Carne bovina ficará mais barata com ‘vaca louca’ parando venda para China?

A suspensão das vendas de carne bovina do Brasil para a China, a maior compradora do país, devido à investigação sobre um caso de “mal da vaca louca”, deixou em suspense a venda de metade da produção para exportação do país. Para os produtores e frigoríficos, é um momento de perda e um fantasma de 2021, quando as vendas foram paralisadas por três meses e levaram à queda anual de 7% da carne para os chineses. O consumidor brasileiro que espera uma redução dos preços no açougue, já que a exportação diminuirá, também pode se frustrar, segundo analistas do mercado.

“O mercado interno está mais do que abastecido. Quem vende para exportação segurará o boi no pasto, porque ele tem qualidade próprias para ser exportado. O produtor não venderá para o Brasil, porque fez todos os protocolos que custaram caro para exportar. O que haverá é congestionamento, ao não vender em março, e a venda terá um custo maior. Isso será ruim para todo mundo”, destaca o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Antônio de Salvo. Ele pondera, porém, que, se o embargo se arrastar e o preço do arroba do boi cair, o consumidor final poderá perceber uma redução eventualmente.  

O presidente da Faemg acrescenta que os efeitos do embargo respingam no restante da cadeia do agronegócio e não somente na venda de carne. “Tudo é interligado. Quem engorda boi compra bezerro. Se faz bezerro, compra touro reprodutor ou sêmen. Tudo cai”, diz.

Em vez de vender mais para o mercado interno, é provável que os frigoríficos adiem o abate, concorda o coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), Felippe Serigati. “Em 2021 [data do embargo anterior], o ajuste foi da oferta. Os frigoríficos ajustaram sua escala de abate. Para o bolso do brasileiro, a carne bovina continua cara”.

O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi, enfatizou, em entrevista à “CNN” nesta quinta-feira, que “não há justificativa” para que os preços baixem no mercado interno. Ele explicou que, no início do ano, o volume de exportações de carne para a China ainda é relativamente pequeno, portanto a disponibilidade do produto no Brasil não terá um aumento considerável.

Quanto tempo o embargo pode durar?

Este não é o primeiro embargo à exportação de carne bovina para a China devido a casos de “mal da vaca louca” no Brasil. O mais longo, entre 2012 e 2014, durou dois anos, mas também houve episódios de pouco menos de uma semana de suspensão. Ainda é cedo para avaliar por quanto tempo durará a suspensão atual, mas já se pode dizer que o cenário, hoje, tem diferenças em comparação a 2021, explica o coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócios da FGV, Felippe Serigati.

“Em 2021, uma variável importante foi a situação do mercado de carne suína chinesa. Ela aproveitou o evento daqueles foi casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) para tentar elevar os preços de carne suína no mercado chinês e recuperar a margem dos criadores de suínos do país. A situação, no momento, é um pouco diferente e a criação suína chinesa não está com esse problema”, detalha.  

Em 2021, durante o embargo das vendas para a China devido a dois casos de “mal da vaca louca” atípicos, o belo-horizontino não encontrou baixas significativas de preços nos açougues, de acordo com pesquisa do Mercado Mineiro divulgada em novembro daquele ano. Mas, em meio ao embargo, a escalada de preços que vinha ocorrendo nos meses anteriores foi controlada.

O que é a “vaca louca”?

“Mal da vaca louca” é o nome popular dado à Encefalopatia Espongiforme Bovina. A doença degenerativa afeta o sistema nervoso do gado e é provocada pelo acúmulo de um príon (pequena e resistente proteína) no cérebro. Essa  proteína atinge o sistema nervoso central do gado adulto, é transmissível e progride lentamente. 

Até hoje, o Brasil nunca teve casos confirmados da “vaca louca” clássica, que surge devido à ingestão de alimentos contaminados e é fatal para humanos. O risco do país para a doença é considerado insignificante pela Organização Mundial para Saúde Animal (OIE). A suspeita é que o novo caso, identificado no Pará, seja de “vaca louca” atípica, uma variação da doença que não se espalha entre o rebanho ou para humanos e ocorre geralmente de forma espontânea em animais mais velhos, sem relação com sua alimentação.

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