Na última semana, Muhammad Ibrahim foi oficialmente apresentado como futuro diretor geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). Eleito em novembro, Ibrahim tomará posse dia 15 de janeiro e já prepara a apresentação de um plano de voo para a instituição que deve vigorar até meados de 2030. Nesse sentido, um tema deve ganhar relevância: seguro rural como meio para diminuir o impacto das mudanças climáticas.
O IICA pode ser comparado à Organização dos Estados Americanos (OEA), porém trata apenas de temas relacionados à agropecuária. Ao todo, 34 países das Américas compõem a instituição, que tem sede em San José, na Costa Rica. Assim como outros organismos internacionais, o IICA não tem poder de impor condições ou regras aos países membros, mas tem poder de “convocatória”, ou seja, de convencimento, de influenciar decisões.
Em junho, essa influência deve ter peso novamente. Os ministros da Agricultura dos países membros deverão aprovar o que a instituição chama de Plano de Médio Prazo para 2026-2030. Ali, são apontadas as bases de atuação do IICA durante esse período. É uma espécie de roteiro que o novo diretor-geral terá que seguir.
Em uma das salas do edifício-sede, Ibrahim revela ao Agro Estadão as sugestões que pretende levar aos ministros em meados do próximo ano. Alguns temas, como defesa sanitária vegetal e animal, além dos esforços em direção de uma agricultura digital, já são entendidos como prioritários e devem continuar na trilha que os ministros irão aprovar. Porém, uma das novidades deve ser a temática das mudanças climáticas, precisamente o seguro rural como uma alternativa de apoio a essa condição na agropecuária.
O novo diretor conta que isso é algo que afeta todos os países e o assunto dos seguros agrícolas está tomando mais relevância entre os países das Américas. A intenção é de que o IICA ajude a construir sistemas de seguro rural mais acessíveis aos produtores.
Segundo o novo diretor geral, a ideia ainda está amadurecendo e não há um projeto sobre isso dentro da instituição. Mas uma possibilidade passa por buscar parcerias público-privadas para que o custo seja menor e que atendam uma população de produtores rurais mais afetados. Ibrahim também aposta que a instituição poderá criar ferramentas para ajudar no monitoramento dos riscos.
“Também devemos trabalhar para dar ferramentas para analisar os riscos em cada país para identificar, por exemplo, os riscos, como onde uma seca poderá afetar, a escala do impacto”, destacou à reportagem.
Brasil e as Américas
Ibrahim qualifica o Brasil como uma “potência na produção de alimentos”. Natural da Guiana, vizinha mais ao norte do país, diz que um dos objetivos com relação ao Brasil, nesse período à frente do IICA, é estreitar relações entre os dois países. Mas ele também vê horizonte para uma integração com os países do Caribe, tanto na parte tecnológica quanto no sentido comercial.
“Vejo o Brasil com bons olhos como cooperador, no qual vamos trabalhar em uma cooperação horizontal entre o Caricom [Comunidade do Caribe] e o Brasil, entre a América Central e o Brasil”, ressaltou o novo diretor.
Atualmente, o Brasil tem uma relação comercial de produtos agropecuários com os países do Caricom na casa dos US$ 288,2 milhões, registrados em 2024, conforme dados da plataforma Agrostat, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Os principais produtos exportados em valor foram carne de frango (US$ 57,4 milhões), madeira (US$ 51,8 milhões), carne bovina (US$ 28,4 milhões) e papel (US$ 27,5 milhões).
Na relação com a Guiana, Ibrahim comenta que esteve conversando com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Entre os assuntos, estavam duas questões sanitárias: a mosca-da-carambola e a vassoura-de-bruxa da mandioca. Do lado brasileiro, ambas estão classificadas como emergências fitossanitárias e a expansão delas preocupa no contexto regional.
Além disso, o guianês cita o “milagre do Cerrado” para fazer uma analogia ao que produtores têm conseguido fazer na Guiana. O país está localizado predominantemente na região da Amazônia.
“Guiana avança muito na produção de arroz. Acho que, em termos de práticas, o que podemos intercambiar seria isso, porque nós temos ali solos pobres e produzir alimentos nesses solos é como o milagre do Cerrado”, acrescentou Ibrahim.
*Jornalista viajou a convite do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA)




