As negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos para ampliação da lista de itens de exportação isentos das tarifas de 50% — 40% adicionais e 10% recíprocos — geram reações distintas entre setores produtivos.
Enquanto a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) demonstra um “otimismo cauteloso”, impulsionado pela ampliação de produtos incluídos em listas de isenção tarifária — notícia que chegou na última semana —, a indústria de máquinas e equipamentos vive um clima de crescente preocupação diante dos efeitos imediatos e perspectivas futuras.
Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, o momento atual é de otimismo e pessimismo simultâneos. Ele reconhece que as condições para um acordo comercial — antes travadas por fatores políticos e geopolíticos — parecem mais favoráveis. Mas ressalta que isso não resolve o presente. “No nosso setor, não acreditamos em exceções. Somos concorrentes diretos dos norte-americanos e não seremos contemplados em nenhuma medida”, afirmou nesta terça-feira, 25, durante Encontro Empresarial Brasil–Estados Unidos 2025, promovido pela Amcham Brasil.
Os efeitos das tarifas norte-americanas sobre o setor já são mensuráveis. Durante o painel, Velloso lembrou que, em setembro, as exportações de máquinas caíram 13% em relação ao ano anterior. Em outubro, a queda saltou para 42%. De acordo com o dirigente da Abimaq, segmentos como máquinas rodoviárias, que representam boa parte da pauta de exportação, sofreram recuos superiores a 50% mês a mês.
Para Veloso, as tarifas elevadas funcionam como uma espécie de embargo comercial. “Nós estamos esperando uma queda muito maior [nas exportações] agora em novembro. Então, é uma consequência muito grande. Não tem como conviver com essas tarifas”, destacou.
Ele ressalta que a questão que pesa para o setor é o tempo que vai demandar para as negociações entre ambos os governos avançarem. “Acreditamos que começando as negociações, a gente vai ter uma boa resposta. […] O tempo vai demandar, mas não acreditamos em solução de curto prazo”, reiterou.
Otimismo, porém cauteloso
No agronegócio, o cenário tornou-se menos dramático na última semana, quando as exportações de carne bovina e café — com exceção do solúvel — tiveram as tarifas adicionais de 40%, permanecendo a de 10%, embora siga desafiador.
Ao lado do dirigente da Abimaq, a diretora-adjunta da CNA, Fernanda Carneiro, relembrou que, em julho, 24% das exportações do setor estavam em listas de isenção dos EUA. Neste mês, o índice subiu para 55%.
Ainda assim, a CNA adota postura de prudência. “Somos cautelosamente otimistas. […] Precisamos trabalhar para garantir que outros setores não percam espaço no mercado norte-americano”, disse, destacando que apenas 5,5% das exportações do agro hoje se beneficiam de acordos comerciais com os EUA, o que segundo ela, é um número baixo quando comparado a outros países exportadores.
Para alcançar mais espaço nas relações de comércio com os EUA, conforme a diretora-adjunta explicou, a CNA tem atuado principalmente para desconstruir desinformações presentes no processo da Seção 301, que investiga supostas práticas desleais de comércio praticadas pelo Brasil. “Eu lembro que, na Seção 301, havia alguma questão relativa a etanol Índia, e a gente foi levantar os dados. Nós importamos 17 vezes mais etanol dos Estados Unidos do que da Índia. Então, é esse o tipo de informação que a gente tem que trazer para a mesa”, salientou.


