Antônio Risério e os identitarismos ideológicos

A posição de Arlindo Veiga dos Santos e da Frente Negra Brasileira

No último dia 15 de janeiro, a Folha de S. Paulo publicou artigo do ensaísta Antônio Risério em que, com o objetivo declarado de combater os identitarismos ideológicos contemporâneos — produto dos problemas sociais, religiosos e psicológicos dos Estados Unidos, exportados para o mundo crescentemente desde 1945 —, o autor permite-se difundir noções gravemente errôneas sobre a Frente Negra Brasileira e, consequentemente, sobre um dos principais pensadores tradicionalistas brasileiros do século XX.

O injustiçado é Arlindo Veiga dos Santos, tachado por Risério de admirador de Hitler. Arlindo Veiga dos Santos foi fundador da Frente Negra Brasileira e da Ação Imperial Patrianovista Brasileira, principal movimento tradicionalista e monárquico brasileiro da década de 1930. Saudado por Francisco Elías de Tejada como expoente do tradicionalismo hispânico, foi poeta, tradutor e doutrinador, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro de diversas academias e institutos culturais.

Compreende-se que, marqueteiro tarimbado em campanhas eleitorais do PT em que teve muito sucesso, Antônio Risério esteja acostumado a exagerar e deformar dados para provocar nos leitores o efeito emocional que pretende. É o que faz ao afirmar que existe, no Brasil, um “racismo antibranco” equivalente ao que seria o “racismo antipreto”, contra o qual se batia Veiga dos Santos na década de 1930.

Risério, na verdade, reproduz acusações que já constavam de seu ensaio A utopia brasileira e os movimentos negros, publicado em 2007, e que, escrito à maneira de manifesto contra os movimentos negros, não traz referências bibliográficas. Nesse livro, apesar de apresentar (sem a devida citação da obra e das páginas) trechos de jornais da FNB que o desmentem — por exemplo: “Nós também, brasileiros, temos raça. Não queremos saber de arianos. Queremos o brasileiro negro e mestiço que nunca traiu nem trairá a Nação”, ob. cit., p. 365)
—, Risério permite-se concluir que os membros da Frente Negra Brasileira e Arlindo Veiga dos Santos eram racistas, fascistas e admiradores de Hitler. Não se fala de “Führer de ébano”, como no artigo publicado na Folha, mas de “Moisés de ébano” (ob. cit., p. 365). Identificando injustamente a Frente Negra Brasileira com o identitarismo racialista importado dos Estados Unidos, Risério permite-se torcer o intuito da importante obra de Veiga dos Santos que, ao invés de ser racista, efetivamente combatia o racismo, que naquele momento se punha de moda em São Paulo, sede e principal núcleo da FNB.

É louvável o empenho de Antônio Risério de defender o lugar do Brasil, país de dimensões continentais, como tradicional exemplo de harmonia social e étnica. Mas é necessário fazê-lo com honestidade intelectual e justiça para com os personagens envolvidos na peça publicitária que se arma, ainda que a campanha tenha as melhores intenções. Arlindo Veiga dos Santos nunca foi fascista, racista ou nazista. Foi um mestre da brasilidade, de suas bases indígenas, africanas e hispânicas, admiravelmente miscigenadas à luz da mensagem universal da Fé Católica.

José Lorêdo Filho é editor da Livraria Resistência Cultural Editora e chanceler do Círculo Monárquico de São Luís.

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