A família do tenente coronel Francisco Miguel de Siqueira

“… o que é ainda mais verdadeiro,é que osmortos sobrevivem enquanto nos podem inspirar boas ações. Para tanto, uma boa medida é organizar sua comemoração, criar lembretes, pontos de atenção, de tal maneira que ela escape aos poderes do esquecimento. Nossas relações têm sempre uma mesma lei: entre os vivos, rupturas muito frequentes e, sobretudo, muito prolongadas não dissipam as amizades? Aniversários piedosamente celebrados, intenções especiais na missa e nas orações privadas e comuns, apelos oportunos à lembrança, quando uma ocasião o favorece, são os meios ordinários de culto”.

“Nossos Mortos”

  1. – D. Sertillanges

Ao obter minha cidadania italiana em 1998 quando residia em Brasília, no Distrito Federal, ocorreu-me a ideia de reunir informações sobre a minha família pelo lado materno. O ancestral de quem eu queria partir, evidentemente, nas circunstâncias, era o italiano Antônio Perazzo, de quem sou bisneto.

Enviei várias correspondências para os parentes que eu achava que tinha ainda informações sobre os mais velhos. A internet, que muito contribui para aproximar as pessoas, não era tão acessível como hoje. Recebi informações de uns poucos parentes, que foram utilíssimas para compaginá-las num livro da minha genealogia pelo lado da minha mãe, Josefa Perazzo Leite.

Publiquei o livro, em parceria com Elisa Perazzo, Sandra Perazzo e Rossini Corrêa, que recebeu o título de “Da Itália Para o Brasil: Os Perazzo em Pernambuco –Ou como se Obter a Cidadania Italiana”. O livro foi publicado em 1999, eu e o professor Rossini Corrêa fomos os editores.

À época eu pouco sabia sobre minha ancestralidade a partir do meu tetra- avô Francisco Miguel de Siqueira. Razão pela qual fiz um tópico na obra que intitulei “OS PEDROZA”. Pedroza é o sobrenome do meu trisavô, casado com a filha de Chico Miguel (Leopoldina Lina de Siqueira), ou seja, o Tenente Francisco Cassimiro de Almeida Pedroza.

Eu desconhecia que minha trisavó Leopoldina Lina de Siqueira era filha de Francisco Miguel de Siqueira. Transcrevo o texto e comento os equívocos que, naquela época, cometi, por não saber discernir as informações que me foram passadas. Eis o texto:

Quando batizou-se, Amélia, esposa de Antônio Perazzo, teve como padrinhos José Januário de Siqueira e Íria Nogueira de Carvalho, chamada de Dona Sinhá, filha do tenente Francisco Cassimiro de Almeida Pedroza – Tenente Pedroza, grande proprietário de terras no município de Afogados da Ingazeira, sobre o qual consta que era um homem de tamanha importância na freguesia, que a missa só tinha início quando ele chegava – e de Dona Leopoldina Lina de Siqueira. Amélia, esposa de Antonio Perazzo, era filha única. Abílio Pedroza era irmão adotivo. O pai de Amélia tinha mais dois irmãos, todos grandes proprietários de terras. Um filho do Major Laurindo Ângelo, irmão do pai de Amélia, tornou-se igualmente latifundiário. Chamava-se Chico Miguel. Meu pai, Walfredo Leite, falava de Chico Miguel como de um vasto senhor territorial, ou seja, de um terrateniente, como dizem os de língua espanhola”.negritamos.

Eis o que, passados mais de 20 (vinte) anos da publicação do livro, posso esclarecer sobre o texto acima.

José Januário de Siqueira, que foi um dos padrinhos da minha bisavó Amélia, era um dos 10 (dez) filhos de Francisco Miguel de Siqueira, e portanto, tio da minha bisavó, que vinha a ser neta do Coronel. Passei muitos anos tentando saber quem era José Januário de Siqueira. Creio que foi o amigo Hesdras Sérvulo Souto de Siqueira Campos de Farias quem espancou a minha dúvida. Meu irmão, Argemiro Perazzo Leite, pelowhatsapp, me deu a informação dos nomes de todos os filhos de meu tetra-avô.

Desconhecia também quem foi a madrinha de batismo de minha bisavó. Não me lembro quando – mas posterior a publicação do livro – descobri que Íria Nogueira de Carvalho foi a esposa do Tenente Coronel Francisco Miguel de Siqueira. Na mensagem que meu irmão Argemiro Perazzo Leite me enviou, acima referida, obtive informações mais precisas sobre minha tetra-avó. Descende da importante estirpe do Coronel Agostinho Nogueira de Carvalho. Creio que a mesma família Carvalho de Flores e Serra Talhada.

