A balsa finalmente saiu, mesmo atrasada, e com ela a despedida simbólica da esquerda em Rio Branco, rumo a Manacapuru. O Rio Acre, como sempre, estava em seu pior estado – seco, quase morto, prestes a encalhar. Na beira do rio, Jorge Viana, em uma de suas já rotineiras visões, ligou para Marina Silva. “Marina, tem fumaça aqui na margem”, disse ele, como se estivesse prestes a narrar uma nova tragédia amazônica. Mas o que realmente pegava fogo era o PT, queimado de tal forma que nem Viana, com sua habilidade política, parecia querer se envolver mais. “Melhor ficar na Apex mesmo”, ele murmurou, como quem se despede sem saudade.
Abaixo do manto protetor de Jorge, lá estava Marcus Alexandre, deslizando sorrateiramente em direção à proa da embarcação, com os olhos marejados. “Se não me deixarem ser estadual e longe do PT, vou ter que me aposentar”, sussurrou, a voz baixa como quem sabe que o fim está próximo, enquanto seguia seu caminho na balsa. Muita fumaça, muitos carapanãs, mas poucos votos.
No centro da embarcação, uma mesa azul. Flaviano Melo, exausto, as olheiras denunciando os anos de luta vã. Ao seu lado, Petecão, com seu anão a tiracolo, como sempre. Roberto Duarte, meio encolhido, folheava distraidamente um manifesto comunista – vá entender. Nené Junqueira tentava manter a conversa viva, enquanto Zé Filho chegava com a mesma velha camisa verde e amarela, como se tivesse acabado de sair de um comício. “Pesquisa no zap não resolve muito”, disparou Junqueira para Zé, que pareceu não ouvir, ou talvez simplesmente já estivesse conformado com a situação.
Ao canto, como se quisesse se afastar de toda aquela cena melancólica, Jarude, vestindo sua camisa laranja, observava Duarte. O olhar dizia tudo: “Se ele continuar nessa guinada à esquerda, esses votos vão acabar no meu colo”.
Jéssica Sales, sempre com um pé em Manacapuru e outro em Brasília, mal conseguia entender como foi parar naquela balsa. “Dormi eleita, acordei aqui”, lamentava, sem muita emoção, como quem já acostumou com os altos e baixos de uma carreira confusa. Perto dela, o doutor Jenilson, ainda amargurado com Marcus Alexandre, balançava a cabeça. “Era melhor ter ficado em casa”, resmungava, e talvez ele estivesse certo. Às vezes, o melhor que se pode fazer na política é exatamente isso: ficar em casa.