Caio Abichequer: Lula, o agro e a indústria

Uma pergunta que surge recorrentemente é “por que a indústria e o agronegócio sofrem tanto nos governos de esquerda?”. Um dos muitos motivos tem correlação com os juros no Brasil.

Um dos motivos de o Banco Central não ter conseguido espaço para reduzir os juros é justamente a desconfiança de que o governo atual vá desrespeitar a política fiscal

Se há algo em comum em governos de esquerda é que em algum momento o gasto público vai se tornar descontrolado e, nesse momento, a política monetária terá que buscar estabilidade inflacionária. Isto é, o que teríamos de estabilidade com uma expectativa de política fiscal responsável, acabamos sendo obrigados a ter por meio de uma política contracionista, lançando mão dos juros.

Quando o Banco Central aumenta os juros para apagar o incêndio inflacionário, ele provoca dois fenômenos primordiais. O primeiro deles é a retração no consumo, devido ao aumento no custo de crédito. O segundo é o aumento de ingresso de dólar no país em busca de especulação, com uma taxa de juro real mais favorável.

E onde entram a indústria e o agronegócio? O primeiro ponto é que, ao passo que o real se valoriza, as margens para exportação se comprimem, o que torna mais difícil ainda a competição com concorrentes internacionais, desindustrializando o país e fazendo com que o agro tenha menos investimentos. Além disso, a questão do crédito mais caro também pressiona a margem dos dois setores.

Um dos motivos de o Banco Central não ter conseguido espaço para reduzir os juros é justamente a desconfiança de que o governo atual vá desrespeitar a política fiscal. Apenas para ilustrar a situação, ao considerar a taxa de juros média para os próximos 12 meses e descontar a inflação projetada, chegaremos a um dos maiores juros reais do mundo. Há apenas uma solução para que os juros reais baixem: austeridade.

Será que desta vez vai ser diferente e teremos, com Lula, um governo de esquerda seguindo uma política fiscal austera e dentro do orçamento? Difícil. A não ser que o Congresso pressione por medidas. Uma boa reforma administrativa seria uma delas.

Por Caio Abichequer, sócio da Auroque Investimentos e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

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