Com a decisão do presidente Donald Trump de instituir uma taxação de 25% sobre as importações americanas de aço e alumínio, o Brasil deve buscar algum tipo de negociação com os Estados Unidos. É o que avalia o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e também colunista do Agro Estadão, Welber Barral. “Eu não conversei com o governo brasileiro, mas o que os governos de todos os países estão fazendo nesse momento, inclusive do Canadá — que é o mais afetado —, é buscar algum tipo de negociação com os Estados Unidos”, avaliou.
Procurado pela reportagem, o secretário de Comércio e Relações Internacionais (SCRI) do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Luis Rua, disse que “o Brasil sempre estará disponível para os países que queiram fazer negócios. Temos escala, qualidade, sanidade, competitividade e sustentabilidade”, afirmou.
Durante a reunião-almoço da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), nesta terça-feira, 11, em Brasília, o presidente da bancada, deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) interpretou a decisão de Trump como um gesto de “chamar para a mesa de negociação”.
“O Partido Republicano dos EUA tem uma característica de ser muito mais protecionista. Então é natural que haja um protecionismo, assim como todos os países deveriam proteger os seus produtores. Infelizmente aqui [no Brasil] isso não acontece com tanta frequência. Mas [espero] que a gente consiga manter a porta do diálogo aberta”, disse Lupion em coletiva de imprensa.
O professor de Agronegócio Global do INSPER, Marcos Jank, recordou a política comercial protecionista adotada pelos EUA na década de 1930, na qual o país elevou as tarifas de importação para até 60% sobre 20 mil produtos da época. Como consequência, houve retaliação global contra os Estados Unidos.
“O comércio mundial encolheu em dois terços, ou 66%, em função dessa espiral protecionista que foi criada entre 1929 e 1935 e que levou o mundo todo a uma recessão e, depois, à Segunda Guerra Mundial. O que precisamos fazer agora é tentar não deixar essa espiral protecionista se formar”, orientou em entrevista ao Agro Estadão.
A reportagem entrou em contato com as assessorias do Ministério da Fazenda, Itamaraty e Secretaria de Comunicação da Presidência da República, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.
Impactos da taxação para o agro brasileiro
Os EUA são o maior concorrente do Brasil na disputa de mercados internacionais, especialmente por compradores de commodities. Um dos maiores importadores é a China, principal alvo das taxações norte-americanas. “Essas posições mais fortes e incisivas do presidente americano nos abrem oportunidades ótimas para a negociação na Ásia e no Oriente. Mas eles podem chamar a China pra mesa e atrapalhar o jogo para nós”, avalia o presidente da FPA, Pedro Lupion.
“É uma questão de tempo para termos algum tipo de tarifa ou posicionamento diverso do presidente americano. Na última vez que ele fez isso, a relação com o Brasil era outra e ele nos isentou de novas tarifas. Não sei se isso vai acontecer dessa vez”, complementa.
O professor de pós-graduação da Harven Agribusiness School, José Carlos de Lima Júnior, disse à reportagem que a política de taxação no governo Trump é imprevisível, com a possibilidade de novas tarifas sobre importações no futuro, o que pode impactar diretamente os produtos agrícolas brasileiros. No momento, porém, o principal impacto para o agronegócio está no frete marítimo, devido à dificuldade de precificação do real custo do transporte.
“Essa situação é muito parecida com o que ocorreu no primeiro mandato do presidente Trump. O embate comercial que ele criou com a China naquele momento criou a base para que nós tivéssemos o início de uma disparada do frete marítimo”, ressalta.