Relatório judicial mostrava que o rapaz tinha esquizofrenia e precisava de internação, mas medida não chegou a ser cumprida antes da fatal invasão ao recinto da leoa.
Um mês antes da morte de Gerson, conhecido como “Vaqueirinho”, o juiz Rodrigo Marques Silva Lima havia determinado sua internação em um Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. A decisão ocorreu após o jovem, diagnosticado com esquizofrenia, quebrar o portão de um centro educativo em João Pessoa, sendo contido pela polícia devido ao comportamento agressivo e ao uso de drogas. O magistrado absolveu impropriamente o rapaz e ordenou o tratamento intensivo, mas a medida nunca foi executada.
Três semanas depois da decisão, Gerson voltou a ser preso por arremessar um paralelepípedo na viatura policial. No entanto, durante audiência de custódia realizada no dia seguinte, a juíza Michelini de Oliveira Dantas Jatobá decidiu pela soltura do jovem. Uma semana depois, ele invadiu a jaula de uma leoa em um parque da capital paraibana e acabou morto pelo animal, episódio que chocou o país.
O jovem, de 19 anos, tinha histórico de transtornos mentais não tratados e já acumulava 16 ocorrências policiais, em sua maioria por dano e furtos simples. Segundo relatos de agentes que lidaram com ele, Gerson repetia com frequência o desejo de viajar à África para “domar leões”, um sonho que carregava desde a infância. O caso reacendeu debates sobre falhas na rede de saúde mental e na execução de medidas de segurança.
A vida de Gerson também foi marcada por abandono e pobreza extrema. A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que o acompanhou durante oito anos, relatou que ele cresceu sem apoio familiar adequado e enfrentou diversas violações de direitos. Filho de mãe com esquizofrenia e criado em condições severas, o jovem fugia constantemente dos abrigos para procurar a família. “Ele sempre dizia que queria cuidar de leões. Era um menino sem oportunidades, sem suporte, sem tratamento”, desabafou.
Para Verônica, a tragédia representou o fim de uma trajetória marcada pelo desamparo. O episódio, segundo ela, escancara a ausência de políticas eficazes de assistência social e de saúde mental. “Ele não tinha discernimento para saber o perigo que estava correndo. Foi uma vida inteira clamando por ajuda”, lamentou a conselheira.




