A força feminina no café brasileiro ganhou destaque durante a Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte (MG), com histórias inspiradoras e conquistas que reforçam a presença das mulheres em toda a cadeia cafeeira. Várias iniciativas buscam garantir a visibilidade delas em um cenário onde apenas 13% das propriedades de café no Brasil são lideradas por mulheres.
Família mineira superou desafios pelo café
Estrela das Matas é uma das primeiras marcas do país a receber o selo “Café produzido por mulheres”, lançado pela Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA Brasil) SIC nesta semana. A produção é chefiada por três mulheres da mesma família: Alucia Souza, Viviane Cunha e Jucimara Araújo.
O início do negócio feminino foi igual a muitos relatos pelo País. A sucessão familiar, após o falecimento do pai, obrigou Viviane a olhar para a fazenda da família, no interior do município de Divino (MG). A ideia inicial da então corretora de imóveis na capital mineira, junto com a companheira Jucimara e a mãe Alucia, era preparar a propriedade para venda.
Mas cerca de três mil pés de café, plantados em 2018 para atrair melhores ofertas de compra para a propriedade, redesenharam o futuro da família. “E aí a gente descobriu que o café tem algo mágico. Foi a grande virada de chave e fez com que a gente não vendesse a propriedade. Então, a gente conseguiu dar uma volta por cima. Plantamos mais pés para nunca precisar vender a propriedade”, conta Viviane.
|Hoje elas têm 40 mil pés de café e trocaram a vida na cidade grande pela calmaria da fazenda. Nesta safra, são 20 sacas de café especial sendo produzidas com a marca “Estrela das Matas”. Jucimara revela que precisaram enfrentar vários desafios, desde a falta de conhecimento técnico até o preconceito com mulheres na liderança de um cafezal.
“A partir do momento em que [os trabalhadores, vizinhos, colegas] perceberam que a gente também está junto com eles, aí a gente conseguiu se conectar na realidade deles. Isso é muito legal, porque hoje, por exemplo, além da gente ser muito respeitada, também é muito bem acolhida. Eles têm a gente como referência”, conta, destacando a satisfação com a qualidade de vida no campo.
Um selo que certifica o protagonismo feminino
As embalagens à venda do “Estrela das Matas” já exibem o selo “Café produzido por mulheres”, desenvolvido pela IWCA Brasil. Segundo Viviane, o selo garante que o produto foi produzido com a participação das mulheres, transmitindo confiança ao consumidor. “Falo que tá na moda dizer que algo é feito por mulher, né? Mas como que a gente passa a confiança que aquele produto realmente é feito por nós? A IWCA, quando fez esse selo, conseguiu certificar isso. Não significa que a mão é só das mulheres ali, é de uma família, mas que a mulher está inserida”, pondera.
A vice-presidente da IWCA Brasil, Dulcineia Prado, explica que o selo é uma conquista que vem sendo construída há anos pelo movimento. Com ele, o consumidor pode conhecer toda a história do produto, desde a lavoura até a prateleira. “Na leitura do QR Code, você tem acesso à origem, à história, ao perfil sensorial do café e a tudo que agrega valor. O que isso traz? Mais confiança e visibilidade para o trabalho das produtoras e credibilidade para o mercado consumidor. Além disso, valorizamos a sustentabilidade que está em cada café especial produzido por nós, mulheres”, afirma.
Para usar o “Café produzido por mulheres”, as produtoras precisam ser sócias ativas da IWCA Brasil. Também acessar a plataforma de rastreabilidade Safe3 e alimentá-la com informações, histórias, fotos, vídeos e dados sobre suas propriedades. Dulcineia pontua que, em um futuro próximo, o selo também incluirá informações sensoriais, como aroma e pontuação dos cafés. E já pode ser aplicado tanto em cafés industrializados quanto em sacas de 30 e 60 quilos.
Iniciativas pelo empoderamento
De acordo com a IWCA Brasil, com base no último Censo Agropecuário do IBGE, mais de 304 mil estabelecimentos rurais se dedicam ao café no país. Cerca de 264 mil são dirigidos por homens e apenas 40 mil são chefiados por mulheres (13,2%). Para ampliar o acesso do público feminino ao setor, a própria indústria tem se movimentado.
O Grupo 3corações, por exemplo, realizou durante a SIC a 8ª edição do Concurso Rituais 85 + Florada Premiada, iniciativa reconhecida pela ONU por seu impacto social. O concurso integra o Projeto Florada, criado em 2018 para valorizar e destacar o trabalho das mulheres cafeicultoras no Brasil. A ação oferece capacitação técnica e profissional e fortalece a conexão entre a produção dessas mulheres e o consumidor final. Todas as vencedoras do Florada Premiada terão seus microlotes de cafés especiais produzidos e comercializados pelo Grupo 3corações, com 100% do lucro retornando para as cafeicultoras.
A edição 2025 recebeu 1.075 inscrições de cafeicultoras e bateu recorde de amostras. Entre os arábicas, o primeiro lugar na categoria via seca, com 94,33 pontos, foi conquistado por Amanda Lacerda, produtora à frente do Sítio Forquilha do Rio, na cidade de Espera Feliz, na Zona da Mata mineira.
Caio Alonso Fontes, CEO da Espresso&CO, afirma que a SIC tem sido uma forte apoiadora do movimento de mulheres na cadeia do café, seja por meio de parcerias com organizações específicas, ações de visibilidade e de capacitação durante a própria feira. “Não só uma vontade, mas a gente exerce realmente esse apoio efetivo nesse trabalho que a IWCA faz, como também outros grupos e o próprio Sebrae. Além disso, existe uma preocupação em ter mulheres representadas nos painéis e eventos da SIC”, enfatiza.
*jornalista viajou a convite da SIC





