Carne bovina: China segue líder nas importações, mas novas plantas devem vir só em 2026

As exportações brasileiras de carne bovina seguem em trajetória de alta, impulsionadas sobretudo pela demanda da China, principal destino do produto. No mês passado, o país asiático respondeu por 39,4% do volume total embarcado, com 107,8 mil toneladas adquiridas — 10% a mais frente a março de 2025 e 6% superior a abril de 2024. Em receita, o volume gerou US$ 530 milhões. 

Segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior, compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), no total, o Brasil exportou 273,4 mil toneladas de carne bovina em abril — uma alta de 10,2% em volume e 13,1% em receita em relação a março de 2025. Frente a abril de 2024, o crescimento foi ainda mais expressivo: 15,3% em volume e 27,6% em valor, com US$ 1,33 bilhão faturados.

Novas habilitações de plantas para a China devem ficar para 2026

Apesar do bom momento nas exportações e da missão do governo brasileiro para a China na próxima semana, novas habilitações de frigoríficos para exportar carne bovina ao país asiático não devem acontecer. 

Segundo o presidente da Abiec, Roberto Perosa, a expectativa é que esse processo só seja retomado no fim deste ano ou no primeiro semestre de 2026, após um período de revisão de protocolos sanitários e da conclusão do processo de salvaguarda imposto pelas autoridades chinesas sobre a carne bovina importada de todos os países. 

Durante coletiva de imprensa da associação nesta quinta-feira, 8, Perosa explicou que esse cenário já era esperado. “A China tem uma cultura de estabelecer anos. No ano passado, houve muitas habilitações de plantas para a China, 38 habilitações de uma só vez. E, neste ano, os chineses disseram que o foco seria mais voltado a frango e suínos, com dedicação à análise de mais plantas nesse sentido”, disse. 

O dirigente salientou, ainda, que, das 28 plantas cujos pedidos de habilitação foram analisados recentemente pela China, todas tiveram documentação devolvida para ajustes. Segundo ele, as empresas estão reformulando os documentos e preparam o reenvio para avaliação futura.

As análises, entretanto, devem ser retomadas somente no último trimestre deste ano. “O processo [de salvaguarda] deve terminar em setembro. Eventualmente, pode ser antecipado por algum fato político, mas o curso natural da coisa é que, no primeiro semestre do ano que vem, a gente tenha retomadas as habilitações de plantas”, destacou.  

Plantas suspensas

Depois de suspender temporariamente três plantas frigoríficas exportadoras há cerca de dois meses, a China ainda não liberou a retomada dos envios de carne bovina ao país. De acordo com o presidente da Abiec, as empresas já tomaram as providências necessárias e enviaram os documentos ao Ministério da Agricultura, que, por sua vez, encaminhou os dados ao governo chinês. 

Agora, aguarda-se a decisão oficial de Pequim sobre a retomada das atividades exportadoras dessas unidades. Entre as plantas suspensas, estão uma unidade da JBS e outra do Frisa, associadas da Abiec. “Isso [a suspensão] é uma coisa que acontece, porque nós temos tantas plantas habilitadas, e sempre tem um problema ou outro. Mas a gente está acompanhando para que possamos ajudá-los a fazer esse levantamento da suspensão o mais breve possível”, salientou. 

Intensificando a presença na China

Em meio a esse cenário, a Abiec anunciou a inauguração de um escritório em Pequim, em parceria com a Associação Brasileira de Proteína Animal e com o apoio da ApexBrasil. Localizada próximo à Embaixada do Brasil na capital chinesa, a unidade segue os planos de internacionalização da Abiec, antecipados no final de 2024 ao Agro Estadão.

O novo espaço funcionará como um centro de apoio técnico e institucional para as indústrias exportadoras, com foco em temas regulatórios, sanitários e de sustentabilidade. Durante a missão do governo brasileiro à China, prevista para a próxima semana, o escritório será formalmente inaugurado, com visitas também às cidades de Nanjing e Hangzhou, no interior do país. “Esse escritório vai dar apoio técnico, apoio logístico aos nossos associados e defender a carne brasileira no seu mercado externo mais importante hoje, que é a China”, pontuou Perosa. 

Além da China, carnes brasileiras ganham mais espaço nos EUA

O crescimento das exportações de carne bovina do Brasil para os Estados Unidos também chama atenção. O país norte-americano foi o segundo maior destino da carne bovina brasileira em abril, com 47,8 mil toneladas embarcadas – aumento de 13,6% em relação a março e 498% em relação a abril de 2024. O avanço expressivo ocorreu mesmo com após o “tarifaço de Trump”, que elevou em 10% a tarifa sobre o produto brasileiro. 

Segundo a Abiec, o produto brasileiro segue competitivo, uma vez que, nos EUA, o consumo de hambúrguer é cultural, mantendo uma demanda elevada por carne de dianteiro — matéria-prima exportada pelo Brasil e essencial para a indústria de processados. “Quando você não tem carne, é preciso buscar socorro de quem tem. E hoje, no mundo, é o Brasil quem tem [carne], com um preço competitivo. Então, os Estados Unidos estão buscando socorro no Brasil. […] A perspectiva é que isso não mudará em médio prazo”, ressaltou. 

Tópicos:

Nossa responsabilidade é muito grande! Cabe-nos concretizar os objetivos para os quais foi criado o jornal Diário do acre