O secretário de Saúde do Acre, Pedro Pascoal, participou nesta terça, 11, do painel “Sistema de Saúde nas Mudanças Climáticas: Descarbonização e Saúde Digital”, promovido pelo jornal Folha de São Paulo durante a programação da COP30, em Belém. O debate reuniu gestores, pesquisadores e especialistas para discutir caminhos que tornem os sistemas de saúde mais sustentáveis, resilientes e preparados para os efeitos do aquecimento global.
A presença acreana ganhou destaque por representar uma das regiões mais sensíveis às mudanças climáticas. No encontro, o secretário – que também representou o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), na condição de vice-presidente da região Norte, enfatizou a relevância de iniciativas como o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), parceria entre sete hospitais de referência e o Ministério da Saúde.

“Hoje, 96% da população do Acre depende do SUS. E o Proadi-SUS, com essa participação tripartite (Ministério da Saúde, estados, municípios, Conass e Conasems) permite que cada território traga suas particularidades. É isso que dá condições para desenharmos projetos que atinjam nossas necessidades reais. O meu maior gargalo como gestor é colocar um endócrino, um pediatra ou um neuropediatra em Santa Rosa do Purus, um dos quatro municípios de difícil acesso. Lá, só se chega de avião ou de barco em determinados períodos, porque o rio que alaga tudo vira uma lâmina de água na estiagem. É inviável manter especialistas fixos, sobretudo em municípios pequenos e remotos”, afirmou.
Pascoal destacou que a telemedicina vem mudando essa lógica. “Com a implementação do telessaúde, tanto para assistência direta quanto para capacitações, reduzimos consideravelmente o deslocamento dos nossos profissionais. Aqueles que antes viajavam para ministrar formações, hoje fazem isso de forma remota. Pacientes que precisavam ser enviados para a regional de Cruzeiro do Sul ou para a capital, Rio Branco, agora resolvem parte das demandas no próprio território. Isso desafoga a rede e melhora o acesso e como sempre dizemos: é levar saúde ao paciente, não o contrário. Regionalização e telemedicina são as principais bandeiras do governo do Acre. Assim, reduzimos deslocamentos, ampliamos cuidado e, de quebra, diminuímos emissões”, complementou.
O secretário também apresentou iniciativas acreanas alinhadas à agenda de descarbonização e inovação, como a ampliação do telessaúde, expansão do prontuário eletrônico em unidades estratégicas e o planejamento de ações para reduzir emissões no funcionamento dos hospitais.
“Chegamos ao número de 5,37 quilos de CO₂ evitados por teleinterconsulta. No último triênio, foram mais de 270 mil consultas pelo TeleAMES, com mais de 420 pontos de atendimento espalhados pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Esse resultado faz diferença. E deixo aqui uma provocação: quando vemos 92% a 96% de redução dos encaminhamentos, vale olhar para dentro do sistema de regulação de cada estado e município. Grande parte dos encaminhamentos é desnecessária. A telemedicina faz essa triagem, limpa filas e coloca o paciente certo no lugar certo, na hora certa, com o equipamento necessário para um diagnóstico preciso.”
“Temos a menor demografia médica do país: 1,3 profissional por mil habitantes, 46% abaixo da média nacional. Mesmo assim, estamos avançando. Agora, o desafio é dar continuidade a esse projeto que já mostra resultados e garantir que ele seja incorporado de forma definitiva à saúde digital”, reforçou ao final do painel.

O painel reforçou a resiliência e justiça climática, a relação entre descarbonização e inovação digital e os impactos da crise ambiental no perfil epidemiológico da população brasileira.
Para o Acre, participar da COP representa fortalecer parcerias, acessar conhecimento técnico e consolidar o estado como ator ativo na formulação de políticas climáticas voltadas à saúde. Pascoal destacou que a cooperação entre os estados amazônicos, o Ministério da Saúde e as instituições representativas é essencial para enfrentar impactos já evidentes na região.
O encontro encerrou com o reconhecimento de que sistemas de saúde mais limpos, inteligentes e preparados são indispensáveis para enfrentar a crise climática. E a participação do Acre foi apontada como prova de que, mesmo diante de desafios estruturais, planejamento e inovação seguem abrindo caminhos, mesmo nas áreas mais distantes.




