A assinatura do acordo entre União Europeia (UE) e Mercosul voltou a ser alvo de críticas dos agricultores franceses que classificam o tratado como “uma traição programada ao modelo agrícola francês e ao consumidor”. O movimento ganhou força na última semana, depois que a Comissão Europeia apresentou ao Conselho Europeu a proposta final para a assinatura e conclusão do acordo.
A Coordination Rurale, maior sindicato agrícola da França, acusa Bruxelas e Paris de sacrificar os agricultores franceses para favorecer grandes exportadores industriais, — como os setores de máquinas, aviões e automóveis — enquanto o setor rural arcaria com os maiores custos. “O rolo compressor avança, e a agricultura vai se ver esmagada em nome dos interesses de financistas e de grandes grupos”, disse Véronique Le Floc’h, presidente da Coordination Rurale.
O comunicado não poupa críticas ao governo de Emmanuel Macron. Segundo o sindicato, Paris “deixou de defender seus agricultores” e aceitou um processo acelerado de negociação que permite a aplicação provisória do acordo mesmo antes da ratificação pelos 27 parlamentos nacionais.
A entidade vê ainda uma fragilidade nas cláusulas de salvaguarda, que, na prática, dependerá da iniciativa dos próprios Estados para denunciar violações e poderiam ser acionadas apenas após prejuízos já consolidados. Ao apresentar as medidas de salvaguardas, a Comissão Europeia, destacou-as como proteção à produção agrícola do continente, uma vez que as mesmas, estabelecem ações contra a importação excessiva de carne bovina, frango e açúcar de países membros do Mercosul.
Além disso, para a Coordination Rurale, o acordo ameaça a sobrevivência da agricultura francesa, colocando-a em concorrência direta com produtos do Mercosul que, segundo a entidade, seriam menos rigorosos em termos de normas ambientais e sociais. “Trata-se do fim da nossa soberania alimentar e da ruína de anos de esforços por uma alimentação de qualidade”, afirma o comunicado.
O sindicato também critica a abertura dos mercados públicos da UE a fornecedores estrangeiros, alertando que escolas e serviços públicos podem acabar servindo alimentos “de qualidade medíocre, em detrimento da saúde dos consumidores”.
Por fim, a organização pede que os deputados franceses assumam responsabilidade e bloqueiem a adoção do texto no Parlamento Europeu. O sindicato ainda convoca partidos políticos a buscarem soluções constitucionais para impedir a entrada em vigor do acordo. “A França e a Europa vivem de ilusões ao acreditar que sua agricultura poderá resistir ao tsunami da concorrência global”, enfatiza a Coordination Rurale.