Painel com desenvolvedores discutiu apelos e desafios de incorporar identidade local em jogos eletrônicos
Por Gabriel Zissou, da Agência Collab na Headscon Acre 2025
Produzir alguma coisa, qualquer coisa, significa colocar toda uma história e uma cultura em um objeto ou produto. Com os videogames não é diferente.
Na quarta-feira (19), durante a Headscon Acre 2025, uma conversa reuniu representantes de desenvolvedores de games da Amazônia Legal. O painel juntou nomes influentes do cenário, incluindo Humberto Rodrigues, do estúdio Petit Fabrik, Antônio Guaranys, do Mentorias Games Brasil, Felipe Lobo, CEO do estúdio Flame Seed, Ciro Facundo, da K Games, Raquel Gontijo, da Abragames, Márcio Filho, da ACJogos-RJ, Francisco Moreira, do Mapinguari Studio, e Kethellyn Ma, gestora de economia criativa do Sebrae Acre.
Todos os palestrantes ressaltaram a importância regional amazônica no desenvolvimento de jogos. Mas algumas falas chamaram muito a atenção porque uma palavra-chave foi muito mencionada: “identidade”.
Rodrigues foi morador de Parintins, no Amazonas, cenário que influenciou seu contato com a arte e enriqueceu seu repertório. Desta forma, segundo ele, é difícil separar sua “digital” do que ele faz na indústria de jogos do eixo norte-nordeste. Ainda segundo Humberto, a cultura original e local permite a oportunidade da exportação cultural dos jogos locais para o mundo.
Já Moreira enxerga a miscigenação de povos do Norte e Nordeste como peça fundamental da identidade cultural brasileira. Utilizando sua própria história – ele é filho de amazonenses e cearenses -, ressaltou que a miscigenação possibilita o intercâmbio entre culturas e a expansão de um movimento cultural e original nortista. Segundo ele, “regionalização é levar o seu coração para as outras pessoas”.
Identidade, desde que em um bom jogo
A cultura, seja ela qual for, não pode ignorar a viabilidade comercial do desenvolvimento de um jogo. De nada adianta um game ter alta carga cultural sem ser viável financeiramente, ressaltou Guaranys.
Para ele, “a mistura da importância da abordagem cultural, aliada à abordagem comercial” é o que realmente fará a identidade amazônica se colocar como relevante para o resto do Brasil e para o mundo.
Um jogo que se valha da identidade regional da Amazônia precisa ser feito de forma inteligente. “É necessário que se produzam jogos bons e divertidos para depois refletir a cultura e caráter regional”, disse Márcio Filho.

Marcio Filho, da ACJogos-RJ. Foto: Netto Valdeir, Agência Collab
Esse pensamento fica ainda mais claro com o sucesso recente de Hellclock da desenvolvedora brasiliense Rogue Snail, que se preocupou em fazer um excelente RPG de ação isométrico utilizando o Massacre de Canudos como pano de fundo. O sucesso do jogo se deve não à abordagem de um tema histórico brasileiro, mas sim por ser um excelente jogo indie brasileiro, que repercutiu internacionalmente pela “gameplay” viciante e de altíssima qualidade.
Em complemento à fala de Márcio, Raquel comentou sobre a necessidade, igualmente importante, da identidade pessoal de cada desenvolvedor. Segundo ela, a identidade regional é formada por um coletivo de identidades individuais, que se somam para montar uma ideia geral sobre o que é a identidade amazônica.
Melhores histórias
Kethellyn teve um dos discursos mais assertivos do painel. Ao falar sobre a importância das narrativas nacionais para o mundo, ela questionou os desenvolvedores de jogos que acompanhavam atentos na plateia.
“Quais histórias vocês desejam contar? O que queremos contar quando criamos jogos? Qual Amazônia queremos levar para o mundo?”. E emendou: “Só nós podemos contar a nossa história, ninguém pode contar pela gente. Quem deve se apropriar da nossa cultura somos nós”.
Por fim, Ciro ressaltou aspecto pouco mencionado no cenário de games nacional: a necessidade de criar acesso linguístico aos nossos vizinhos falantes de espanhol.



