Fortemente influenciadas por questões climáticas, as commodities agrícolas registraram valorização ao longo de setembro. Conforme avaliação do consultor da Markestrat Group, Leonardo Marin, além de impactar a produtividade e o início do plantio das principais culturas no Brasil, os efeitos climáticos também afetaram regiões produtoras ao redor do mundo, pressionando as negociações.
“O cenário atual reflete a tentativa do mercado em medir os riscos decorrentes das incertezas climáticas, especialmente devido à falta de chuvas e a postergação do início do plantio da safra de verão no Brasil, além de condições climáticas adversas em outros grandes produtores globais”, explica Marin.
No setor de grãos, a saca de soja valorizou-se 1,7% no mês, sendo comercializada a R$ 141,16 em Paranaguá (PR). Para o milho, a valorização foi de 5,9%, com a saca negociada a R$ 64,30. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e foram analisados pela Markestrat.
Soja e milho também fecharam o nono mês do ano no campo positivo nos mercados futuros. Na Bolsa do Brasil, a B3, o vencimento para novembro do milho (CCMX24) variou 7,4% ao longo de setembro e fechou em R$ 68,90 a saca. No caso da soja, destaque para as negociações na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT). Os contratos futuros da oleaginosa na CBOT – com vencimento em novembro (ZSX24) -, finalizaram o mês a US$ 10,57 por bushel, alta de 4,4% ao longo do mês.
“Embora as variações mais expressivas tenham sido observadas no mercado futuro, o mercado físico foi influenciado pela manutenção da demanda em um período de entressafra no país”, comenta Leonardo Marin.
Açúcar
As queimadas que atingiram as principais regiões canavieiras do país também influenciaram o preço do açúcar cristal, que apresentou uma alta ao longo do mês de 7,8%, com a saca comercializada a R$ 146,32 no último dia de setembro. Em Santos (FOB), o valor foi de R$ 156,46, representando um aumento de 7,5% no decorrer de setembro.
Café
Quanto ao café, tanto o robusta quanto o arábica encerraram o mês de setembro com preços acima de R$ 1.500,00 por saca. O robusta fechou a R$ 1.512,35 a saca, um aumento de 6,65%, enquanto o arábica valorizou-se 4,2%, e foi comercializado a R$ 1.504,98. “Esses aumentos nos preços refletem a queda na produtividade devido às secas no Brasil e à menor produção na Ásia, em um momento de crescente demanda global pela bebida”, explica o especialista da Markestrat.
Pecuária
No setor pecuário, destaque para a arroba do boi gordo, que rompeu a casa dos R$ 270 e encerrou setembro negociada a R$ 274,35 no mercado físico (Cepea), representando uma valorização de 15,6% ao longo do mês e de 8,7% em comparação a agosto.
Conforme análise da Markestrat Group, em um ano, nas médias mensais, a alta acumulada da arroba (até setembro) foi de 20,2%. No mercado futuro da B3, os contratos foram liquidados a R$ 268,45 por arroba.
O especialista explica que a pressão sobre os preços da arroba do boi gordo tem sido impulsionada pela entressafra de “boi de capim”, intensificada e alongada pelas altas temperaturas, baixa umidade e falta de chuvas, que continuam a afetar a qualidade das pastagens e a restringir a oferta de animais terminados para o abate.
“Como resultado, as escalas de abate ficaram curtas nas últimas semanas, o que tem aumentado a concorrência entre frigoríficos por animais, resultando em elevação dos preços da arroba. Enquanto isso, a demanda do mercado externo continuou aquecida no último mês, com médias diárias superiores às de setembro de 2023 até a terceira semana de setembro”, contextualiza Marin. Ele também ressalta a influência da forte demanda interna, que tende a aumentar ainda mais com as festividades de fim de ano.
Já as categorias de reposição não apresentaram uma valorização tão acentuada quanto os animais prontos para o abate. O bezerro registrou uma valorização de 4,3% no mês, cotado a R$ 2.132,36 por cabeça. “Esse cenário tende a se alterar com o início da estação chuvosa e a oferta reduzida de bezerros no próximo ano, devido aos abates históricos de fêmeas e à consequente redução dos plantéis, sinalizando a virada no ciclo pecuário de preços”, projeta Leonardo Marin.