A semana foi marcada pelas notícias sobre a escalada nos preços da carne bovina no varejo norte-americano, que atingiu recordes, afetando os consumidores do país. Entretanto, no médio e longo prazos, os impactos indiretos dessa alta podem chegar também ao Brasil, influenciando dólar, juros e oferta interna, exigindo readequação do agronegócio.
O sócio da Markestrat Group, José Carlos de Lima, lembra que o valor do dólar é baseado na confiança do país emissor, ou seja, ligado à segurança econômica dos EUA, assim como o Real no Brasil. Assim, a relação cambial entre ambas moedas depende das condições econômicas e políticas de cada país.
“Se a inflação nos EUA corroer o poder de compra do norte-americano, o dólar pode se desvalorizar. Por outro lado, se o Real cair mais rápido que o dólar, o câmbio sobe, impactando custos de produção e exportações”, explica Lima. Ele ainda ressalta que fatores políticos, como atritos entre os governos do Brasil e dos EUA, podem intensificar essas variações cambiais.
Além disso, a alta nos preços da carne nos EUA também pode pressionar o Federal Reserve (FED, Banco Central dos EUA) a manter os juros elevados por mais tempo. Atualmente, a taxa no país está na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, visando conter a inflação.
Segundo Lima, esse cenário pode repercutir no Brasil. “Se houver percepção de risco ou insegurança institucional, o Banco Central brasileiro pode precisar elevar a Selic para conter a saída de capital estrangeiro, mais do que para controlar a inflação doméstica”, afirma.
Oferta interna
O especialista explica ainda que a alta dos preços nos EUA pode gerar efeitos diretos na oferta interna brasileira. Com possíveis exportações menores devido às tarifas ou à demanda americana restrita, parte da carne ficaria no mercado doméstico, provocando sobreoferta e queda de preços ao consumidor no curto prazo.
No entanto, se não houver redirecionamento desse volume, com ampliação ou abertura de novos mercados, o cenário pode ser inverso. “Na ausência de abertura de outro mercado comprador ou revisão nas negociações tarifárias, os produtores poderiam diminuir os investimentos na produção, o que levaria a redução na oferta futura, com consequente aumento nos preços ao consumidor”, salienta.
Apesar do café brasileiro também sofrer com as tarifas de 50% dos EUA, e o consumidor norte-americano relatar alta de preço, o especialista esclarece que o impacto reverso é limitado. Isso ocorre, uma vez que o produto pode ser estocado por um longo período, evitando o risco de decomposição, como pode ocorrer à carne caso não seja refrigerada.