O crescimento nos preços do boi gordo vem sendo impulsionado por fatores internos e externos. Exportações em alta e escalas de abate curtas são as principais forças que impulsionam o mercado, segundo analistas da consultoria Safras & Mercado e da Agrifatto. O ambiente de exportações intensas, sobretudo para a China, tem drenado a oferta doméstica, o que eleva os preços ao longo da cadeia produtiva da carne bovina.
Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, destaca que, mesmo com uma possível desaceleração, o viés de alta permanece para o curto prazo, em função da demanda crescente e do encurtamento das escalas de abate, que estão entre quatro e seis dias úteis, variando conforme o estado.
O mercado do boi gordo segue aquecido e atinge valores históricos, com a arroba do indicador ‘Boi-Cepea’ registrando seu maior preço em 545 dias. Segundo analistas que acompanham o setor diariamente, o valor de R$ 320/@ alcançado no final de outubro consolidou-se como referência em um cenário de alta contínua. A grande questão agora é: os preços devem continuar subindo?
Exportações e Demanda Internacional
A demanda externa aquecida, especialmente da China, sustenta a elevação dos preços da arroba. A China, apesar de aumentar suas compras de carne bovina brasileira, começa a pressionar por preços mais baixos, o que pode impactar os futuros negócios. Atualmente, o dianteiro bovino brasileiro exportado para a China está cotado em US$ 5.200 por tonelada.
Por outro lado, a alta dos preços internos também é afetada pela elevação do dólar, que torna a exportação ainda mais vantajosa para os frigoríficos que operam no mercado externo.
Mercado Atacadista e o Impacto do Consumo Interno
Com a entrada dos salários no início do mês, o consumo de carne tende a aumentar, influenciando os preços no atacado. Entretanto, o elevado custo da carne bovina está levando o consumidor a migrar para proteínas mais acessíveis, como a carne de frango, conforme assinala Iglesias.
Cotações do atacado paulista mostram que o quarto traseiro é comercializado a R$ 23,40/kg, o quarto dianteiro a R$ 18,25/kg e a ponta de agulha a R$ 17,50/kg. Esses valores refletem a alta pressão nos preços, que se estendem da produção à distribuição.
Margens e Capacidade Ociosa no Mercado Interno
Para os frigoríficos voltados ao mercado interno, o cenário é desafiador. As empresas que não operam com exportação enfrentam margens operacionais apertadas, e muitas estão trabalhando com capacidade ociosa. Com escalas de abate encurtadas, esses frigoríficos acabam pagando mais pela arroba do boi gordo, o que pressiona ainda mais o mercado doméstico.
Expectativa para o Futuro
No mercado futuro, há uma expectativa de continuidade do movimento de alta. O contrato para outubro de 2024 foi fechado a R$ 315,30/@, enquanto o contrato para novembro de 2024 já alcança R$ 323,25/@. A demanda, especialmente pela qualidade da carne exportada, indica que o mercado físico deve manter-se em alta, com possibilidade de novos ajustes ao longo de 2024.
Preços por Região e Comparativo
De acordo com o Cepea, todas as regiões acompanhadas têm mostrado forte valorização nos preços da arroba desde o final de agosto. Em São Paulo, o indicador do boi gordo Cepea/B3 e a carcaça casada no atacado paulista tiveram alta acumulada de mais de 15% somente em outubro. Em Minas Gerais, o boi comum e o boi China estão cotados a R$ 305/@ e R$ 315/@, respectivamente. Em Mato Grosso do Sul, o boi China e o boi comum chegam a R$ 320/@.
A escassez de animais terminados, aliada à forte demanda, tem levado a um aumento diferenciado por região, com destaque para o Centro-Norte, que acumulou ganhos entre 44% e 63% desde junho.
Preços da arroba do boi pelas principais praças pecuárias do país:
- São Paulo: R$ 321,00/@
- Goiás: R$ 315,00/@
- Minas Gerais: R$ 319,00/@
- Mato Grosso do Sul: R$ 318,00/@
- Mato Grosso: R$ 308,00/@
Conclusão: A Alta Vai Continuar?
O mercado de carne bovina no Brasil, especialmente o de boi gordo, está diante de uma tendência de alta que parece longe de terminar. A demanda internacional robusta, as limitações na oferta de animais e o cenário cambial favorecem uma valorização constante. Embora haja uma possível desaceleração no consumo interno devido aos preços altos, as exportações devem continuar a impulsionar o setor.
A questão que persiste é se o mercado doméstico conseguirá absorver esses aumentos ou se haverá uma migração ainda mais intensa para proteínas alternativas. Por enquanto, o cenário de alta é o mais provável para o boi gordo no Brasil, com a arroba se firmando como uma referência robusta no agronegócio brasileiro.