Manga, uva e pescado: como estão esses setores dois meses após o tarifaço?

Em vigor a mais de dois meses, as tarifas de 50% dos Estados Unidos (EUA) sobre as exportações brasileiras seguem travando os embarques de alguns setores do agronegócio. Além dos impactos verificados no café, a cadeia de frutas, principalmente, da uva, aponta dificuldades. 

Em colheita, no Vale do São Francisco, importante região produtora, os embarques de uva ao mercado norte-americano estão reduzidos. Como alternativa, os produtores estão buscando redirecionar os volumes à outros países. “Os produtores já estão buscando outros mercados, principalmente o Canadá e a Europa, porque já se sabe que haverá uma perda grande”, afirmou Jailson Lira, presidente do Sindicato Rural de Petrolina (PE). 

Segundo ele, os poucos envios realizados são de contratos de adiantamento de valores, em que os produtores já tinham recebido parte do dinheiro da carga. “Nesses casos os produtores são obrigados a cumprir compromissos firmados com distribuidores norte-americanos antes da alta das tarifas”, informou.

Manga 

Quando as tarifas entraram em vigor, faltavam poucos dias para iniciar a colheita da manga. No momento, temia-se que a fruta apodrecesse nos pomares. Porém, diferentemente do cenário mais pessimista projetado no início da safra, esse risco foi afastado.

Conforme o presidente do Sindicato Rural de Petrolina (PE) informou ao Agro Estadão, a colheita da manga na região segue em ritmo normal. Com embarques em volumes semelhantes ao do ano passado. A diferença é o preço recebido. 

Embora os valores estejam menores em comparação com a safra anterior, ainda conseguem remunerar o produtor. “O preço da manga está razoável nos Estados Unidos e os clientes continuam pedindo. O retorno previsto é menor do que nos anos anteriores, mas não tão menor. As primeiras vendas indicaram preços compatíveis, o que permite a continuidade dos embarques”, disse Lira, que preferiu não comentar o valor médio recebido pelos agricultores. 

Segundo ele, as negociações seguem semana a semana, de acordo com a chegada das cargas, e a tendência é de estabilidade. O dirigente destaca que, diferentemente do cenário mais pessimista projetado no início da safra, não há mais risco de frutas apodrecerem no pomar.

Negociações diplomáticas

Enquanto busca mercados alternativos para exportação, o setor produtivo segue acompanhando as tratativas entre os governos do Brasil e dos EUA. 

Nesta semana, os olhares estão voltados à provável reunião entre o secretário de estado dos EUA, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira. O encontro, previsto para sexta-feira, 17, em Washington, acontece dias após a ligação entre os presidentes Lula e Donald Trump. A expectativa é que o tema das tarifas esteja no centro da pauta das relações bilaterais entre ambos países. 

Setor de pescados denuncia paralisação e falta de crédito

Como medida paliativa às tarifas, o governo federal anunciou uma linha de crédito emergencial, dentro da Medida Provisória 1309/2025 (Plano Brasil Soberano), para as empresas exportadoras afetadas.

Entretanto, a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) divulgou nota oficial relatando dificuldades de acesso às linhas. “Até o momento, nenhuma das medidas anunciadas foi efetivamente implementada. As empresas estão sem crédito, sem garantias e sem mercado”, afirmou Eduardo Lobo, presidente da Abispeca, em comunicado. 

A nota também aponta que, mesmo com a permissão para compras emergenciais sem licitação, os órgãos públicos não dispõem de orçamento suplementar, o que “tem travado as aquisições de pescado nacional”. “Com a taxação adicional de 40% sobre o produto brasileiro, o setor perdeu competitividade e acesso ao mercado norte-americano — seu principal destino”, ressalta o texto. 

Francisco Medeiros, presidente da Peixes BR, outra entidade representativa do setor, informou que a maioria das empresas continua exportando para os EUA. Porém, “assumindo o ônus da tarifa”. “Desta forma, estamos sinalizando para o Governo Brasileiro que estamos fazendo nossa parte”, salientou. 

Em relação às linhas de crédito, ele apontou que “as taxas de juros são altas”, semelhantes aos praticados no Plano Safra 2025/26. “Pouco atrativas para o nosso negócio”, apontou.

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