Conheça o cavalo nordestino, um dos mais resistentes do Brasil

A atividade equinocultora desempenha um papel robusto no cenário do agronegócio no Brasil, conforme destacado pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC). Este setor está experimentando um crescimento notável, refletindo a expansão geral do agronegócio no país. Diversas raças de cavalos povoam o território nacional, variando desde animais com origens distantes até aqueles genuinamente brasileiros. Este artigo se concentra na análise do cavalo nordestino, uma linhagem formada no Brasil há mais de quatro séculos.

O cavalo nordestino, também conhecido como cavalo sertanejo, destaca-se por sua notável capacidade de adaptação a uma ampla gama de climas, incluindo regiões de altas temperaturas. Além disso, demonstra resistência em face de condições adversas, como escassez de água e alimentos. Vale a pena explorar sua história fascinante e características singulares. Acompanhe conosco!

Origem do cavalo nordestino

O Cavalo Nordestino, também denominado Cavalo Crioulo Nordestino, bem como Cavalo de Mourão (popularmente conhecido como Mourão), Cavalo Pé Duro Nordestino ou Cavalo Sertanejo do Nordeste, emerge como uma raça de equinos originária da região nordeste do Brasil. Atualmente, a raça enfrenta uma ameaça de extinção, com menos de 500 mil exemplares puros e mistos, devido a deficiências na gestão da preservação, cruzamentos inadequados com outras raças (resultando em mestiços) e à falta de interesse por parte dos criadores nessa linhagem equinos.

Conheça o cavalo nordestino o mais resistente do Brasil
Foto: Divulgação

Os relatos que narram a trajetória do cavalo apontam para sua introdução no Brasil durante o período colonial, trazido pelos portugueses por volta de 1530. Segundo a Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN), a raça tem suas raízes na linhagem Barbo, também conhecida como Bérbere, originalmente utilizada em contextos de batalha.

Com a chegada dos portugueses ao Brasil, durante o período de descobrimento, o cavalo, até então inexistente no território, foi introduzido na América do Sul para servir como meio de locomoção. Na Região Nordeste do Brasil, essa introdução ocorreu em 1549, graças aos esforços de Duarte Coelho, o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco. Ao estabelecer fazendas de gado bovino ao longo do Rio dos Currais (atual Rio São Francisco), ele foi o precursor dessa nova raça.

A origem dessa linhagem equina remonta a diversos animais, incluindo cavalos e garranos que escaparam das mencionadas fazendas, aqueles que foram abandonados e os que resistiram aos ataques indígenas dirigidos às fazendas existentes na região. Esses cavalos, em meio à natureza selvagem do Sertão nordestino, passaram por cruzamentos e aprimoramentos, resultando na criação da primeira raça autóctone de cavalos no Brasil.

Por muitos anos, essa raça desempenhou um papel fundamental como animal de trabalho para os vaqueiros do Sertão nordestino, sendo utilizado para transporte, captura e perseguição de gado, entre outras atividades. Com o quase completo desaparecimento dessa profissão no final do século XX, a raça seguiu um destino semelhante. Hoje, restam apenas alguns exemplares.

O ser vivo em questão destacou-se por sua habilidade em se ajustar às condições climáticas adversas, à escassez de recursos hídricos e alimentares, assim como aos terrenos áridos e pedregosos. Singularmente, é a única linhagem no globo a apresentar inúmeras semelhanças com a raça berbere, outrora utilizada como montaria em conflitos bélicos por turcos e muçulmanos.

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Foto: Divulgação

Famoso Pé duro

Uma característica distintiva reside na ausência de ferraduras, o que lhe confere a alcunha de “pé duro”. Esses animais desempenham suas atividades com notável destreza, sem a necessidade de proteção nos cascos, navegando eficientemente pela caatinga brasileira, um ambiente em que nenhum outro equino prospera, conseguindo percorrer diariamente até 70 km.

