O mercado do boi gordo encerrou a semana em clima de forte disputa entre pecuaristas e frigoríficos, revelando um verdadeiro “cabo de guerra” em torno das negociações. De um lado, os compradores pressionam por preços mais baixos, sustentados por escalas de abate confortáveis e uma oferta volumosa de animais terminados. Do outro, produtores resistem às reduções, apoiados no desempenho das exportações, que seguem aquecidas e sustentam parte da demanda externa.
Segundo levantamento da Scot Consultoria, em São Paulo, o boi gordo sem padrão de exportação foi negociado a R$ 312/@, enquanto o chamado “boi-China” ficou em R$ 315/@. A vaca gorda foi cotada a R$ 285/@ e a novilha terminada a R$ 300/@. Já dados da Safras & Mercado mostram queda nos preços em várias regiões.
Preço do boi gordo por região (Safras & Mercado)
- São Paulo: R$ 308,58/@ (ontem: R$ 310,83/@)
- Goiás: R$ 295,36/@ (ontem: R$ 301,96/@)
- Minas Gerais: R$ 292,94/@ (ontem: R$ 297,06/@)
- Mato Grosso do Sul: R$ 321,02/@ (ontem: R$ 320,82/@)
- Mato Grosso: R$ 301,89/@ (ontem: R$ 303,45/@)
Pressão de baixa nas praças pecuárias
Analistas destacam que os frigoríficos de maior porte estão bem abastecidos, seja pelo uso de contratos a termo, seja pela utilização de animais de confinamentos próprios, o que reduz a necessidade de compras adicionais no mercado físico.
Além disso, o consumo doméstico segue enfraquecido, sem apresentar bons resultados na primeira quinzena de setembro. A expectativa tradicional de melhora com o avanço do mês perdeu força, segundo a Agrifatto, o que mantém o varejo cauteloso, com pedidos menores de reposição e entregas em ritmo lento.
Esse quadro contribui para a acomodação das cotações e reduz as margens de manobra para reajustes positivos no atacado. Atualmente, os preços médios giram em R$ 24,10/kg para o traseiro, R$ 18,00/kg para o dianteiro e R$ 17,10/kg para a ponta de agulha.
Exportações aliviam pressão, mas não impedem volatilidade
Apesar da pressão baixista, as exportações de carne bovina continuam sendo o principal alicerce do mercado. O Brasil caminha para um ano recorde em embarques, com a China respondendo por quase 60% das compras em agosto, segundo a Agrifatto.
Esse movimento trouxe sustentação aos preços em agosto, após a queda brusca de julho, mas a maior oferta de animais terminados em setembro voltou a pressionar as cotações. Em apenas um dia, 10 das 17 regiões monitoradas pela consultoria registraram quedas.
Além disso, o câmbio também exerce influência: nesta semana, o dólar recuou 0,27%, negociado a R$ 5,39, fator que reduz a competitividade da carne brasileira no mercado externo.
Expectativas para os próximos meses
O cenário futuro no boi gordo ainda é de disputa. Por um lado, os analistas projetam maior estímulo ao confinamento nos próximos meses, o que deve manter a oferta consistente até o fim do ano. Por outro, a demanda externa firme, sobretudo da China, tende a sustentar as exportações até novembro, quando ocorre a tradicional pausa ligada ao Ano Novo chinês.
A expectativa é de que, com a chegada do período das festas de fim de ano no Brasil, haja espaço para recuperação das cotações, impulsionadas pelo aumento sazonal do consumo interno. Até lá, o mercado deve seguir em compasso de disputa, com movimentos de sobe e desce que refletem tanto a força da exportação quanto a fragilidade do consumo doméstico.
O mercado do boi gordo encerra a semana em equilíbrio instável, com preços pressionados pelo excesso de oferta e consumo interno fraco, mas amparados pela demanda externa aquecida. Para o produtor, o cenário exige cautela, já que a margem de negociação segue estreita, e qualquer avanço dependerá do ritmo das exportações e da esperada melhora no consumo nos próximos meses.
Enquanto isso, frigoríficos e pecuaristas permanecem em lados opostos da corda, travando uma disputa que deve seguir intensa até a virada do ano.