Duas pessoas têm o mesmo nome (Agostinho Nogueira de Carvalho). Pai e filho. Tenho dúvidas de quem é o pai de Íria Nogueira de Carvalho. Se o pai ou filho. O pai foi assassinado na cidade de “Flores”. Essa informação (do homicídio) consta do livro do Dr. Leonardo Gominho, sobre a “Revolução Praieira” no Sertão de Pernambuco.

Afirmei que o Tenente Francisco Cassimiro de Almeida Pedroza – meu trisavô – era um grande proprietário de terras no município de Afogados da Ingazeira, e que, ao longo do tempo, sobre ele, se dizia que a Santa Missa só tinha início com sua presença. Que era um grande proprietário, não há dúvida. Porém, essa “lenda” de que a Santa Missa só tinha início com sua presença, está errada. Essa informação consta no “Livro de Tombo” da Ingazeira, mas atribuída a Francisco Miguel de Siqueira, meu tetra avô.

No texto acima transcrito, faço uma confusão, ao tratar Francisco Miguel de Siqueira,  filhodo Major Laurindo Ângelo de Almeida e Silva e de Dona Antônia Nogueira de Brito, como se fosse o avô. Na realidade, o filho desse casal era neto de Francisco Miguel de Siqueira. A mãe, Antônia Nogueira de Brito, era uma das três filhas do Coronel, casada com um dos três sobrinhos dele (Coronel).

Quando meu bisavô (Antonio Perazzo) adquiriu do Major Laurindo Ângelo de Almeida e Silva e de Dona Antônia Nogueira de Brito a fazenda “Riachão”, conforme escritura pública a que já fiz referência em outro artigo, que me foi regalada por Francisco Chaves Perazzo, constatei que foi o filho desse casal (Francisco Migue de Siqueira), quem assinou a rogo por sua mãe (Dona Antônia Nogueira de Brito), por ser analfabeta.

Pelo meu bisavô italiano, Antonio Perazzo – descobri que era analfabeto nessa escritura pública que me regalou seu Perazzo – assinou a rogo seu sogro o Tenente Francisco Cassimiro de Almeida Pedroza, que era irmão do vendedor da fazenda “Riachão”, isto é, irmão do Major Laurindo Ângelo de Almeida e Silva.

Um detalhe importante. O casal Major Laurindo Ângelo de Almeida e Silva e Dona Antônia Nogueira de Brito doou as terras que, desde 1853 pertencem ao Padroeiro São José da cidade da Ingazeira. As terras do patrimônio da Igreja. Francisco Miguel de Siqueira assinou a escritura pública como procurador do Padroeiro. O Frade Capuchinho Caetano de Pessina estava presente ao ato notarial.

Feitas essas considerações relativamente à minha genealogia pelo lado materno, constantes do livro que fiz publicar na data acima, passo agora a fazer algumas considerações sobre as origens familiares de Francisco Miguel de Siqueira e de sua esposa Íria Nogueira de Carvalho.

No livro “As Três Ribeiras”, do Dr. Ulysses Lins de Albuquerque, consta a informação de que ele (Ulysses Lins), descendia do mestre-de-campo Pantaleão Siqueira Barbosa. Outro grande personagem sertanejo que descendia do referido mestre-de-campo, era o político de São José do Egito WalfredoPaulino de Siqueira. Essa informação eu a obtive no livro “Perfil Parlamentar Século XX”, de Walfredo Paulino de  Siqueira, escrito por Ivanildo Sampaio.

Diz Ivanildo Sampaio no livro acima citado: “Narram os fatos que Walfredo Paulino de Siqueira, filho do tabelião José Paulino de Siqueira e de dona Maria Rafael de Siqueira… (…) …tinha nas veias o sangue de Pantaleão de Siqueira Barbosa, velho mestre-de-campo de Ribeira do Moxotó”.  Essa informação pode ser complementada no livro “Pesqueira de 1800”, de Marcelo O. do Nascimento. A Família Siqueira aí (Pesqueira), teve grande papel na formação histórica do município.

Em um outro artigo que escrevi sobre meu tetra avô Francisco Miguel de Siqueira, transcrevi do livro de Tombo da Ingazeira, organizado pelo padre francês Carlos Cottart, a informação de que Chico Miguel vinha de baixo – não se referindo à classe social, mas a sua origem no Moxotó–e que descendia do mestre-de-campo Pantaleão Siqueira Barbosa.

É provável que toda a família Siqueira do Vale do Pajéu, inclusive Francisco Miguel de Siqueira, descenda do português Pantaleão Siqueira Barbosa. Enfim, uma longa pesquisa genealógica a ser feita. Um esforço de pesquisa para genealogistas.

