Cruz”, do ex-governador do antigo Território Federal de Rondônia, Paulo Leal. O livro refere-se à construção da Rodovia BR-364, também conhecida como a ligação entre Brasília e o Acre, via Porto Velho e o Rio Madeira. Paulo Leal conta no livro que, numa reunião de governadores do Norte com Juscelino Kubitschek, em Brasília, no ano de 1960, provocou o então presidente para construir a BR 364. O Presidente aceitou o desafio e construiu a estrada. Paulo queria ver o Brasil integrado. Integração interna.
O livro “O Outro Braço da Cruz”, de Paulo Leal, me suscitou uma inspiração muito importante, que resultou num trabalho que fiz em parceria com o escritor Rossini Corrêa, compaginado no livro “O Bloco Bolivariano e a Globalização da Solidariedade”, em que propomos a integração do Brasil – via Estado do Acre – com os países da Comunidade Andina. A proposta terminou por se tornar uma realidade, com a conclusão da Estrada do Pacífico.
Em 1993, eu era presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de Rondônia, e liderei uma missão de advogados para visitar a Corte Constitucional da Bolívia, na capital daquele país (Sucre). Ao voltar para o Brasil havia em Rondônia uma discussão sobre a estrada do Pacifico, promovida pela Federação da Indústria do Estado.
Eu entendia que a discussão era reducionista. Não podíamos, para efeito de integração da Amazônia com a Comunidade Andina e o Subcontinente América do Sul, pensarmos apenas em uma estrada. Ao nosso ver a integração deveria ser não apenas no aspecto físico, mas também cultural, social e econômico. Só assim poderíamos pensar no desenvolvimento da Região, o que passava pela integração Latino-Americana. Integração na forma do artigo 4º, parágrafo único da Constituição Federal.
Meu compromisso com a Região da Amazônia, em parte, se cumpriu. Minha dívida de gratidão para com os 30 milhões de moradores que aqui vivem e que precisam encontrar meios de sobrevivência, mesmo que de forma modesta foi cumprida. Escrevemos um livro em que defendemos a integração do Brasil com os países do Subcontinente (América Latina), no escopo de se criar emprego e renda na Região. Franco Montoro repetia: integração ou atraso. E, ao fim e ao cabo, o que querem as ONGs é o atraso da Amazônia.
Publicamos o livro em 1998 (O Bloco Bolivariano e a Globalização da Solidariedade). Com o apoio do deputado estadual Afonso Fernandes (Solidariedade), estamos com um novo projeto em marcha. Vamos fazer uma reedição atualizada do livro, agora contemplando inclusive um capítulo sobre à questão da regularização fundiária urbana e rural, como uma proposta de política pública que pode alavancar o desenvolvimento regional (Amazônia), inspirados no que defende o economista peruano Hernando de Soto, no seu livro “O Mistério do Capital”.
Pois bem. Acompanho com interesse o trabalho do ex-deputado federal Aldo Rebelo, na sua defesa da Amazônia. Cheguei a ouvir uma sua entrevista de mais de uma hora, me preparando para ouvi-lo em palestra que faria na cidade de Rio Branco. Aldo Rebelo chegou a me mandar uma mensagem por WhatsApp confirmando que estaria no Estado nos dias 24 e 25 de julho. Adquiri seu novo livro “Amazônia – A Maldição de Tordesilhas”, que já tive oportunidade de ler o prefácio. Minha agenda não me permitiu – como gostaria – de ouvir pessoalmente o ex-ministro.
O livro de Aldo Rebelo me inspira para reforçar minha convicção de que posso continuar defendendo o propósito que fiz há 40 anos de lutar pela Amazônia como patrimônio dos brasileiros – e não da humanidade – conjugando às suas ideias a política pública de regularização fundiária urbana e rural, consolidando-se assim a ocupação e exploração racional do que nos pertence.
A Amazônia é nossa! A Amazônia é dos brasileiros!