Adrilles Jorge: ‘Tarcísio é o homem bom que se deixa trair por sua ingenuidade’

Tarcísio de Freitas acusado de traição ou ingenuidade. Fico com o segundo. Diante da aprovação açodada de uma reforma tributária que centraliza recursos no governo federal — de esquerda — e penaliza ainda mais municípios que terão que implorar recursos para o deus Estado e para deputados, Tarcísio não só não moveu uma palha para ao menos adiar e estudar a reforma como a endossou e ainda empurrou seu partido a votar em peso nela. Por que? Perguntam os incrédulos. Muitas variantes de respostas possíveis. Arrecadar mais recursos pra São Paulo do governo federal, fazer política de boa vizinhança, se diferenciar de uma direita considerada mais truculenta, se colocar como homem moderado e político do diálogo. 

O problema é que a esquerda não quer dialogar com adversários. Ela tem por premissa eliminar os adversários ou amestrá-los, torná-los dóceis e assépticos, construir uma direita sem fundamentos sólidos e que, de preferência, vote no Lula e no PT, como estes comentaristas da direita liberal limpinha que hoje povoam a cena da grande mídia como uma espécie de direita permitida. A própria Rede Globo, rede lulopetista, já adotou Tarcísio como homem de direita moderada. Gleisi Hoffmann, radical petista, adotou Tarcísio como direita moderada, ou seja, aquela preferencial para perder eleições ou para se adequar ao teatro de tesouras como uma esquerda travestida de direita. 

Outro problema é que ceder espaço a uma reforma tributária que piora a vida de todos os cidadãos brasileiros, arrancando mais dinheiro de quem não tem não compensa em relação a um lucro objetivo para seu Estado, por óbvio. A conta, mesmo para um técnico, não fecha. 

O buraco é mais profundamente em baixo.

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo é um homem bom. Competente para o que se propõe a fazer, dono de uma vasta inteligência, memória extraordinária e capacidade técnica irretocável. Do ponto de vista ideológico, é o que se chama conservador. Cristão, casado, homem de família. Honradíssimo. E humilde. Não há nenhum rasgo de orgulho ou vaidade desmedida em sua personalidade. Mas lhe falta o Tino político, no sentido mais amplo do termo. Suas boas intenções, sua humildade, seu rigor técnico, sua inteligência e mesmo seu conservadorismo não lhe fazem preceder a guerra cultural que justamente ameaça todo o conservadorismo, o cristianismo, os costumes e a cultura que justamente o educaram para se tornar o homem bom que se tornou. Tarcísio parece querer se afastar de toda a direita ideológica que o cerca e o ajudou a eleger. Não se mete em pauta ideológica. Pouco ou quase nada fala a respeito dos exageros do movimento LGBT que, por exemplo, à guisa de combater o preconceito, promove a sexualização precoce de crianças com homens nus dançando à frente de meninos e meninas. Custeia paradas e museus do movimento. Deixa a TV Cultura, patrimônio da Fundação Padre Anchieta, do governo de São Paulo, nas mãos de jornalistas e dirigentes progressistas e esquerdistas que ajudaram a eleger o PT e seguem massacrando diariamente todo o espectro da direita brasileira e justificando a ditadura de toga que persegue, censura e massacra conservadores. 

Por que a omissão e o descaso com a guerra cultural e com a comunicação de massa, perguntarão os críticos. Tarcísio é um militar de espírito positivista, como os que comandaram o país nos anos 1970. Este pessoal não estava nem aí e desprezava o princípio de guerra cultural. Só se interessavam em economia e gestão. Resultado: a esquerda, em plena ditadura militar, tomou todos os espaços culturais do país. Escolas, universidades, museus, classe artística, grande mídia, Judiciário, tudo que direciona e influencia e educa o pensamento humano tem hoje a marca da esquerda, do marxismo cultural identitário. Este aparelhamento total da cultura e das instituições, a despeito de uma maioria de uma população conservadora no país, resultou nesta ditadura subliminar de opinião única que massacra, persegue, censura e prende conservadores no país. Não adianta ter um dirigente técnico que não se importe com cultura que estes dirigentes e influenciadores culturais irão massacrá-lo, anulá-lo, anulando seus próprios princípios. Anularam o próprio presidente Bolsonaro, tornando-o inelegível e o ameaçando de prisão a troco de nada. Estão anulando, com os instrumentos de comunicação de massa, a voz da maioria da população brasileira. 

Há outro aspecto maligno que permeia a cegueira ingênua de Tarcísio. As más companhias. Os ideólogos do oportunismo.  O cacique partidário Gilberto Kassab que talvez sopre no ouvido de Tarcísio, por razões de usar Tarcísio para mais poder político dele, Kassab: “Dialogue com os petistas, se afaste da direita truculenta, não entre em pautas culturais ou ideológicas, seja moderado e você poderá reunir a mídia e as instituições num projeto de Presidência da República”. Daí a ingenuidade de Tarcísio se converte em falsa esperteza. O diálogo e a omissão na prática podem converter Tarcísio numa marionete palatável do próprio lulopetismo e um boneco omisso do marxismo cultural, até mesmo através da própria economia. O que é o arcabouço fiscal somado à reforma tributária senão a tradução viva do dinheiro do povo centralizado no bolso do governo central, um sustentáculo do comunismo? 

Sim, você leu bem: comunismo. Econômico e cultural. Lula disse recentemente que é comunista, que é contra valores como os da família, da religião, do patriotismo e que acha que democracia é relativa, enaltecendo ditadores como o da Venezuela, da Nicarágua e de Cuba, que ele trouxe aqui no Foro de São Paulo, para planejar o total domínio da América Latina. O comunismo sócio-cultural-econômico de Lula quer cooptar todos pelo medo ou pela ingenuidade. O perigo é pegar um homem bom, conservador, cristão e patriota como Tarcísio para boi de piranha. 

A bondade, a técnica, a inteligência lógica não bastam. É preciso sabedoria. O bem só se exerce quando se tem uma visão ampla da realidade. Tarcísio parece estar convencido de que é um homem com esperteza política quando parece estar sendo enganado. Se um homem bom se deixa enganar pelos maus, ele pode vir a fazer o mal crendo estar fazendo o bem. Espero não ser este o destino de Tarcísio, o bom. 

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