Alcides Teixeira, o pioneiro do Brahman no Acre

O sonho de um dia ter seu pedaço de terra para tocar sua própria boiada levou o paulista Alcides Teixeira a trocar o interior de São Paulo pelo Acre. Era o ano de 1976 e a região acreana tinha sido incorporada à fronteira agrícola amazônica por conta da abertura de rodovias de integração e dos incentivos fiscais recebidos do governo. Aos 23 anos, ele deixou a cidade de Presidente Prudente/SP para colonizar o então jovem estado brasileiro, missão dada pelo patrão, Francisco Jacintho da Silveira.

Ao chegar em Rio Branco, percebeu que o desafio seria grande. “A pecuária na região era uma atividade muito pequena, local, o gado não tinha a qualidade que tem hoje. Na época, embarquei de Naviraí, no Mato Grosso do Sul, mil bezerros machos para engordar no Acre, pois aqui não tinha essa disponibilidade de animais. A situação começou a mudar com a chegada de criadores tradicionais de zebu, dentre eles Rubico de Carvalho e José Tavares do Couto, que trouxeram muita genética boa. Como o frete na década de 1970 era muito caro, eles embarcaram somente os melhores animais de seus plantéis para iniciar a pecuária no Acre”, lembra Alcides Teixeira, hoje com 69 anos de idade.

Na lida da pecuária desde muito jovem, puxando boiada na estrada, Alcides viu em seus primeiros anos no Norte do Brasil que teria mais oportunidades por lá. Trabalhou para vários pecuaristas até conseguir comprar propriedades em Rio Branco e formar um rebanho comercial de corte. Anos depois, em 2005, decidiu que era hora de ter seu próprio plantel PO para fornecer touros para a região. “No Acre, ainda não tinha um criatório de Brahman PO, mas sabia que seria uma raça capaz de melhorar o rebanho do estado capaz de melhorar por ser de bom ganho de peso, rústico e de grande qualidade de carcaça. Comprei 34 vacas da Fazenda Querença, em Minas Gerais, e acabei ganhando um touro de presente”, conta o criador, pioneiro da raça Brahman no Acre, proprietário da Fazenda Diamante.

“Eu sabia que a raça seria capaz de melhorar o rebanho do Estado, que ainda não tinha criatório de animais puros“

Os animais desembarcaram em Rio Branco no dia 7 fevereiro de 2007, dando início à marca Brahman do Teixeira. Para aprimorar a genética importada de Minas Gerais, mas de forma que atendesse às particularidades do Acre, o rebanho passou a ser avaliado pelo Programa de Melhoramento Genético das Raças Zebuínas (PMGZ). “Como aqui o pasto é mais alto, por causa do maior volume de chuva, buscamos animais com umbigo mais curto, para evitar o contato com o capim e possíveis traumas no local”, explica Pedro Teixeira, que recebeu do pai a responsabilidade de gerenciar a seleção do gado o PO.

Em função de a pecuária na região ser basicamente extensiva e utilizar em grande escala a monta natural, os aprumos são outra característica valorizada pelo criatório. Ainda são priorizados o perímetro escrotal, a beleza racial do Brahman e as características ligadas à qualidade de carcaça. A produção anual de touros atende tanto a demanda interna da Fazenda Diamante quanto de pecuaristas do Norte e Centro-Oeste do país. Com o mercado pecuário mais aquecido nos últimos anos, o criatório está ampliando a oferta de reprodutores, saindo dos atuais 120 touros para 180 em 2023.

Atualmente, com quatro reprodutores com sêmen disponível em central, o criatório também avalia a qualidade de seus animais em provas como o Programa Nacional de Avaliação de Touros Jovens (PNAT), da ABCZ. “O Acre deixou de ser um grande importador de genética e hoje vende touros para as principais praças de corte. E os leilões virtuais têm contribuído para isso. Antes da pandemia, vendíamos animais para pecuaristas da nossa região. Em 2020, realizamos a primeira edição virtual do nosso evento e registramos vendas para outros três estados, além do Acre, que foram Amazonas, Mato Grosso e Rondônia”, informa Pedro, que prepara para o dia 25 de julho a 11ª edição do Leilão Brahman do Teixeira, que continuará sendo virtual.

Para comportar o aumento da produção de touros, o plantel foi estabilizado em 500 vacas PO em reprodução. No caso das fêmeas, o foco da seleção é na habilidade materna e fertilidade, priorizando um intervalo entre partos mais curto, em torno de 14 meses, em média.

Desde o ano passado, a Fazenda Diamante vem aumentando a pressão de seleção em relação à precocidade. As fêmeas são desafiadas mais cedo, entrando na estação de monta – que começa no mês de janeiro e dura em torno de 100 dias – entre os 16 e 19 meses de idade.

Com isso, a fazenda consegue concentrar o nascimento dos bezerros dessa categoria entre os meses de abril e agosto do ano seguinte, permitindo que elas estejam aptas e emprenharem novamente entre julho e novembro, quando é realizada a estação de monta das vacas. “Para evitarmos que a maior parte do nascimento dos bezerros ocorre no período mais chuvoso do Acre, fazemos a estação de monta das vacas em uma época diferente de outras partes do país”, explica Pedro. ■

Com informações da REVISTA DBO – Foto: Gerson Sobreira, Terrastock.

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