A diversidade genética no Brasil é um dos pilares fundamentais da agropecuária, contribuindo significativamente para a resiliência e sustentabilidade do setor. Com uma das maiores biodiversidades do mundo, o Brasil abriga uma ampla gama de raças de gado, cada uma adaptada a diferentes condições climáticas e de solo. Essa variedade genética é crucial não apenas para a produção de alimentos, mas também para a preservação do patrimônio genético nacional e a adaptação às mudanças climáticas.
Neste artigo do Compre Rural destacamos as raças de gado pouco conhecidas, mas que possuem um enorme potencial para contribuir com a produção de carne, leite e outros derivados, além de melhorar a sustentabilidade das práticas agrícolas no Brasil. Ao explorar essas raças menos tradicionais, buscamos enfatizar a importância de valorizar e conservar a diversidade genética, promovendo práticas que garantam a continuidade e a eficácia da pecuária brasileira.
Gado Caracu
O Gado Caracu é uma raça de bovinos notável por sua pelagem castanha clara, que pode variar de um tom mais claro a marrom intenso. Os machos costumam pesar entre 700 e 900 kg, enquanto as fêmeas variam de 500 a 650 kg. Essa raça é conhecida pela sua docilidade, adaptabilidade e resistência a doenças, sendo especialmente bem adaptada ao clima quente e às pastagens de menor qualidade.
Originário de São Paulo, o Gado Caracu é uma das raças mais antigas do Brasil, surgindo da mistura de bovinos europeus com gados indígenas durante o período colonial. Essa adaptação ao clima tropical e à topografia brasileira permitiu que a raça prosperasse em diversas regiões.
Em termos de potencial produtivo, as fêmeas do Gado Caracu produzem entre 3.000 e 5.000 litros de leite por lactação, com um teor de gordura que varia de 3,5% a 4,5%. Para a produção de carne, o peso da carcaça dos machos geralmente fica entre 350 e 450 kg, com cortes conhecidos por sua maciez e sabor.
Atualmente, a população de Gado Caracu no Brasil é estimada entre 100.000 e 150.000 animais, com concentrações em São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Essa raça contribui com aproximadamente 1,5% da produção total de leite do país, que alcançou 36,4 bilhões de litros em 2022, representando cerca de 546 milhões de litros. Assim, o Gado Caracu se destaca como uma opção promissora para diversificação na pecuária, enfatizando a qualidade e a sustentabilidade.
Gado Pardo Suíço
O Gado Pardo Suíço é uma raça conhecida por sua pelagem marrom claro a escura, e suas fêmeas costumam pesar entre 600 e 700 kg, enquanto os machos podem atingir até 900 kg. Uma de suas particularidades é uma excelente produção de leite, com uma média de lactação variando entre 5.000 e 6.500 litros por ano, sendo considerada um dos melhores produtores entre as raças leiteiras.
Essa raça foi introduzida no Brasil no início do século XX, e sua adaptação ao clima tropical foi facilitada por suas características físicas, como a pele fina e a resistência a doenças. Atualmente, o Pardo Suíço é amplamente criado nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, onde o clima é mais ameno.
Quando comparado a outras raças leiteiras, como o Holandês e o Jersey, o Gado Pardo Suíço apresenta vantagens em relação à qualidade do leite, com um teor de gordura que pode chegar a 4,5%, superando as médias das raças mencionadas.
Crioula Lageana
A Crioula Lageana é uma raça de gado bovino que se destaca por suas características únicas e pela relevância cultural e econômica no Brasil. Originária da região do Sul do país, essa raça é resultado do cruzamento entre diferentes linhagens de bovinos, incluindo as raças Crioula e Nelore, resultando em um animal adaptado ao clima e às condições de pastagem locais.
As fêmeas da Crioula Lageana são conhecidas por sua excelente capacidade de reprodução, com um índice de fertilidade que chega a 90%, e são capazes de produzir entre 1.500 e 3.000 litros de leite por lactação. Além disso, essa raça é valorizada pela qualidade de sua carne, que apresenta boa maciez e sabor, tornando-se uma opção atrativa para o mercado de carnes premium.
Em termos de resistência, a Crioula Lageana é bem adaptada a diferentes tipos de clima e pastagem, mostrando uma boa resistência a doenças e parasitas. Essa adaptabilidade contribui para a sustentabilidade da produção, permitindo que pequenos e médios produtores mantenham a rentabilidade de suas propriedades mesmo em condições desafiadoras.
