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Chico Miguel e o monge Capuchinho (Frei Caetano de Messina)

Durante muito tempo mantive em meus arquivos pessoais uma cópia de uma escritura pública que chegou às minhas mãos não sei por quem. É provável que tenha sido meu irmão Argemiro Perazzo Leite quem me regalou. Não tenho certeza!  Revolvendo meus papéis relativos à família Perazzo e sua origem no Sertão de Pernambuco, um detalhe me chamou a atenção no referido documento.

É uma escritura pública em que meus ancestrais doam as terras hoje pertencentes à cidade de Ingazeira, ao Padroeiro São José. O ato notarial de doação foi feito pelo meu penta avô, Coronel Superior Agostinho Nogueira de Carvalho e outros parentes seus, abaixo nomeados, quando de uma Missão dos Capuchinhos à Vila do Sertão do Pajéu, em meados do Século XIX.

Em artigo anterior que falei da religiosidade de Francisco Miguel de Siqueira (meu tetra avô), e da família de sua esposa Íria Nogueira de Carvalho, transcrevi o conteúdo da escritura pública com o objetivo de tornar indelével esse fato. Pelos mesmos motivos vou repetir.

Diz respeito ao perfil biográfico de Francisco Miguel de Siqueira (virtude da religião), que ao longo do tempo foi sendo relevado, em razão de um comentário infeliz contra sua pessoa inserido no livro de Tombo da Paróquia da Ingazeira, em razão de uma divergência política com o Padre Vasco (Chico Miguel um Legalista Conservador e Amigo do Império do Brasil que lutou contra a Revolta de Quebra – Quilos), e o Padre que a defendia (Revolta de Quebra Quilos).

Ao ato notarial se fizeram presentes meu penta avô Agostinho Nogueira de Carvalho, um genro de Francisco Miguel de Siqueira (João Francisco de Almeida e Silva), e a filha de Francisco Miguel de Siqueira (Maria Lúcia de Brito), e o próprio Francisco Miguel de Siqueira. Este último não compareceu como doador, mas como Procurador do Padroeiro São José, em nome de quem recebia as terras doadas.

Transcrevo a cópia da escritura pública de doação, em seguida falo do detalhe que me chamou a atenção e que me impulsionou para uma pesquisa sobre um personagem que teve grande papel na História Eclesiástica do Brasil.

Segue o texto na íntegra da escritura pública.

“À margem esquerda no livro consta Cópia Patrimônio de São José da Ingazeira.

Escritura de doação de Patrimônio que fazem o Coronel Superior Agostinho Nogueira de Carvalho, João Francisco de Almeida e Silva e sua mulher Maria Lúcia de Britto, ao Patriarcha São José Padroeiro d´esta Villa de Ingazeira em presença do Rvdo Frade Mestre Fr. Caetano de Messina, P. da P. que a isto muito se importou.

Saibam quantos este público instrumento de Escritura de Doação e Patrimonio, ou como melhor nome e lugar haja para sua validade dizer-se passa, que sendo no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Chisto de mil oitocentos e cinquenta e tres, aos vinte e quatro dias do mez de Novembro do dito anno, em meu cartório aparecerão o Commandante superior Agostinho Nogueira de Carvalho, João Francisco de Almeida e Silva e sua mulher Maria Lucia de Britto pessoas que as reconheço e faço as mesmas e dou fé, e por ellas foi dito em minha presença e das testemunhas ao diante nomeadas e abaixo assinadas, que sendo senhores e possuidores de parte de terra na Villa d´Ingazeira, e que estavão livres e desembargadas de todo o termo judicial, e que a possuíam por compra e herança de seus fallecidospaes, em cuja terra na povoação da dita villafarião doação para patrimônio da matriz do Snr São José Padroeiro do dito termo de Ingazeira da maneira seguinte, pegando da parte do norte, da barauna que está a porta da fazenda velha da Ingazeira, cortando para a parte do sul a passar pela parede da Sachristia da Igreja rumo direito de onde se contar trezentas braças e d´ahi para a parte do nascimento, com trinta e sete braças e meia e dahi cortará em rumo certo para o norte passando no oitão da casa do major Antonio Bernardes  pela parte do poente de onde contar-se trezentas braças e d´ahi para o marco da barauna com trinta e sete braças e meia e assim estava extremado o patrimônio do Patriacha São José,  sendo comprehendido n´esta doação sessenta palmos adoados por João Francisco de Almeida e Silva e sua mulher Maria Lucia de Britto e o mais pelo comandante superior Agostinho Nogueira de Carvalho, cuja terra assim extremada doarão e como de fato doado tinhão de hoje para sempre para patrimônio do Patriarcha São José, e por isso podiam tomar posse seus agentes e procuradores por si ou por authoridade de justiça e quer a tomem quer não lhes há por dado como posse real, cível e natural e pela clausula constituinte toda posse e domínio que nellatinhão tudo cedias nas pessoas dos procuradores da Igreja Matriz de São José de cujo Padroeiro fica sendo a dita doação como derão de suas livres  e espontaneas vontades sem constrangimento de pessoa alguma e por isso mandarão os ditos doadores lavrar a presente escritura em que assignaram o Procurador do Patriacha São José o Tenente Coronel  Francisco Miguel de Siqueira e os doadores João Francisco de Almeida e Silva e sua mulher Maria Lucia de Brito e o Coronel Agostinho Nogueira de Carvalho, presentes as testemunhas o professor Marcolino Antonio Xavier e o reverendo  Joaquim Manoel Correa e Silva e eu Jeronymo Ferreira Coelho escrevão o escrevi. (Seguem assignaturas)

