Durante décadas, a Argentina foi o retrato mais fiel da autossabotagem econômica: um país que teve tudo, solo fértil, tradição agroexportadora, gente trabalhadora, e resolveu entregar tudo isso a uma máquina estatal insaciável, movida a populismo e promessas vazias.
Desde que Javier Milei chegou à presidência, esse ciclo começou a ser desafiado de forma inédita. Não com slogans, mas com medidas concretas. O governo cortou subsídios, enxugou a máquina pública e iniciou um processo de desregulamentação que parecia impensável poucos anos atrás.
O foco central dessa guinada é o agronegócio, o mesmo setor que sustentou a Argentina quando o Estado decidiu sufocar quase todos os outros. Milei prometeu devolver ao produtor rural o que o Estado lhe roubou: a liberdade de produzir, exportar e investir sem o peso de impostos confiscatórios e controles cambiais absurdos.
Entre as medidas mais simbólicas estão a redução das alíquotas de exportação sobre soja, milho, trigo e carne, e o compromisso de eliminar as famigeradas retenções, um verdadeiro confisco institucionalizado. “O campo argentino voltará a ser o motor do crescimento econômico nacional”, disse Milei. E há motivos para acreditar que ele não está blefando.
Antes mesmo da eleição, já se comentava que a Argentina poderia voltar a ser um dos protagonistas do agro global com Milei. Agora, a julgar pelas primeiras ações, parece estar a meio caminho andado. As associações rurais, como a Sociedade Rural Argentina, já falam em “renascimento econômico”. É um otimismo que não se via há muito tempo em Buenos Aires.
E há uma lição clara aqui para nós, brasileiros.
Enquanto o vizinho liberaliza, o Brasil continua empilhando impostos, regulações, licenças e carimbos que transformam o empreendedor em um réu administrativo. A diferença é que Milei entendeu, como poucos líderes latino-americanos, que o Estado não cria riqueza: ele apenas a drena.
O agro argentino, por décadas, foi vítima do mesmo parasitismo estatal que ameaça setores produtivos em toda a região. Agora, com câmbio livre, menos impostos e previsibilidade, o país volta a disputar espaço real nos mercados globais, inclusive com o Brasil.
Se Milei for bem-sucedido, o impacto não será apenas argentino. Será uma demonstração prática de que menos Estado e mais liberdade econômica ainda são os motores do desenvolvimento. E isso, convenhamos, é o tipo de lição que muita gente por aqui finge não entender.
Para o Brasil, a história oferece um espelho incômodo: enquanto o vizinho desregulamenta, nós seguimos em debates intermináveis sobre “reforma tributária” e “sustentabilidade burocrática.” Mas o campo não espera por discursos. Produz quem é livre.
Milei aposta alto, e o preço político será grande. Mas se conseguir estabilizar a inflação e destravar o potencial produtivo da Argentina, o país pode finalmente voltar ao protagonismo internacional. E, de quebra, obrigar o Brasil a se mexer.
No fim, talvez a principal lição seja essa: a liberdade dá trabalho, mas funciona.