O mercado do boi gordo vive um momento de alta tensão e baixa movimentação. De um lado, frigoríficos tentam comprar a preços mais baixos em diversas regiões; de outro, a oferta segue limitada, com pecuaristas segurando lotes devido à recuperação das pastagens e à incerteza internacional. No meio desse impasse, o setor exportador aguarda a decisão mais aguardada do ano: a posição da China sobre a aplicação de salvaguardas — tarifas ou cotas — para a carne bovina brasileira.
Enquanto Pequim mantém silêncio absoluto, o que trava decisões de compra e venda, o mercado interno opera em estabilidade firme, sustentada pelo cenário de oferta controlada e pelas expectativas positivas com a retomada do mercado norte-americano após o fim do “tarifaço” dos EUA, que impunha 40% de imposto adicional sobre a carne brasileira. A seguir, o Compre Rural reúne os principais dados e análises para entender a fotografia atual do mercado.
Estabilidade domina as negociações, mesmo com variações regionais
De acordo com a consultoria Safras & Mercado, o mercado físico apresenta tentativas de compra abaixo da referência em Goiás, Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Pará, enquanto São Paulo registra negócios pontuais acima da média.
Já os dados do Cepea mostram que, apesar de maior movimentação na semana, as negociações ocorreram a preços praticamente estáveis. Em algumas praças houve leve valorização, entre 1% e 4%, enquanto outras registraram queda de até 2%, como Mato Grosso do Sul e Rondônia.
Essa estabilidade nacional também aparece no levantamento diário da Agrifatto, que monitora 17 praças brasileiras:
“Em vários Estados brasileiros, a arroba se mantém perto de R$ 325, demonstrando firmeza mesmo com tentativas de ofertas mais baixas pelas indústrias.”
Escalas de abate confortáveis e oferta controlada
As escalas de abate seguem um dos principais termômetros do momento. Levantamento da Agrifatto mostra:
- Média nacional em 7 dias úteis, sem alteração na semana.
- Goiás, Tocantins, Pará, Paraná e Mato Grosso do Sul ampliaram suas escalas em 1 dia útil, chegando a 8 dias em algumas regiões.
- Rondônia foi na contramão e reduziu a programação para 9 dias, indicando menor oferta.
- Já São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso ficaram estáveis em 7 dias úteis.
A combinação de pastagens em recuperação e expectativas de exportação faz com que produtores evitem vender rapidamente, reforçando a estabilidade.
Estados Unidos “assopram”; China “morde”
A revogação das tarifas adicionais pelos EUA trouxe alívio imediato e aumentou o otimismo no mercado futuro, com expectativa de maior fluxo de exportações para o país norte-americano. Segundo Safras & Mercado, esse fator pode dar fôlego aos preços da arroba em dezembro.
Por outro lado, o risco de salvaguardas chinesas mantém o setor em alerta. A China, que iniciou investigação sobre a carne brasileira em dezembro de 2024, pode anunciar medidas tarifárias a qualquer momento, possivelmente já nesta semana, como lembra a Agrifatto💼.
Essa indefinição trava decisões de compra dos frigoríficos exportadores e gera a sensação de mercado “no compasso da espera”.
Cotações regionais do boi gordo
Médias apuradas (Safras & Mercado):
- São Paulo: R$ 324,92
- Goiás: R$ 316,25
- Minas Gerais: R$ 314,71
- Mato Grosso do Sul: R$ 318,64
- Mato Grosso: R$ 301,65
Faixa de negócios em SP (Cepea): entre R$ 320 e R$ 325.
Cotação média SP pela Agrifatto (21/11):
- Boi gordo (média geral): R$ 322,50/@
- Boi comum: R$ 320/@
- “Boi-China”: R$ 325/@
- Vaca gorda: R$ 302/@
- Novilha: R$ 312/@
Mercado atacadista segue aquecido com 13º salário
A demanda por carne bovina no atacado entrou no período de maior consumo do ano, impulsionada por:
- pagamento do 13º salário;
- aumento de empregos temporários;
- confraternizações de fim de ano.
Com isso, os cortes apresentaram os seguintes valores:
- Traseiro: R$ 26,00/kg
- Dianteiro: R$ 19,50/kg
- Ponta de agulha: R$ 19,00/kg
Câmbio pressiona exportações
O dólar encerrou a sessão com alta de 1,19%, cotado a R$ 5,4010, acumulando valorização de 1,98% na semana — movimento que influencia a competitividade da carne bovina no exterior e a margem das indústrias exportadoras.
Destino incerto, mercado firme
Apesar das dúvidas sobre o maior comprador do Brasil, o cenário atual mostra que:
- a oferta restrita impede quedas bruscas;
- a retomada dos EUA ajuda a sustentar expectativas positivas;
- escalas alongadas indicam conforto operacional dos frigoríficos;
- e a estabilidade nacional gira em torno dos R$ 320 a R$ 325/@.
Enquanto isso, a pergunta que move todo o mercado é:
quando a China vai finalmente “quebrar o silêncio”?
Até lá, o boi gordo segue firme, porém cauteloso — e com o setor inteiro atento ao próximo capítulo dessa novela internacional.




