A conta chegou e a urgência por uma política de contingência de água é inadiável

O Acre, diante de uma calamidade que só faz agravar, vê seus rios secarem, peixes desaparecem e a fome rondar cada vez mais perto. É a conta chegando, implacável, por anos de descaso e ausência de uma política séria e eficaz de um Plano de Contingência para Abastecimento de Água. O nosso Estado enfrenta um cenário desolador: estiagem prolongada, desabastecimento de alimentos e combustíveis no interior, comunidades indígenas e ribeirinhas isoladas, e pequenos agricultores à mercê da própria sorte.

Em Marechal Thaumaturgo, a situação é crítica. Sem água suficiente para a navegação de barcos maiores, o abastecimento só se faz com pequenas canoas, que enfrentam dias de viagem entre Cruzeiro do Sul e o Alto Juruá. No alto Rio Jordão, a situação beira o surreal: em diversos trechos, homens precisam carregar suas canoas nas costas para prosseguir viagem. As imagens dessa realidade brutal não deixam margem para dúvidas: o Acre está à deriva, abandonado por aqueles que deveriam zelar por seu povo.

As terras indígenas não escapam dessa tragédia anunciada. Mais de 10 mil indígenas estão isolados, à beira da fome. Sem peixes nos rios, sem animais para caçar, com as plantações morrendo de sede, a vida dessas comunidades é um testemunho da falência de políticas públicas que nunca existiram. E enquanto isso, os políticos, tão solícitos em tempos de eleição, seguem fazendo promessas vazias, vendendo soluções mágicas para problemas que exigem ação concreta e imediata.

O contraste é chocante: em fevereiro e março, o Acre viveu sua segunda maior enchente desde que as medições começaram, em 1971. Mais de 11 mil pessoas foram forçadas a abandonar suas casas pela fúria das águas do Rio Acre. Agora, menos de um ano depois, a seca extrema coloca o Estado de joelhos, num ciclo cruel que mostra a total falta de preparo e responsabilidade dos nossos governantes.

O que o Acre precisa, urgentemente, é de uma política que não seja mais uma peça de propaganda eleitoral. É preciso que a população acorde para a realidade: sem uma mudança radical na forma como o Estado lida com seus recursos hídricos, a crise que vemos hoje será apenas a primeira de muitas. E, nesse ritmo, a fome e o desespero serão as únicas companhias dos que habitam essa terra esquecida.

Tópicos:

Nossa responsabilidade é muito grande! Cabe-nos concretizar os objetivos para os quais foi criado o jornal Diário do acre