A esposa de Francisco Miguel de Siqueira, dona Íria Nogueira de Carvalho, é também de origem de família aristocrática do Vale do Pajéu. A família Siqueira é uma família aristocrática na região. E não menos aristocrática é a família Carvalho. Ambas de origem portuguesa. 

Não significa vaidade de estirpe. Eram famílias que, pelas oportunidades que tiveram, lhes competiam maiores responsabilidades perante suas comunidades. O pai de Íria, Agostinho Nogueira de Carvalho, conforme consta no livro citado do Dr Leonardo Gominho, foi comandante da Guarda Nacional em Flores, no posto de coronel.

Sobre a tradição da família “Carvalho” em Pernambuco, destaco do livro “Flores, Campos, Barros e Carvalho”, de Maria Stella Barros de Siqueira Campos: “A família Carvalho é conhecida em Portugal, desde o século XII. Em Pernambuco, teve origem nos irmãos Bernardim e Sebastião de Carvalho, chegados à capitania de Pernambuco antes de 1.630, antes dos  holandeses”.

Longa tradição tem a família Carvalho! Tradição que, equivocadamente abandonamos.

A Guarda Nacional era uma elite tradicional análoga à Nobreza. É o que diz Dr. Plínio Correia de Oliveira em seu livro “Nobreza e Elites Tradicionais Análogas”. De forma que, tanto Francisco Miguel de Siqueira (Tenente Coronel da Guarda Nacional), e Íria Nogueira de Carvalho (filha de um Coronel da Guarda Nacional), integravam uma elite tradicional análoga à Nobreza.

Aqui registro um equívoco da família Perazzo optando pelo sobrenome do italiano adventício. Acho que a opção por esse nome de família – abandonando o sobrenome Siqueira e Nogueira de Carvalho), obedeceu a um critério apenas estético. Quem realmente  tinha destacado papel na região (Vale do Pajeú), como elite tradicional análoga à Nobreza, era Francisco Miguel de Siqueira e Íria Nogueira de Carvalho. Esses sobrenomes não poderiam ter sido omitidos em respeito à tradição.

O casal foi injustamente esquecido por seus descendentes.

Da mensagem que meu irmão Argemiro Perazzo Leite me enviou, transcrevo:  “Quando o Tenente-Coronel Francisco Miguel de Siqueira nasceu em 1801, seu pai, Miguel Ferreira de Brito, tinha 51 anos e sua mãe, Antônia da Cunha Siqueira, tinha 15 anos. Ele teve pelo menos 05 (cinco) filhos e 05 (cinco) filhas com Íria Nogueira de Carvalho. Ele faleceu em 28 de maio de 1878, em Ingazeira, Pernambuco, Brasil, com 77 anos, e foi sepultado em Ingazeira, Pernambuco, Brasil”.

Tenente-Coronel Francisco Miguel de Siqueira (1801-1878)

Íria Nogueira de Carvalho (1803-1879)

Filhos:

  1. Agostinho Nogueira de Siqueira (1836-1856)
  2. Francisca Nogueira de Siqueira (1836-1856)
  3. Antônia Nogueira de Carvalho (1840 – …..) – na escritura da venda do Riachão seu nome consta como Antônia Nogueira de Brito
  4. Miguel Torquato de Siqueira Brito (1856 – …..)
  5. José Januário de Siqueira (Padrinho de minha bisavó Amélia)
  6. Leopoldina Lina de Siqueira (minha trisavó). Tenho cópia do seu inventário, cujo inventariante foi meu bisavô o italiano Antonio Perazzo.
  7. Maria Tereza de Jesus
  8. Senhorinha Lúcia de Brito
  9. Severino Mártir de Siqueira Brito (1844-….)
  10. Izidro da Cruz Siqueira (1845-….)

Nós, da família Perazzo, que somos descendentes das famílias Siqueira (Brito) e Nogueira de Carvalho, ao optarmos pelo sobrenome do italiano adventício (Antonio Perazzo), perdemos o parentesco com os 09 (nove) filhos do casal Tenente-Coronel Francisco Miguel de Siqueira e Dona Íria Nogueira de Carvalho e seus descendentes.

Uma grande perda! Seriamos uma grande família, com potencial para fazermos muitas coisas boas pela região do Vale do Pajeú!

A reconstrução do túmulo de Francisco Miguel de Siqueira pode ser o início da jornada para reunificarmos essas duas grandes famílias: Siqueira (Brito) e Nogueira de Carvalho.

Valdir Perazzo Leite

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