Indubrasil
O Indubrasil é uma raça zebuína que se destaca pela adaptabilidade e produtividade, resultante do cruzamento de raças indianas, como o Guzerá e o Nelore. Desde o início do século XX, a raça tem sido desenvolvida no Brasil, onde se adaptou perfeitamente ao clima tropical e às condições de pastagem do país. Caracterizada por suas longas orelhas e chifres convergentes, o Indubrasil é facilmente identificável.
Uma das principais características do Indubrasil é sua dupla aptidão, que permite a produção eficiente de carne e leite. Em termos de carne, o Indubrasil é conhecido por seu excelente ganho de peso, podendo atingir um ganho diário de 1,1 a 1,5 kg, dependendo das condições de manejo. A carne do Indubrasil possui boa maciez e sabor, com uma classificação de carne de 2 a 4 na escala de qualidade.
Em relação à produção de leite, as vacas Indubrasil podem produzir entre 1.200 a 3.500 litros por lactação, com uma média de 2.000 litros. O leite apresenta um teor de gordura que varia entre 3,5% e 4,0%, o que é considerado vantajoso para a indústria de laticínios.
Além disso, o Indubrasil é amplamente utilizado em projetos de melhoramento genético, não apenas por sua rusticidade, que lhe confere resistência a doenças e parasitas, mas também pela alta conversão alimentar, estimada em 6 a 8 kg de alimento por kg de ganho de peso. Isso torna a raça uma escolha popular entre os produtores que buscam otimizar a produção em suas propriedades.
Dados recentes indicam que a população de Indubrasil no Brasil é estimada em cerca de 800 mil cabeças, e a demanda por produtos de origem animal tem mostrado crescimento contínuo, refletindo o potencial econômico da raça.
Curraleiro Pé Duro
O Curraleiro Pé Duro é uma raça taurina brasileira que se destaca por sua excepcional capacidade de adaptação às severas condições do sertão nordestino. Originária de bovinos ibéricos, como a Alentejana e a Galega, essa raça sobreviveu a um processo rigoroso de seleção natural, favorecendo os indivíduos mais resistentes e bem adaptados a ambientes adversos.
Uma das principais características do Curraleiro Pé Duro é sua rusticidade, que lhe permite prosperar em regiões áridas, onde outras raças bovinas enfrentariam dificuldades. Esses animais são notáveis por sua capacidade de caminhar longas distâncias em busca de pastagens e fontes de água, adaptando-se facilmente a variações climáticas. Essa habilidade não apenas garante a sobrevivência da raça, mas também torna o Curraleiro Pé Duro uma opção viável para a pecuária em áreas com recursos limitados.
Os bovinos Curraleiro Pé Duro apresentam resistência a doenças e parasitas, o que reduz a necessidade de intervenções veterinárias e tratamentos medicamentosos. Essa resistência é um fator crucial que contribui para a rentabilidade dos criadores, pois diminui os custos operacionais e aumenta a sustentabilidade da produção.
Em termos de produção, o Curraleiro Pé Duro é apreciado tanto pela carne quanto pelo leite. A raça é conhecida por produzir carne de boa qualidade, com características sensoriais que agradam aos consumidores. No que diz respeito à produção de leite, as vacas Curraleiro Pé Duro conseguem produzir entre 1.500 a 2.500 litros por lactação, sendo uma alternativa interessante para os pequenos produtores que buscam diversificar sua atividade.
Com uma população crescente que é estimada em cerca de 200 mil cabeças, o Curraleiro Pé Duro tem se mostrado uma solução viável e sustentável para a pecuária no Brasil, especialmente em regiões onde a escassez de água e pastagem é um desafio constante.
Concluindo, a valorização e a conservação da diversidade genética no Brasil são essenciais para garantir a sustentabilidade e a resiliência do setor agropecuário. As raças menos conhecidas, como o Gado Caracu, Pardo Suíço, Crioula Laiana, Indubrasil e Curraleiro Pé Duro, possuem características únicas que podem contribuir significativamente para a produção de alimentos de forma sustentável.
Investir na pesquisa, desenvolvimento e divulgação dessas raças é fundamental para promover uma pecuária mais diversificada e sustentável, capaz de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e as pressões econômicas. Ao diversificar a produção, os criadores podem aumentar a resiliência de suas propriedades e, ao mesmo tempo, preservar o patrimônio genético brasileiro.