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Alexandre Garcia: Lula indenizado, ataque ao direito de propriedade e troca-troca partidário

Depois de o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol ser condenado a indenizar o ex-presidente Lula, agora tem gente se movimentando para pegar de volta o dinheiro roubado da Petrobras. O Ministério Público Federal retomou mais de R$ 6 bilhões desviados da companhia e agora alguns corruptos querem estornar essa devolução. E é capaz de terem sucesso, porque não se duvida de mais nada. Existe, hoje, uma inversão de valores.

Por sinal, Lula disse, em entrevista, que a ex-presidente Dilma Rousseff ajudaria a campanha dele se não fizesse nada. E que José Dirceu e José Genoino, ex-deputados enrolados até o pescoço no escândalo do mensalão, não vão participar do governo dele. Será que isso é o reconhecimento de alguma coisa?

Lula disse que vai botar gente nova no governo, só que até agora não tem ninguém. O companheiro de chapa dele, por exemplo, deve ser o ex-governador Geraldo Alckmin, que era adversário até o ano passado. E agora todo mundo mudou de ideia: Lula ama o Alckmin e o ex-tucano ama Lula.

Direito de propriedade é sagrado

Em um encontro com sem-terra no Paraná, Lula disse que o MST voltará a ter força em seu governo, assim como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que faz ocupações urbanas. No mesmo evento ouvi um discurso do ex-senador e ex-governador Roberto Requião contra o direito de propriedade.

Só para lembrar: no dia 13 de março de 1964, os discursos contra o direito de propriedade no comício da Central do Brasil, em que estava presente o presidente João Goulart, ajudaram a derrubá-lo depois pelos militares.

O direito de propriedade não é apenas um princípio. Está na Constituição brasileira, junto com o direito à vida. É bom que a gente considere essas coisas antes de sair por aí falando esse tipo de coisa.

Troca-troca partidário

A janela aberta para trocar de partido sem perder mandato está entrando na reta final. O ministro Fábio Faria, das Comunicações, saiu do PSD e assinou ficha de filiação ao PP. É o mesmo partido da ministra Tereza Cristina, que está saindo da Agricultura para ser candidata ao Senado por Mato Grosso do Sul.

O presidente Jair Bolsonaro quer uma bancada forte no Senado. Tanto que convenceu a ministra Damares Alves a voltar atrás na decisão de não sair candidata. Em agenda no Pará, ela anunciou que será sim candidata, provavelmente ao Senado, para pegar o lugar do atual senador Davi Alcolumbre (União Brasil), no Amapá.

Já o ministro Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, que é candidato ao governo de São Paulo, vai se filiar ao Republicanos. O PL, do presidente da República, e o PP são os partidos que mais estão crescendo na janela partidária. O PL já é a primeira bancada da Câmara.

Novo ministro da Agricultura

Já é possível saber quem será o ministro da Agricultura no lugar de Tereza Cristina, para que não haja alteração na continuidade da administração. É o secretário-executivo Marcos Montes Cordeiro, que é ruralista no triângulo mineiro.

Ele tem experiência administrativa como ex-prefeito de Uberaba (MG), experiência política de três mandatos como deputado e foi presidente da Comissão de Agropecuária da Câmara e da Frente Parlamentar Agropecuária.

Censura prévia

Para encerrar quero falar sobre algo muito estranho. Não é nem sobre política, é uma área religiosa, que envolve o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Ele mandou o Telegram monitorar os cem maiores canais do aplicativo com objetivo de fazer censura prévia. E aí ele vai monitorar o canal do padre Paulo Ricardo, que está nas redes sociais desde 2006, falando exclusivamente sobre a religião católica, apostolado, liturgia, novo testamento, direito canônico, etc. Eu sei disso porque acompanho. Nada a ver com política.

Ele está sendo alvo de censura prévia, que é proibida na Constituição, artigo 220º. Além disso, sofre outro tipo de restrição, sobre os direito invioláveis previstos na linha 6 do artigo 5º da Constituição. É uma coisa que me deixa boquiaberto e eu fico me perguntando: será que não tem ninguém no Senado brasileiro para coibir isso?

Por Alexandre Garcia, publicado no jornal Gazeta do Povo em 24 de fevereiro de 2022.

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