A grande maioria dos exemplares dessa raça apresenta uma marcha confortável para o cavaleiro, com membros robustos e músculos bem desenvolvidos. São animais de estatura média, medindo aproximadamente 1,30 metros de garupa e entre 1,45 a 1,55 metros de cernelha.

Ao longo do tempo, devido à introdução de outras raças e a diversos cruzamentos, o cavalo nordestino enfrentou o risco de extinção. Nos últimos 10 anos, tem-se observado esforços voltados para a valorização e preservação dessa linhagem. Embora seja desafiador quantificar, os registros genealógicos têm sido uma forma de documentar a existência da raça.

A Associação Eqüestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN) documentou apenas 16 exemplares no último ano que atendem aos critérios genealógicos estabelecidos para a região do Cariri, no Ceará. Segundo a pesquisadora Patricy de Andrade Salles, a sobrevivência contínua da raça depende das ações dos criadores.

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Foto: Divulgação

É crucial enaltecer o patrimônio genético do cavalo nordestino. Essa atitude representa, no mínimo, um gesto de apreço coletivo por esse ser que, mesmo diante das dificuldades, desempenhou um papel significativo no labor, no deslocamento de indivíduos e mercadorias pelos sertões, além de integrar a história de uma parcela culturalmente rica do Brasil, com suas tradições e folclore.

Características

Esta linhagem equina apresenta uma notável rusticidade, revelando uma adaptação excepcional ao clima semiárido do sertão nordestino. Demonstra uma notável resistência a ambientes áridos e quentes, exibindo uma notável capacidade de se alimentar e subsistir com plantas de baixo valor nutricional e água escassa ou de qualidade duvidosa.

Além de possuir uma estatura reduzida (característica típica dos cavalos curraleiros, exibe uma resistência significativa ao desgaste do casco, não necessitando de ferraduras devido à sua dureza, motivo pelo qual é frequentemente chamado de “pé duro”. A maioria dos exemplares ostenta um passo considerado marchador, uma característica altamente valorizada devido ao conforto que proporciona ao cavaleiro em suas atividades diárias.

Apresentando uma estatura compacta, situando-se entre 1,30m e 1,50m na região do garrote/cernelha, não se classifica, no entanto, como um pônei, conforme os registros da raça.

Características morfológicas

As características morfológicas padrão dessa notável linhagem equina são distintivas e revelam uma adaptação notável ao ambiente. Com um perfil frequentemente reto, por vezes côncavo, os animais exibem um corpo leve, pesando em média de 150kg a 250kg, pernas longas e uma pelagem curta ao longo do ano. A altura, medida ao garrote com hipômetro, varia entre 1,30m e 1,50m em animais adultos. A pelagem mais comum é a castanha, similar às cores do Garrano, mas pode apresentar variações como tordilha (branco), tordilho (conhecido como pedrês, com fundo branco e pintas levemente mais escuras), ou alazã (com pelos avermelhados).

Foto: Divulgação

Além de sua morfologia marcante, o temperamento ativo e dócil desses equinos os torna aptos para uma variedade de atividades, desde o trabalho com gado até esportes e tiro leve. Seus andamentos são geralmente fáceis, rápidos e altos, especialmente em terrenos montanhosos, onde demonstram firmeza e cuidado com pedras e obstáculos. Destaca-se a aptidão natural para a marcha, conhecida como “molliter incedere” ou “numeratim”.

Sua utilidade é versátil, sendo adequados para sela e transporte de carga, com uma habilidade especial para caminhos rurais e perseguição a bovinos, sendo frequentemente utilizados por vaqueiros e carroceiros. A cabeça fina, mas vigorosa e máscula, revela características distintas, incluindo órbitas salientes, olhos redondos e expressivos, largas narinas, orelhas médias e ganachas fortes e musculosas.

