O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, que integrou o primeiro governo Lula, foi escolhido para exercer um papel estratégico na COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que ocorrerá em novembro, em Belém (PA). Reconhecido como uma das vozes mais influentes do agronegócio brasileiro, Rodrigues atuará como “enviado especial da Agricultura”, responsável por defender o setor e apresentar suas demandas durante o evento.
A nomeação, feita pelo presidente da COP30, André Corrêa do Lago, conta com o apoio de entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). O ex-ministro terá a missão de enfrentar a narrativa internacional que atribui ao agronegócio brasileiro grande parte da responsabilidade pelas emissões de gases de efeito estufa e pelo desmatamento.
Com uma trajetória marcada pela defesa do chamado “agro tropical sustentável”, Rodrigues costuma argumentar que o aumento da produção agrícola brasileira decorre da combinação entre ciência, tecnologia e políticas públicas, e não da expansão sobre áreas de floresta. Na COP30, pretende destacar o papel do país como líder global em agricultura sustentável, ao mesmo tempo em que buscará recursos e flexibilização de regras comerciais por parte das nações desenvolvidas.
Os desafios, no entanto, são significativos. De acordo com o Observatório do Clima, o setor agropecuário foi responsável por 74% das emissões nacionais de gases de efeito estufa em 2023, além de estar ligado a 97% da perda de vegetação nativa nos últimos seis anos, segundo o MapBiomas. Rodrigues contesta esses números e afirma que “criminosos e aventureiros” são os verdadeiros responsáveis por práticas predatórias, e não o produtor rural comprometido com a sustentabilidade.
Até outubro, Rodrigues pretende coordenar um documento unificado com as principais propostas do agronegócio para a conferência. O texto será elaborado em parceria com o Instituto Pensar Agro (IPA) e deve enfatizar temas como financiamento verde, combate ao desmatamento ilegal e valorização das boas práticas produtivas. O ex-ministro também planeja promover painéis na área de negociações da COP, incluindo um sobre pecuária e carbono, defendendo que as pastagens brasileiras sequestram mais carbono do que o gado emite.
Reconhecido por transitar entre o campo técnico e político, Roberto Rodrigues vê na COP30 uma oportunidade de reconstruir a imagem internacional do agronegócio e afirmar o Brasil como potência em produção sustentável. Sua missão será equilibrar as pressões ambientais com os interesses do setor, apresentando ao mundo uma visão de que é possível produzir, conservar e competir em bases sustentáveis — ainda que o debate sobre as reais emissões do agro continue aberto.