Os preços globais do café caíram drasticamente nesta sexta-feira, 21, após os Estados Unidos — maior mercado consumidor da bebida — isentarem das tarifas adicionais de 40% as exportações de café em grão do Brasil, principal produtor e exportador mundial.
Como efeito, os futuros do café na bolsa de Nova York, usada como referência global, encerraram a sessão de hoje em queda de 8,17% para o vencimento de dezembro/25, fechando o dia a US$ 3,73 por libra-peso. Esse é o mais baixo patamar desde o dia 10 de outubro deste ano. Na mínima do dia, a cotação do contrato chegou a US$ 3,54 por libra-peso.
O movimento de baixa também foi verificado na bolsa de Londres, referência para o café robusta. No último pregão desta semana, o vencimento para janeiro/26 registrou baixa de 2,40%, cotado a US$ 4,506 por tonelada métrica.
O analista Gil Barabach, da Safras & Mercado, destaca que o primeiro impacto é baixista porque há no mercado um sentimento de normalidade no fluxo global. Ele relembra que, desde a implantação do tarifaço, o mercado havia mudado o comportamento, com as cotações subindo nas bolsas diante das preocupações com a oferta para o maior consumidor do mundo e agora tende a se reacomodar com uma volta ao cenário usual. “A suspensão das tarifas, associada à rolagem do contrato dezembro/2025 para março/2026, remove incertezas de curto prazo e gera pressão negativa sobre os preços”, avalia o consultor.
Segundo o especialista, diante da conjuntura de fatores: retirada das tarifas pelos EUA, reacomodação do mercado e sinais técnicos observados na bolsa de Nova York, o cenário aponta para uma continuidade da pressão baixista no curto e médio prazos, à medida em que o fluxo global do café retorne a uma dinâmica mais equilibrada e previsível.
Entretanto, o diretor da Pharos consultoria, Haroldo Bonfá, pondera que o ajuste inicial de preços pode ser apenas o primeiro capítulo de um movimento de oscilação nas próximas semanas.
Ele destaca que havia um volume significativo de café ‘represado’ aguardando embarque para os EUA por causa das tarifas, e essa liberação imediata tende a gerar um impacto momentâneo de oferta adicional. “Havia muitos contratos para os EUA que tinham sido postergados. O contrato já existia naquele preço, porém não ocorreu o embarque. Essa primeira vazão vai ser essa, que bastante café, em aspas, estava represado e vão embarcar”, disse.
Ao mesmo tempo, ele salienta, compradores passam a recompor estoques após meses de incerteza, enquanto o comércio volta ao padrão histórico de livre direcionamento de cargas sem penalidades tarifárias.
O especialista reforça ainda que o comportamento dos preços nas próximas semanas dependerá de fatores que vão além da retirada das tarifas. Entre eles:
o balanço real da safra brasileira de arábica 2025, considerada determinante para saber se haverá café suficiente até a colheita de 2026;
o ciclo bianual da safra da Colômbia, que após uma safra robusta tende a ter produção menor em 2026, conforme estimativas
os impactos climáticos no Vietnã, onde chuvas excessivas já afetam tanto a colheita atual quanto o potencial da safra de 2026;
e os gargalos logísticos apontados mensalmente pelo Conselho dos Exportadores de Cafés do Brasil (Cecafé), como: dificuldades de embarque, disponibilidade de contêineres e operações portuárias.
Bonfá ressalta que, mesmo com o retorno da demanda norte-americana ao padrão usual, não é apenas uma questão de preço, mas de disponibilidade. Além disso, ele lembra da provável postergação da lei antidesmatamento da União Europeia, a chamada EUDR, que também deve ter efeito sobre o mercado de café. “Muita gente que ia correr para embarcar café para chegar na Europa antes do final de dezembro, agora, vai tirar o pé do acelerador, dizendo: ‘eu posso ir um pouco mais devagar, porque não vai ter essa colocação’”, observou.