Agostinho Nogueira de Carvalho

João Francisco de Almeida e Silva

Maria Lucia de Britto

Pe. Joaquim Manoel Correa e Silva

Francisco Miguel de Siqueira (Procurador do Patrimonio)

Marcolino Antonio de Xavier

Em atestado de verdade, o Jm. JH. PoJeronymo Ferreira Coelho

Conclusão.

Pois bem! O Frade Capuchinho Frei Caetano de Messina estava presente ao ato notarial. Detalhe constante da escritura: “Rvdo Frade Mestre Fr. Caetano de Messina, P. da P. que a isto muito se importou.

Fazia já muito tempo que eu procurava saber informações sobre a biografia desse personagem: Frei Caetano de Messina. Nas minhas férias em Recife, sabendo que se tratava de um “Capuchinho”, cogitei de visitar o Convento dos Capuchinho no bairro do Pina e o Convento dos Capuchinhos de Nossa Senhora da Penha no Recife antigo. Não cumpri o dever que me impus.

Lendo o livro “Flores, Campos, Barros e Carvalho”, de Maria Stella Barros de Siqueira Campos, descobri que o Fr. Caetano de Messina esteve não só em Ingazeira, mas também na cidade de Flores e Triunfo. Com essa informação constante do livro de Maria Stella Barros Siqueira Campos, me aguçou o desejo de obter mais informações sobre o Fr. Frei Caetano de Messina.

Obtive uma cópia de uma dissertação de mestrado em História de autoria de Alexandre Basto Alves Costa, com o seguinte título: “MISSÃO IMPERIAL OITOCENTISTA: Frei Caetano de Messina e os Capuchinhos Italianos no Processo Civilizador em Pernambuco”. Li parcialmente o trabalho de Alexandre.

Nessa obra de Alexandre dei-me conta que o Frei Caetano de Messina teve um grande papel civilizador no Nordeste Brasileiro, especialmente no Sertão de Pernambuco. Sua obra missionária tinha como objetivo catequizar os habitantes dos Sertões, que se pode dizer que a época, eram quase semibárbaros.  Construía cemitérios, Igrejas e pacificava às famílias, desarmando-as.

O Frei Caetano de Messina convenceu meus ancestrais a doar terras para o glorioso São José. A escritura pública diz que ele se empenhou nesse sentido. Várias fontes que li sobre o Frade dizem que era um verdadeiro “Santo”. É inclusive apelidado de “O Anjo do Brasil”. É muito provável que meus ancestrais, que teve esse contato pessoal com o Frade, um verdadeiro homem de Deus, tenha adquirido ainda mais convicções da obra Redentora de Jesus Cristo. Uma conversão em família.

No Blog Tiago Padilha leio que “O processo de beatificação de Frei Caetano de Messina já teve início.  No ano de 2014, o Instituto das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho despertou maior interesse pelo reconhecimento da fama de santidade de Frei Caetano pela Igreja”.

Enfim, nós sertanejos precisamos conhecer mais a biografia de Santos como Frei Caetano de Messina, que contribuiu para o processo civilizatório do Sertão do Pajéu! Uma biografia que precisa ser conhecida nas escolas!

Uma das melhores formas de adquirir virtudes sempre foi lendo a Vida dos Santos!

Viva Frei Caetano de Messina!

Valdir Perazzo Leite

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