O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina, competindo com Estados Unidos e Austrália, por exemplo.
A crescente demanda por carne com qualidade e sustentável tem impulsionado mudanças no setor, especialmente em relação aos selos de certificação de sustentabilidade.
Esses selos são instrumentos para atender o mercado consumidor e aumentar a competitividade brasileira global, uma vez que a tendência é de que a exigência dos compradores aumente nesse sentido.
A pecuária no Brasil
O Brasil possui um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, estimado em 234,35 milhões de cabeças, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2022, a exportação brasileira de carne bovina foi recorde em receita – mais de US$10 bilhões. Os principais compradores foram China e Estados Unidos. Para a China, a cotação média da carne esteve em US$6,42 mil/tonelada, com 99,9% das exportações em carne in natura. Para os Estados Unidos, a cotação média foi de US$5,73 mil/tonelada, com os seguintes tipos de carne: 71,9% industrializada, 26,3% in natura, 1,0% tripas, 0,5% salgada e 0,3% miúdos.
Comparado a 2022, o faturamento com a exportação brasileira de carne bovina em 2023 caiu 17,15%. Contudo, em volume aumentou para aproximadamente 3,1 milhões (figuras 1 e 2).
Figura 1.
Receita (US$) com a exportação de carne bovina in natura.
Figura 2.
Volume (kg) anual de carne bovina in natura exportado.
Sustentabilidade
A sustentabilidade é um fator de discussão na produção de carne bovina e nos últimos anos o debate intensificou-se. A produção de carne bovina é frequentemente associada ao desmatamento e à degradação ambiental, pressionando produtores e exportadores.
Além disso, consumidores internacionais estão mais exigentes quanto a origem e às práticas de produção dos alimentos que consomem, buscando produtos que garantam a preservação ambiental e o bem-estar animal. (Scot consultoria- Carta conjuntura “Consumo de carne X bem-estar animal) < https://www.scotconsultoria.com.br/noticias/cartas/44229/carta-conjuntura-consumo-de-carne-x-bem-estar-animal.htm>; Estudo UNESP “Percepção dos consumidores sobre o bem-estar dos animais de produção”.
Para atender à crescente demanda por produtos sustentáveis, várias certificações foram desenvolvidas.
Os selos de certificação visam assegurar que a produção de carne bovina adote práticas responsáveis e sustentáveis, desde a criação do gado até a distribuição da carne.
Eis alguns deles:
· Carne de baixo carbono (CBC): desenvolvida pelas Embrapa para a diferenciação mercadológica de carnes provenientes de animais cujas emissões de metano foram mitigadas pelo próprio processo produtivo, pela redução na idade do abate, melhoria da dieta dos animais.
· Carne de pasto certificada: é uma certificação criada pela empresa PECBR, que garante ao consumidor carne de qualidade, procedência e padronização. O selo tem gestão da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e já está espalhado pelo território brasileiro.
· Selo de conformidade orgânica: certifica que o produto foi produzido de acordo com as normas da produção orgânica.
· Selo mais integridade: certificação brasileira que reconhece boas práticas de integridade e sustentabilidade.
· Selo de produção animal sustentável: atesta o compromisso com a sustentabilidade, com o meio ambiente e, principalmente, com o respeito à vida animal.
· Selo verde: é uma certificação para produtos, serviços e empresas que produzem de forma sustentável.
· Selo Boi verde: animal advindo de um sistema de criação basicamente em pasto, que pode ser suplementado com alimentos de origem vegetal. Certificado como Grassfed pela AGW: animais alimentados com uma dieta 100% de capim e forragem, criados ao ar livre em pastagens
· Selo Angus de sustentabilidade: esse selo atesta a adoção de boas práticas de sustentabilidade, responsabilidade social, rastreabilidade, sanidade, bem-estar animal e biossegurança em propriedades que utilizam a genética Angus.
· Certificação Brazil Beef Quality: empresa inovadora especializada em classificação e certificação de carnes.
· Certified Humane Brasil: o produtor atende aos padrões de cuidados com animais e os aplica aos animais de fazenda, do nascimento ao abate.
· Selo Fairtrade: adotam uma cadeia produtiva sustentável e com responsabilidade social e econômica.
· Rainforest Alliance: este selo garante que a carne provém de fazendas que minimizam o desmatamento, preservam a biodiversidade e respeitam os direitos dos trabalhadores.
· Carne Carbono Neutro (CCN): promovido pela Embrapa, este selo certifica que a produção de carne compensa as emissões de carbono através de técnicas como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
· Global GAP (Good Agricultural Practices): o Global GAP é uma certificação internacional que assegura boas práticas agrícolas, incluindo a gestão ambiental, bem-estar animal e segurança alimentar.
· Carne Sustentável do Pantanal: esta certificação específica do bioma Pantanal visa promover práticas de pecuária que respeitem a fauna, a flora e as tradições locais, garantindo a sustentabilidade ambiental e social.
Os selos para a produção brasileira
A adoção de selos de certificação de sustentabilidade tem se mostrado uma estratégia vantajosa para os produtores brasileiros, proporcionando acesso a mercados premium e assegurando a competitividade dos produtos no cenário global. Esses selos atendem às crescentes exigências de sustentabilidade do mercado internacional, valorizando a marca e promovendo um diferencial competitivo.
Exemplificando de como as carnes certificadas estão crescendo, podemos citar a carne premium Angus que em 2023, teve um aumento significativo de 68% nas exportações comparando a 2022, mostrando um grande nicho e ótima receptividade de outros países para esse tipo de carne. Para 2024, já foi observada uma perspectiva de crescimento de cerca de 10% mercado interno. (Mundocoop – informação e cooperativismo)
No entanto, há desafios significativos associados à adoção e manutenção desses selos. Entre os desafios atuais estão os custos associados à certificação, que podem ser altos para pequenos e médios produtores. Além disso, a complexidade dos processos de certificação e a necessidade de monitoramento contínuo também podem ser um obstáculo.
O impacto futuro dessa adoção pode ser tanto positivo quanto negativo: enquanto a certificação pode abrir portas para novos mercados e aumentar a valorização do produto, a pressão para atender a padrões cada vez mais rigorosos pode representar um desafio significativo para os produtores, além do aumento dos custos na produção.
Referências:
ABIEC. Exportações. Disponível em: https://www.abiec.com.br/exportacoes/. Acesso em: 11 ago. 2024.
EMBRAPA. A sustentabilidade na cadeia produtiva da pecuária de corte brasileira. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1112915/a-sustentabilidade-na-cadeia-produtiva-da-pecuaria-de-corte-brasileira. Acesso em: 11 ago. 2024.
IBGE. Produção agropecuária. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/. Acesso em: 11 ago. 2024.
COMEX STAT. Disponível em: https://comexstat.mdic.gov.br/pt/comex-vis. Acesso em: 11 ago. 2024.
MUNDO COOP. Cooperativa aponta crescimento do mercado de carnes nobres no Brasil. Disponível em: https://mundocoop.com.br/agronegocio/cooperativa-aponta-crescimento-do-mercado-de-carnes-nobres-no-brasil/ Acesso em: 11 ago. 2024.