Diante de novas barreiras comerciais, como o tarifaço anunciado pelos Estados Unidos e a entrada em vigor da legislação europeia antidesmatamento em 2026, o agronegócio brasileiro terá de redirecionar parte de suas exportações, afirmou Giovana Araújo, sócia-líder de agronegócio da KPMG.
Segundo ela, produtos como carne bovina e café, que vinham aumentando sua participação no mercado americano, tendem a enfrentar restrições que exigirão uma reorganização dos fluxos comerciais.
“Os Estados Unidos se tornaram um destino importante para a carne bovina brasileira, com crescimento de 8% entre 2024 e 2025 e participação de 12% nas exportações. Mas, no cenário atual, o desafio de redirecionar a produção é menor do que substituir a oferta brasileira naquele mercado, que verá preços internos mais altos”, afirmou.
A especialista aponta que países como Japão e membros da União Europeia — que já são mercados premium — podem absorver parte desse redirecionamento. No entanto, ressalta que o bloco europeu vive uma fase de transição regulatória: a partir de janeiro de 2026, entra em vigor a Lei de Produtos Livres de Desmatamento (EUDR), que exigirá comprovação de origem sustentável para diversos produtos do agro, como carnes e café, com auditorias previstas para 3% dos volumes.
No caso do açúcar, Giovana vê oportunidades, especialmente nas cotas com tarifa reduzida destinadas ao mercado europeu. “Mesmo com a tarifa, o açúcar brasileiro pode se manter competitivo, sobretudo no Nordeste, onde há uma vocação exportadora”, avaliou.
Apesar do ambiente mais restritivo, ela acredita que o Brasil segue competitivo. “O mercado americano é premium, e somos muito eficientes. A Europa também é um mercado relevante, mas agora com desafios logísticos e regulatórios”, disse.
Para ela, o ambiente global exige ajustes e maior estratégia por parte dos exportadores, mas há boas perspectivas no médio prazo, principalmente com o crescimento da demanda asiática.