A formação anatômica continua com um pescoço bem dirigido e longo, uma cernelha levemente saliente e um dorso reto. O peitoral é amplo, o costado exibe tronco de costelas geralmente planas e verticais, enquanto a garupa é densa, com ancas saídas e largas. A espádua é vertical e curta, e os membros são aprumados, proporcionais e estreitos. Destaca-se a resistência dos cascos cilíndricos, geralmente de cor preta, capazes de percorrer até 70km por dia sem a necessidade de ferraduras.

Diante da importância desse patrimônio genético equino brasileiro, criadores e entusiastas estão se mobilizando para sua recuperação e preservação. Emitindo registros iniciais (RI), incentivando a cruza entre animais puros e divulgando a raça, esses esforços visam atrair interessados, assegurando a continuidade e vitalidade dessa notável linhagem.

A maior parte dos animais encontra-se concentrada na região nordeste do Brasil, onde a preservação é coordenada por três entidades distintas. A Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino (ABCCN), o Núcleo de Preservação e Seleção do Cavalo Nordestino (NPSCN), e a Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN) desempenham papéis essenciais. Elas fornecem orientações aos proprietários e entusiastas da raça, visando a manutenção das qualidades e características originais.

Relacionamento da Raça com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil

A raça recebe reconhecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) do Brasil, com seu padrão submetido à análise e aprovado em 1987. No entanto, essa aprovação não foi suficiente para estabelecer uma criação organizada da raça e atrair maior interesse. Em um documento divulgado em 2016, fundamentado em dados de 2013, o MAPA destaca a necessidade de organizar a raça, estimando um total de 500 mil animais vivos, entre puros e mestiços.

No mesmo documento, o MAPA menciona que a associação responsável pela raça estava inativa há oito anos, sem especificar qual era essa associação. Provavelmente, o documento se refere à Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino (ABCCN), cuja autorização para registros genealógicos foi revogada um ano depois, na Portaria n. 1.537/2017 do MAPA, publicada no Diário Oficial da União em 26/07/2017, Seção 1, página 17. Essa autorização havia sido concedida em 1974. Atualmente, as associações que assumiram, por iniciativa própria, os registros da raça são o Núcleo de Preservação e Seleção do Cavalo Nordestino (NPSCN) e a Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN).

Contudo, aparentemente, a Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino (ABCCN) retomou suas atividades relacionadas ao cavalo nordestino. Isso é evidenciado pelo retorno das postagens em sua página na internet, após um hiato de dois anos (em 2017, havia três postagens, e em 2019, também três postagens). Além disso, sua página pessoal no Instagram está bastante ativa, com frequentes fotos e informações da associação sendo compartilhadas.

Por outro lado, a Associação Equestre e de Preservação do Cavalo Nordestino (AEPCN) parece ter desativado sua página no Facebook, onde costumava fazer postagens regulares sobre o cavalo nordestino.

Motivos para a conservação do cavalo nordestino

Quando se aborda o assunto deste equino, é perceptível um movimento de preservação nas conversas sobre a raça brasileira. A iniciativa dos criadores desses cavalos é reconhecida como uma ação vital e crucial para a salvaguarda desses animais.

De fato, várias associações dedicadas ao tema já foram estabelecidas. A Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Nordestino é um exemplo, promovendo imagens e informações de diversos animais para incentivar a criação e evitar a extinção da raça.

O projeto de preservação e seleção do cavalo nordestino reúne uma série de fotografias e relatos, proporcionando uma compreensão mais profunda dos aspectos históricos da raça. Além disso, são discutidos temas econômicos e zootécnicos, visando à preservação da raça no país.

Por fim, a conservação da raça é encarada como uma preservação cultural da região. O objetivo é realizar a seleção do cavalo, sem cruzamento com outras raças, para manter as características naturais do animal. Isso se dá pelo fato de que o cavalo nordestino é considerado uma parte essencial da preservação histórica da região, além de ser resistente e economicamente viável para a criação.

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