Os dados mais recentes da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o maior estudo de empreendedorismo do mundo, mostram algo que o Brasil ainda não conseguiu transformar em política pública: o jovem é o motor mais poderoso para a criação de novos negócios quando tem liberdade para empreender por oportunidade, e não por necessidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 24% a 25% dos jovens entre 18 e 34 anos estão envolvidos em empreendimentos de estágio inicial. Lá, a motivação dominante é a oportunidade — enxergar mercados em expansão, aproveitar tecnologias emergentes, resolver problemas reais que podem se transformar em negócios de alto impacto.
No Brasil, porém, o movimento costuma ser o contrário. Grande parte do empreendedorismo jovem ainda nasce da necessidade: falta de renda, informalidade, desemprego e ausência de alternativas. Isso limita a inovação e cria negócios que lutam para sobreviver. A GEM reforça que países onde os jovens empreendem por oportunidade crescem mais rápido, inovam mais e geram empregos de melhor qualidade.
A verdade é simples: a juventude é o período da vida com mais liberdade para assumir riscos. Antes de construir família, o jovem tem menos obrigações financeiras, mais disposição para recomeçar e menos medo do fracasso. E é justamente aí que existe uma enorme vantagem: o jovem tem o direito de errar mais vezes. Um empreendedor de 20 a 30 anos pode quebrar, ajustar, recomeçar, pivotar. Cada tentativa, cada tropeço e cada erro constrói uma casca que mais tarde vira experiência. Aos 35 anos, quem começou cedo já quebrou, já sentiu o peso do erro, já entendeu fluxo de caixa, crédito, custo, pessoas e sabe exatamente onde não deve pisar. É por isso que, mesmo nos Estados Unidos, o auge do empreendedorismo de alto impacto aparece entre os 35 e 45 anos: porque nessa fase o empreendedor combina energia com cicatrizes, ousadia com maturidade.
Enquanto os jovens americanos empreendem porque querem, os brasileiros muitas vezes empreendem porque precisam. A diferença entre esses dois caminhos é a diferença entre criar negócios inovadores e criar negócios de sobrevivência. Se o Brasil quiser destravar seu potencial, precisa permitir que seus jovens ousem, arrisquem e experimentem antes que a vida exija estabilidade — porque estabilidade não combina com crescimento acelerado.
A lição que a GEM deixa é clara: países que oferecem espaço para jovens empreenderem por oportunidade avançam mais rápido. E se existe um período perfeito para tentar, errar, aprender e tentar de novo, ele acontece entre os 20 e os 30 anos. O jovem que aproveita esse ciclo chega aos 35 não apenas mais experiente, mas mais forte, mais preparado e muito mais capaz de liderar negócios que realmente fazem diferença.
E a Cidadania Empreendedora acredita profundamente que o nosso futuro mais feliz e mais justo depende exatamente desse movimento: formar jovens confiantes, preparados e capazes de sonhar grande. Projetos como as Olimpíadas de Educação Financeira e o Som da Vida, que já estão transformando salas de aula no Acre, são sementes poderosas dessa mudança cultural. São iniciativas que ensinam autonomia, inteligência emocional, responsabilidade e visão de futuro — a base sólida para que esses jovens se tornem empreendedores melhores, cidadãos melhores e seres humanos mais completos.
A oportunidade está na juventude. O crescimento nasce da ousadia. O sucesso, das cicatrizes bem vividas.
E a esperança de um Acre mais próspero nasce do compromisso em educar essa nova geração.
Marcello Moura
Presidente da CDL Rio Branco
Líder do Movimento Cidadania Empreendedora
www.cidadaniaempreendedora.com.br
Estudo GEM EUA:
https://www.gemconsortium.org/report/20242025-usa-national-report-national-entrepreneurship-assessment-for-the-united-states-2



