Olha, a cada dia que passa, menos me surpreendo com certos parlamentares. Antes eu ainda guardava algum espanto, talvez uma ponta de esperança, mas hoje a previsibilidade reina. A política acreana se tornou um terreno raso, onde o oportunismo floresce com facilidade. As falas são ocas, os gestos são automáticos e o enredo é sempre o mesmo: poder pelo poder.
O problema não é exatamente a ausência de talento político, mas a falta de caráter e convicção. A política virou uma feira de vaidades, uma competição para ver quem fala mais bonito no plenário, quem aparece mais em fotos e quem acumula mais cargos comissionados. E o povo, que deveria ser o protagonista, virou figurante. O cidadão comum, aquele que trabalha, paga imposto e acredita em dias melhores, foi empurrado para o segundo plano, relegado à plateia silenciosa dessa tragicomédia.
Eu sempre disse, e repito, que é preciso aprender a se posicionar. Ter lado. Não esse lado de conveniência, que muda conforme o vento sopra de Brasília, mas o lado da coerência. O Acre precisa de políticos que tenham coragem de desagradar, que enfrentem o sistema mesmo que isso custe votos. Mas isso exige princípios, e princípios, caro leitor, são escassos. Nossos parlamentares parecem se mover como marionetes sem corda, desarticuladas, vivendo de improvisos e acasos.
Vivemos um tempo em que muitos acham que política se faz com marketing e assessoria de imagem. O sujeito grava um vídeo, fala duas frases prontas sobre o “povo acreano”, sorri para a câmera e acha que está exercendo liderança. Liderança não é isso. Liderança é saber dizer não, é bancar uma decisão, é ter coragem de defender o que é certo mesmo quando é impopular. Mas o que vemos são discursos mornos, covardes, calculados para não ofender ninguém e agradar todo mundo.
O Acre está cansado dessa encenação. Cansado da política dos conchavos, das alianças espúrias, da troca de favores e das promessas que evaporam logo após as eleições. É cansativo ver políticos que não têm nem sequer uma noção básica do que significa servir ao público. Servir, para eles, é verbo transitivo direto: servir-se.
A falta de ideário é gritante. Não há mais direita nem esquerda, conservador nem progressista, liberal nem socialista. Há apenas oportunistas. Gente que muda de discurso conforme o público e de partido conforme o cargo. A política virou um mercado de ações, onde cada um investe naquilo que dá mais retorno pessoal.
O Acre é pequeno demais para comportar tanto ego inflado e tanta mediocridade. Não é à toa que continuamos presos aos mesmos problemas de sempre: estradas que não existem, escolas que mal funcionam, hospitais sem estrutura e uma juventude sem esperança. É o retrato de um estado que se contentou com pouco, governado por quem sonha pequeno e age menor ainda.
E no meio desse cenário desolador, há uma palavra que parece ter desaparecido do vocabulário político: responsabilidade. Os nossos representantes falam em nome do povo, mas não prestam contas ao povo. Acreditam que mandato é sinônimo de impunidade e que o voto é um cheque em branco. Não é. E talvez um dia, o eleitor acreano perceba que enquanto continuar aceitando o mínimo, continuará recebendo o mínimo.
A política no Acre virou uma grande festa do improviso. E o improviso, quando é a regra, vira incompetência institucionalizada. O que falta é seriedade, é preparo, é visão de futuro. Falta ler um livro, estudar um pouco de história, entender que política é muito mais que pose e microfone.
Aprender a se posicionar não é apenas escolher um lado. É entender o que se defende, por que se defende e até onde se está disposto a ir por isso. É ter convicção sem fanatismo, firmeza sem arrogância, e propósito sem oportunismo. O Acre precisa disso com urgência.
Enquanto continuarmos entregando o poder a quem só sabe posar para fotos e repetir slogans vazios, continuaremos estagnados. É preciso parar de confundir popularidade com competência. O futuro do Acre não será construído por quem fala bem, mas por quem pensa certo e age com coragem.
E coragem, infelizmente, é o que mais falta na política acreana.



