O campo brasileiro, historicamente visto como símbolo de força e resiliência, atravessa hoje uma das crises mais graves de sua história. Além das perdas financeiras causadas por embargos, insegurança jurídica e apreensão de bens, milhares de produtores rurais enfrentam um drama silencioso: o aumento alarmante do número de suicídios. A cada dia, cresce a sensação de desamparo e de que falta amparo do Estado para quem alimenta o país.
Segundo um estudo do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, a taxa de suicídios no campo brasileiro chega a 20,5 por 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional. Entre 2010 e 2019, mais de 1.500 trabalhadores rurais tiraram a própria vida por ingestão de defensivos agrícolas — um retrato trágico da pressão emocional, financeira e social que recai sobre quem produz.
No Rio Grande do Sul, a situação é ainda mais dramática. O estado sofreu nos últimos anos tanto com enchentes históricas quanto com estiagens severas, que provocaram perdas estimadas em R$ 88,9 bilhões para o agronegócio apenas em 2024. Nesse cenário, muitos produtores acumulam dívidas impagáveis, perdem seus bens para bancos e governos e veem crescer a insegurança jurídica — especialmente os que enfrentam embargos ambientais.
Foi diante dessa realidade que nasceu o projeto SOS Agro RS, coordenado por Paola Stefanello. A iniciativa reúne psicólogos e terapeutas voluntários para oferecer atendimento psicológico gratuito a produtores e suas famílias, de forma presencial ou online. “Enquanto lutávamos por justiça, recursos e soluções para devolver dignidade aos produtores, fomos surpreendidos pela depressão e pela tristeza que tomou conta do campo. Muitos não estão resistindo”, relata Paola.
O projeto, chamado de “grito silencioso do campo”, rompe uma barreira cultural importante: a dificuldade dos agricultores em pedir ajuda. Acostumados a enfrentar adversidades sem demonstrar fragilidade, muitos produtores sofrem em silêncio. “O produtor rural explode dentro da própria casa, carrega tudo sozinho, e muitas vezes nem a família percebe a dor que ele sente”, explica Paola.
A rede de apoio já conta com nomes como Auriane Nerissi, Fabiola Melo, Quellen Potter, Ana Paula Pedrotti, Maria Laura Kettenhuber, Mari Elis Berman Carré, Liriel Nobre e o Dr. Domicio Brasiliense. Juntos, formam uma frente humanitária que busca mostrar ao produtor que ele não está sozinho. “Este projeto nasceu para mostrar que existe uma família pronta para acolher quem alimenta o país. Buscar ajuda não é fraqueza, é coragem”, reforça a coordenadora.
Produtores interessados no atendimento gratuito de psicólogos podem entrar em contato com o projeto pelo perfil oficial @sosagrorsbr. Os atendimentos são gratuitos, sigilosos e conduzidos por profissionais qualificados.
Se você ou alguém que você conhece está passando por um momento difícil, procure ajuda profissional. No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio gratuito e sigiloso 24 horas por dia, pelo telefone 188.



